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7/29/2019 A Totalidade e a Ordem Implicada
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DAVID BOHM
A Totalidade e a Ordem Implicada
Traduo MAURO DE CAMPOS SILVA
Reviso Tcnica NEWTON ROBERVAL EICHENBERG
EDITORA CULTRIX
So Paulo
Ttulo do original: Wholeness and the Implicate Order
Copyright David Bohm 1980 Publicado originalmente por Routledge & Kegan Paul Ltd.
7/29/2019 A Totalidade e a Ordem Implicada
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Sumrio
entos 8
Fragmentao e totalidade 19
formas ocidentais e orientais de percepo da
O reomodo - uma experincia com a linguagem e o pensamento 51
o em nossa linguagem 52
odo 69
ossa viso global de mundo 75
ssos 77
a inteligncia 79
amento 87
omo processo 94
ia quntica 100
ico-quntico enquanto estado
oxo de Einstein, Rosen e Podolsky - a indivisibilidade de todos
teoria quntica em termos de variveis ocultas 111
riveis ocultas
Agradecim
Introduo 9
CAPTULO 1 -
Apndice: Resumo da discusso sobre as
totalidade 42
CAPTULO 2 -
1. Introduo 51
2. Uma investiga
3. A forma do reomodo 58
4. A verdade e o fato no reom
5. O reomodo e suas implicaes na n
CAPTULO 3 - A realidade e o conhecimento considerados como proce
1. Introduo 77
2. O pensamento e
3. A coisa e o pensamento 834. O pensamento e o no-pens
5. O campo do conhecimento, considerado c
CAPTULO 4 - Variveis ocultas na teoria quntica 98
1. Os principais aspectos da teoria quntica 98
2. Limitaes impostas ao determinismo pela teor
3. Sobre a interpretao do indeterminismo na teoria quntica 101
4. Argumentos a favor da interpretao do indeterminismo mecn
irredutvel de ausncia de lei 103
5. A soluo de Bohr para o parad
os processos materiais 108
6. Interpretao preliminar da
7. Crticas de nossa interpretao preliminar da teoria quntica em termos de va
116
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8. Avanos em direo a uma teoria mais detalhada das variveis ocultas 121
isenberg 126
r o nvel subquntico 147
ia quntica como indicao de uma nova ordem na fsica 154
159
mo um desenvolvimento a partir da ordem e da medida 164
ntica como indicao de uma nova ordem na fsica 189
a - a lente e o holograma 193
a ordem explicada na lei fsica 210
o e o desdobramento 228
ando a ordem mecanicista na fsica com a ordem implicada 228
da multidimensional 246
9. Tratamento das flutuaes qunticas 124 W. O princpio da incerteza de He
11. A indivisibilidade dos processos qunticos 130
12. Explieao da quantizao da ao 135
13. Discusso sobre experimentos para sonda
14. Concluso 152
CAPTULO 5 - A teor
Parte A: O desenvolvimento de novas ordens, conforme o revela a histria da fsica 154
1. Introduo 154
2. O que ordem?
3. Medida 162
4. A estrutura co
5. Ordem, medida e estrutura na fsica clssica 166
6. A teoria da relatividade 167
7. A teoria quntica 175
CAPTULO 6 - A teoria quParte B:A ordem implicada e a ordem explicada na lei fsica 189
1. Introduo 189
2. Totalidade indivis
3. Ordem implicada e ordem explicada 197
4. O holomovimento e seus aspectos 201
5. A lei no holomovimento 208
Apndice: A ordem implicada e
CAPTULO 7-O proceder do universo e da conscincia: o dobrament
1. Introduo 228
2. Resumo, contrast
3. A ordem implicada e a estrutura geral da matria 236
4. A teoria quntica como indicao de uma ordem implica
5. A cosmologia e a ordem implicada 250
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6. A ordem implicada, a vida e a fora da necessidade global 255
o comum 271
sivo 285
Agradecimentos
permisso em reproduzir material
Introduo
entos") que representam a evoluo
ocupao tem sido
7. A conscincia e a ordem implicada 258
8. A matria, a conscincia e seu fundament
Notas 280
ndice remis
O autor e o editor gostariam de agradecer, pela
protegido por direitos autorais, a The Van Leer Jerusalm Foundation (Captulos 1 e 2 de
Fragmentation and Wholeness, 1976), aos editores de The Academy (Captulo 3 de The
Academy, vol. 19, na 1, fevereiro de 1975), Academic Press Ltd(Captulo 4 de Quantum Theory
Radiation and High Energy Physics, parte 3, editado por D. R. Bates, 1962), e Plenum
Publishing Corporation(Captulos 5 e 6 de Foundations of Physics, vol. 1, ns 4, 1971, pp. 359-81
e vol. 3, na 2, 1973, pp.139-68).
Este livro uma coleo de ensaios (ver "Agradecim
do meu pensamento nos ltimos vinte anos. Talvez seja til uma breve introduo para indicarquais as principais questes que sero discutidas e como esto relacionadas.
Eu diria que, em meu trabalho cientfico e filosfico, minha principal pre
a de entender a natureza da realidade, em geral, e a da conscincia, em particular, como um todo
coerente, o qual nunca esttico ou completo, mas um processo infindvel de movimento e
desdobramento. Assim, quando olho para trs, vejo que mesmo quando criana, fascinava-me o
enigma, na verdade o mistrio, da natureza do movimento. Toda vez que se pensa em alguma
coisa, essa coisa parece ser apreendida como algo esttico, ou ento como uma srie de imagens
estticas. No entanto, na experincia efetiva do movimento, sente-se um processo de fluxo
ininterrupto e indiviso, ao qual se relaciona a srie de imagens estticas no pensamento, como
uma seqncia de fotografias ("paradas") poderiam estar relacionadas realidade de um carro em
movimento. Esta questo, claro, j foi, em sua essncia, levantada filosoficamente h mais de
dois mil anos nos paradoxos de Zeno; mas, at agora, no se pode dizer que teve uma soluo
satisfatria. Alm disso, h a questo do que a relao entre pensamento e realidade. Como
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mostra uma cuidadosa observao, o prprio pensamento encontra-se num processo efetivo de
movimento. Isto quer dizer que se pode sentir, no "fluxo da conscincia", uma sensao de
fluncia diferente daquela que se reconhece no movimento da matria em geral. Desse modo,
ser que o prprio pensamento no faz parte da realidade como um todo? Mas, ento, o que
poderia significar uma parte da realidade "conhecer" outra, e at que ponto isto seria possvel? O
contedo do pensamento nada mais nos d que "instantneos" abstratos e simplificados da
realidade, ou pode ir alm, apreendendo de algum modo a prpria essncia do movimento vivo
que sentimos na experincia efetiva?
Est claro que, ao refletir e ponderar sobre a natureza do movimento, tanto no pensamento
clui nossas
quanto no objeto do pensamento, chega-se inevitavelmente questo da totalidade. A noo de
que aquele que pensa (o Ego) est, pelo menos em princpio, completamente separado, e
independente, da realidade sobre a qual ele pensa, acha-se obviamente assentada com muita
firmeza em toda a nossa tradio. ( evidente que esta noo quase universalmente aceita no
Ocidente, mas no Oriente h uma tendncia geral para neg-la verbal e filosoficamente, ao
mesmo tempo em que tal abordagem permeia a maior parte da vida e da prtica diria, assim
como acontece no Ocidente.) Experincias gerais do tipo acima descrito, juntamente com umagrande dose de conhecimento cientfico moderno sobre a natureza e a funo do crebro como o
local em que ocorre o pensamento, sugerem com muita fora que uma tal diviso no pode ser
mantida de modo consistente. Mas isto nos coloca frente a um desafio muito difcil: Como pensar
coerentemente uma nica, ininterrupta e fluente existncia de fato como um todo, contendo tanto
o pensamento (a conscincia) como a realidade externa conforme a experimentamos?
Evidentemente, isso nos leva a considerar a nossa viso de mundo total, que in
noes gerais acerca da natureza da realidade, juntamente com aquelas que dizem respeito
ordem global do universo, isto , a cosmologia. Para enfrentar esse desafio, nossas noes de
cosmologia e da natureza geral da realidade devem ter espao em si para permitir uma avaliao
consistente da conscincia. Vice-versa, nossas noes de conscincia devem ter espao em si
para entender o que significa ser o seu contedo a "realidade como um todo". Os dois conjuntos
de noes, juntos, devem ser de tal forma a permitir uma compreenso de como a realidade e a
conscincia se relacionam.
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Essas questes, claro, so muito amplas e, de qualquer maneira, talvez nunca sejam
etanto, sempre me pareceu importante haver uma contnua investigao de propostas que
mentais e
ender as
resolvidas por completo e definitivamente.
10
Entr
visem a enfrentar o desafio aqui assinalado. Obviamente, a tendncia que prevalece na cincia
moderna contra um tal empreendimento. Em vez disso, ela dirigida principalmente para
previses tericas relativamente detalhadas e concretas que apresentam pelo menos alguma
promessa de eventuais aplicaes pragmticas. Parece que necessria agora uma explicao
do por que de eu querer ir com tanta veemncia contra a corrente geral predominante.
Ao lado do que sinto ser a importncia intrnseca de questes to funda
profundas, eu chamaria a ateno para o problema geral da fragmentao da conscincia
humana, que discutido no Captulo 1. A proposto que as distines largamente difundidas e
infiltradas entre as pessoas (raa, nao, famlia, profisso, etc., etc.) e que agora impedem a
humanidade de trabalhar em conjunto pelo bem comum, e mesmo pela sobrevivncia, tm como
um dos fatores-chave de sua origem um tipo de pensamento que trata as coisas como sendo
inerentemente divididas, desconectadas e "fracionadas" em partes constituintes ainda menores.Cada parte considerada como essencialmente independente e existente por si mesma.
Quando o homem pensa em si prprio dessa maneira, inevitvel que tenda a def
necessidades de seu prprio "Ego" contra as dos outros; ou, se ele se identificar com um grupo de
pessoas do mesmo tipo, defender esse grupo de um modo semelhante. Ele no consegue
pensar seriamente na humanidade como a realidade bsica, cujas reivindicaes vm em primeiro
lugar. Mesmo que tente levar em considerao as necessidades da humanidade, sua tendncia
v-la como algo separado da natureza, e assim por diante. O que estou propondo aqui que o
modo geral como o homem pensa a totalidade, isto , a sua viso geral do mundo, crucial para a
ordem global da prpria mente humana. Se ele pensar a totalidade como constituda de
fragmentos independentes, ento assim que sua mente tender a operar. Mas, se ele consegue
incluir tudo, coerente e harmoniosamente, num todo global indiviso, ininterrupto e ilimitado (pois
todo limite uma diviso ou ruptura), ento sua mente tender a mover-se de modo semelhante,
e disto incluir uma ao ordenada dentro do todo.
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11
Evidentemente, como j indiquei, nossa viso geral de mundo no o nico fator importante
o de mundo nova e no-
Captulo 2, tratamos do papel da linguagem em efetuar a fragmentao do
um novo
nesse contexto. De fato, deve-se dar ateno a muitos outros fatores, tais como emoes,
atividades fsicas, relaes humanas, organizaes sociais, etc. Mas, talvez, por no termos no
presente nenhuma viso de mundo coerente, h uma tendncia geral a ignorar quase que por
completo a importncia psicolgica e social de tais questes. Minha sugesto que uma viso de
mundo apropriada, adequada para o seu tempo, geralmente aquela dos fatores bsicos
essenciais para a harmonia no indivduo e na sociedade como um todo.
O Captulo 1 mostra que a prpria cincia est exigindo uma vis
fragmentria, no sentido de que a atual abordagem que analisa o mundo em partes
independentemente existentes no funciona muito bem na fsica moderna. Mostra tambm que
tanto na teoria da relatividade como na teoria quntica, noes que impliquem a totalidade indivisa
do universo proporcionariam um modo muito mais ordenado de considerar a natureza geral da
realidade.
No
pensamento. Mostramos que a estrutura sujeito-verbo-objeto das lnguas modernas implica quetoda a ao surge num sujeito separado, atuando ou sobre um objeto separado, ou ento
reflexivamente em si prprio. Esta estrutura difundida conduz, no todo da vida, a uma funo que
divide a totalidade da existncia em entidades separadas, que so consideradas essencialmente
fixas e estticas em sua natureza. Indagamos ento se possvel experimentar com novas formas
de linguagem, onde o papel fundamental ser dado ao verbo, antes que ao substantivo. Tais
formas tero como contedo uma srie de aes que fluem e se fundem umas nas outras, sem
separaes ou rupturas bem definidas. Assim, tanto na forma como no contedo, a linguagem
estar em harmonia com o movimento fluente e ininterrupto da existncia como um todo.
O que se prope aqui no uma nova linguagem como tal, mas, de preferncia,
modo de utilizar a linguagem existente - o reomodo (modo fluente). Desenvolvemos um tal modo
como uma forma de experimentao com a linguagens que pretende principalmente esclarecer a
funo fragmentria da linguagem comum, em vez de fornecer um novo modo de falar que possa
ser utilizado na comunicao prtica.
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No captulo 3, as mesmas questes so consideradas num contexto diferente. Ele comea
s prximos captulos so um tanto mais tcnicos e matemticos. No entanto, grande
is ocultas na teoria quntica. No momento, a teoria
em tambm manifestar-se como ondas, movimentar-se descontinuamente, que no h lei
com uma anlise sobre como a realidade pode ser considerada, em essncia, um conjunto de
formas num movimento ou processo universal subjacente, e ento pergunta como o nosso
conhecimento pode ser apreciado da mesma maneira. Assim, o caminho pode estar aberto para
uma viso de mundo em que a conscincia e a realidade no estariam separadas uma da outra.
Esta questo discutida extensamente e chegamos noo de que nossa viso geral de mundo
, ela prpria, um movimento global de pensamento, que tem de ser vivel no sentido de que a
totalidade das atividades que dela fluem estejam geralmente em harmonia, tanto em si mesmas
quanto em relao ao todo da existncia. Uma tal harmonia considerada possvel somente se a
viso de mundo fizer parte de um processo infindvel de desenvolvimento, evoluo e
desdobramento, que se ajusta como parte do processo universal que o fundamento de toda a
existncia.
Os tr
parte deles deve ser compreensvel para o leitor leigo, uma vez que as partes tcnicas no so
inteiramente necessrias para o entendimento, embora acrescentem um contedo significativo
para aqueles que podem acompanh-las.O Captulo 4 lida com as varive
quntica o meio mais bsico disponvel na fsica para entender as leis fundamentais e universais
relacionadas matria e seu movimento. Como tal, evidente que deve ser seriamente
considerada em qualquer tentativa de desenvolver uma viso de mundo global. A teoria quntica,
conforme atualmente constituda, apresenta-nos um grande desafio, se que estamos de fato
interessados numa tal aventura, pois no h nela qualquer noo consistente do que possa ser a
realidade subjacente constituio e a estrutura universal da matria. Logo, se tentarmos utilizar
viso de mundo predominante, baseada na noo de partculas descobrimos que as "partculas"
(tais como os eltrons)
12
13
pod
nenhuma que se aplique detalhadamente aos movimentos efetivos das partculas individuais, e
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que somente previses estatsticas podem ser feitas sobre grandes agregados dessas partculas.
Se, por outro lado, aplicarmos a viso de mundo em que o universo considerado como um
campo contnuo, descobrimos que este campo tambm deve ser descontnuo, bem como
semelhante a partculas, e que est to solapado em seu comportamento efetivo quanto exigido
na viso, em termos de partculas, da relao como um todo.
Parece claro, ento, que nos defrontamos com uma profunda e radical fragmentao, e
sa espcie de pressuposio de fato est de acordo com o esprito geral de nossa
essidade forte e profunda de algum tipo de noo da realidade em nosso pensamento, mesmo
ada estgio, a ordem apropriada de operao da mente requer
tambm com uma confuso consumada, se tentamos pensar o que poderia ser a realidade tratada
por nossas leis fsicas. Atualmente, os fsicos tendem a evitar essa questo adotando a atitude
segundo a qual as nossas vises globais concernentes natureza da realidade so de pouca ou
nenhuma importncia. Supe-se que tudo o que conta na teoria fsica seja o desenvolvimento de
equaes matemticas que nos permitam prever e controlar o comportamento de grandes
agregados estatsticos de partculas. Essa meta no considerada meramente por sua utilidade
pragmtica e tcnica; mais do que isso, na maioria dos trabalhos em fsica moderna h uma
pressuposio de que esse tipo de previso e de controle tudo do que trata o conhecimento
humano.
Espoca. Mas a minha principal proposta neste livro que no podemos simplesmente prescindir de
uma viso de mundo global. Se tentarmos fazer isso, veremos que acabamos ficando com
quaisquer vises de mundo (geralmente inadequadas) que calhem de estar mais mo. De fato,
descobre-se que os fsicos no so realmente capazes apenas de ocupar-se de clculos com o
objetivo de previso e controle: eles julgam necessrio usar imagens baseadas em algum tipo de
noes gerais sobre a natureza da realidade, tais como "as partculas que so os blocos de
construo do universo"; mas essas imagens agora so altamente confusas (p. ex., essas
partculas movem-se descontinuamente e tambm so ondas). Em resumo, estamos aqui frente a
um exemplo que demonstra a
14
nec
que seja fragmentria e confusa.
Minha sugesto que, a c
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uma apreenso global do que geralmente conhecido, no apenas em termos formais, lgicos,
matemticos, mas tambm como intuio, em imagens, sentimentos, uso potico da linguagem,
etc. (Talvez possamos dizer que isso envolve a harmonia entre o "crebro esquerdo" e o "crebro
direito".) Este modo de pensar global no somente uma fonte frtil de novas idias tericas:
necessrio para que a mente humana funcione de forma harmoniosa, o que, por sua vez, pode
ajudar a tornar possvel uma sociedade ordenada e estvel. Conforme indicado nos captulos
iniciais, porm, isto requer um fluxo e um desenvolvimento contnuos de nossas noes gerais de
realidade.
No Captulo 4, a preocupao dar um incio ao processo de desenvolvimento de uma
uma
o que somos e fazemos (linguagem, pensamento, sentimento, sensao, ao fsica, as
viso coerente do tipo de realidade que poderia ser a base das previses matemticas corretas
efetuadas na teoria quntica. Tais tentativas tm sido geralmente recebidas na comunidade dos
fsicos de um modo um tanto confuso, pois h um sentimento generalizado de que, se deve haver
alguma viso geral de mundo, ela tem de ser entendida como a noo "aceita" e "final" sobre a
natureza da realidade. Mas, desde o comeo, minha atitude tem sido a de que nossas noes
referentes cosmologia e natureza geral da realidade esto em contnuo processo de
desenvolvimento, e que talvez se tenha de iniciar com idias que sejam meramente algo como umaperfeioamento daquilo que at agora se encontra disponvel, e da avanar para idias
melhores. O Captulo 4 apresenta os reais e graves problemas que confrontam qualquer tentativa
de prover uma noo consistente da "realidade quntica mecnica", e indica uma certa
abordagem preliminar para uma soluo desses problemas em termos de variveis ocultas.
No Captulo 5, explora-se uma diferente abordagem dos mesmos problemas. Faz-se
investigao das nossas noes bsicas de ordem. A ordem em sua totalidade , em ltima
anlise, evidentemente indefinvel, no sentido de que permeia
15
tudo
artes, atividade prtica, etc.). Porm, durante sculos, na fsica, a ordem bsica tem sido aquela
da grade retilnea cartesiana (ligeiramente ampliada, na teoria da relatividade, para a grade
curvilnea). Durante esse tempo, a fsica passou por um enorme desenvolvimento, com o
aparecimento de muitos aspectos radicalmente novos, mas a ordem bsica permaneceu
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essencialmente inalterada.
A ordem cartesiana adequada para anlises do mundo em partes existentes
desenvolvimento mais concreto de uma
nrias de espao e tempo, juntamente com aquelas de partculas materiais existentes
discutida
separadamente (por exemplo, partculas ou elementos de campo). Neste captulo, contudo,
examinamos a natureza da ordem com maior generalidade e profundidade, e descobrimos que
tanto na relatividade como na teoria quntica a ordem cartesiana leva srias contradies e
confuses. Isto porque ambas as teorias sugerem que o efetivo estado de coisas a totalidade
ininterrupta do universo, antes que a anlise em partes independentes. No obstante, as duas
teorias diferem radicalmente em suas noes detalhadas de ordem. Assim, na relatividade, o
movimento contnuo, causalmente determinado e bem definido, enquanto que na mecnica
quntica descontnuo, no-causalmente determinado e no bem definido. Cada teoria est
comprometida com suas prprias noes de modos de existncia essencialmente estticos e
fragmentrios (a relatividade com a de eventos separados, conectveis por meio de sinais, e a
mecnica quntica com um estado quntico bem definido). V-se assim a necessidade de um
novo tipo de teoria que abandone esses compromissos bsicos e, no mximo, recupere alguns
aspectos essenciais das antigas teorias enquanto formas abstratas derivadas de uma realidade
mais profunda, onde prevalea a totalidade ininterrupta.No Captulo 6 vamos mais alm para encetar um
nova noo de ordem, que possa adequar-se a um universo de totalidade ininterrupta. Esta a
ordem implicada ou dobrada. Na ordem dobrada, espao e tempo no so mais os fatores
dominantes que determinam as relaes de dependncia ou independncia de diferentes
elementos. Em vez disso, possvel uma espcie completamente diferente de conexo bsica de
elementos, de onde nossas noes
16
ordi
separadamente, so abstradas como formas derivadas da ordem mais profunda. Essas noes
ordinrias de fato aparecem naquilo que chamado de ordem explicada ou desdobrada, que
uma forma especial e distinta contida na totalidade geral de todas as ordens implicadas.
No Captulo 6, a ordem implicada apresentada de um modo geral, e
matematicamente num apndice. O stimo e ltimo captulo, porm, uma apresentao mais
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detalhada (embora no-tcnica) da ordem implicada, incluindo sua relao com a conscincia.
Isso leva a uma indicao de algumas linhas ao longo das quais talvez seja possvel enfrentar o
desafio urgente de se desenvolver uma cosmologia, bem como um conjunto de noes gerais
referentes natureza da realidade que sejam adequadas ao nosso tempo.
Finalmente, espera-se que a apresentao do material destes ensaios possa ajudar a
CAPTULO 1 - Fragmentao e totalidade
cial importncia considerar
em geral so divididos em
viram principalmente para acrescentar
transmitir ao leitor como o prprio assunto efetivamente se desdobrou, de maneira que a forma do
livro seja, por assim dizer, um exemplo do que pode se entender como o seu contedo.
17 e 18
O ttulo deste captulo "Fragmentao e totalidade". de espe
esta questo nos dias de hoje, pois agora a fragmentao ser muito difundida, no apenas por
toda a sociedade, mas tambm em cada indivduo; e isto leva a uma espcie de confuso geral na
mente, criando uma srie interminvel de problemas e interferindo to seriamente com a clareza
da nossa percepo que nos impede de resolver a maior parte deles.
Assim, a arte, a cincia, a tecnologia e o trabalho humano
especialidades, sendo cada uma delas considerada como essencialmente separada das outras.No satisfeitos com esse estado de coisas, os homens propuseram assuntos interdisciplinares
adicionais, com a inteno de unir essas especialidades.
Mas esses novos temas, em ltima anlise, ser
outros fragmentos separados. Portanto, a sociedade como um todo tem-se desenvolvido de forma
tal que se encontra fracionada em naes e em diferentes grupos religiosos, polticos,
econmicos, raciais, etc. Em correspondncia, o ambiente natural do homem tem sido visto como
um agregado de partes existentes separadamente, a serem exploradas por diferentes grupos de
pessoas. Da mesma forma, cada ser humano individual foi fragmentado num grande nmero de
compartimentos separados e conflitantes, conforme seus diferentes desejos, metas, ambies,
lealdades, caractersticas psicolgicas, etc., a tal ponto que em geral se admite que certo grau de
neurose inevitvel, enquanto que muitos indivduos, que vo alm dos limites "normais" da
fragmentao, so classificados como paranides, esquizides, psicticos, etc.
19
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evidente que ilusria a noo de que todos esses fragmentos existem separadamente, e essa
rio e adequado para o homem, em seu
o entanto, essa habilidade do homem em separar a si prprio do ambiente, bem como
avia, quando este modo de pensamento aplicado de uma forma mais ampla noo do
iluso no faz outra coisa seno levar a um conflito e a uma confuso infindveis. De fato, a
tentativa de viver de acordo com a noo de que os fragmentos esto realmente separados , em
essncia, o que tem levado srie crescente de crises extremamente urgentes, com as quais,
hoje, nos defrontamos. Assim, como bem se sabe agora, esse modo de vida o que vem
ocasionando a poluio, a destruio do equilbrio da natureza, a superpopulao, a desordem
poltica e econmica em escala mundial, e a criao de um ambiente global que no saudvel,
seja fsica ou mentalmente, para a maioria das pessoas que nele tm de viver. Individualmente,
desenvolveu-se um sentimento muito difundido de impotncia e desespero em face do que parece
ser uma massa avassaladora de foras sociais desiguais, que est alm do controle, e mesmo da
compreenso, dos seres humanos por ela envolvidos.
De fato, at certo ponto, sempre foi necess
pensamento, dividir e separar as coisas, de modo a reduzir os problemas a propores
controlveis; pois, evidentemente, se em nosso trabalho tcnico prtico tentssemos lidar com o
todo da realidade de uma s vez, ficaramos atolados. Logo, de certa forma, a criao de matrias
especiais de estudo e a diviso do trabalho foram avanos importantes. Mesmo antigamente, aprimeira compreenso que o homem teve de que no era idntico natureza foi um passo crucial,
pois tornou possvel uma espcie de autonomia em seu pensamento, que lhe permitiu ir alm dos
limites imediatos da natureza, a princpio em sua imaginao e, finalmente, em seu trabalho
prtico.
N
em dividir e distribuir as coisas, levou em ltima instncia a um largo espectro de resultados
negativos e destrutivos, pois ele perdeu a conscincia do que estava fazendo e, deste modo,
estendeu o processo de diviso alm dos limites dentro dos quais este opera adequadamente. Em
essncia, o processo de diviso uma maneira conveniente e til de pensar sobre as coisas,
principalmente no domnio das atividades prticas, tcnicas e funcionais (p. ex., dividir um terreno
em diferentes campos onde vrias safras sero cultivadas).
20
Tod
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14/244
homem a respeito de si mesmo e a respeito do mundo todo em que vive (isto , sua viso de
mundo pessoal), ento ele deixa de considerar as divises resultantes como meramente teis ou
convenientes e comea a ver e a experimentar a si prprio, e ao seu mundo, como efetivamente
constitudos de fragmentos separadamente existentes. Guiado por uma viso pessoal de mundo
fragmentria, o homem ento age no sentido de fracionar a si mesmo e ao mundo, de tal sorte
que tudo parece corresponder ao seu modo de pensar. Ele assim obtm uma prova aparente de
que correta a sua viso de mundo fragmentria, embora, claro, negligencie o fato de que ele
prprio, agindo de acordo com o seu modo de pensar, a causa da fragmentao que agora parece
ter uma existncia autnoma, independente da sua vontade e do seu desejo.
Desde tempos imemoriais, os homens tm conscincia desse estado de fragmentao
axnic
ossas formas
quisas cientficas correntes, que um campo relativamente familiar para mim (embora, claro,
depois num contexto
aparentemente autnomo e projetam mitos de uma "idade de ouro" ainda mais antiga, antes que a
ruptura entre o homem e a natureza e entre o homem e o seu semelhante tivesse ocorrido. De
fato, o ser humano sempre buscou a totalidade - mental, fsica, social, individual.
instrutivo considerar que a palavra health(sade) em ingls baseia-se na palavra anglo-
s a hale, que significa "inteiro" [whole, em ingls: isto , estar com sade estar inteiro, o
que mais ou menos o equivalente, penso, da palavra hebraica "shalem". Igualmente, o inglsholy[sagrado, santo baseia-se na mesma raiz que whole. Tudo isso indica que o homem sempre
sentiu que a integridade ou totalidade absolutamente necessria para que a vida valha a pena
ser vivida. No entanto, durante eras, ele geralmente viveu em fragmentao. Certamente, a
questo de por que isso tudo ocorre exige ateno cuidadosa e sria considerao.
Neste captulo, a ateno ser focalizada no papel sutil, mas crucial, de n
gerais de pensamento em sustentar a fragmentao e frustrar os nossos mais profundos anseios
com vstas totalidade ou integridade; com o fim de dar discusso um contedo concreto,
falaremos at certo ponto, em termos de
21
pes
tambm se tenha em mente a importncia global das questes em exame).
O que ser enfatizado, em primeiro lugar, na pesquisa cientfica e
mais geral, que a fragmentao est sendo continuamente produzida pelo hbito quase
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universal de tomar o contedo do nosso pensamento por "uma descrio do mundo como ele ".
Ou ento, poderamos dizer que, nesse hbito, considera-se o pensamento como estando em
correspondncia direta com a realidade objetiva. Uma vez que o nosso pensamento permeado
por diferenas e distines, segue-se da que um tal hbito nos leva a enxerg-las como divises
reais, de modo que o mundo ento visto e experimentado como algo efetivamente dividido em
fragmentos.
A relao entre o pensamento e a realidade qual ele se refere , de fato, muito mais
r exemplo, os homens tinham a teoria de que a matria celeste era
x., a Terra, o Sol, os planetas, etc.). Isto constituiu um novo modo de olhar para o cu, modo
complexa do que a de uma mera correspondncia. Assim, na pesquisa cientfica, boa parte do
nosso pensamento est assentada em termos de teorias. A palavra "teoria" deriva do grego
theoria, que tem, assim como a palavra "teatro" a mesma raiz numa palavra que significa
"observar" ou "fazer um espetculo". Assim, poder-se-ia dizer que uma teoria , basicamente,
uma forma de insightou introviso, ou seja, um modo de olhar para o mundo, e no uma forma de
conhecimento de como ele .
Nos tempos antigos, po
fundamentalmente diferente da matria terrena, e que era natural os objetos desta ltima carem,
assim como era natural que os objetos celestes, como a Lua, permanecessem l em cima no cu.Com o advento da era moderna, porm, os cientistas comearam a amadurecer o ponto de vista
segundo o qual no havia qualquer diferena essencial entre a matria terrena e a matria
celeste. Isto, claro, implicava que os objetos do cu, como a Lua, deveriam cair, mas por muito
tempo no notaram esta implicao. Num sbito insight, Newton ento viu que, assim como a
ma cai, o mesmo acontece com a Lua, e de fato com todos os objetos. Assim, ele foi levado
teoria da gravitao universal, em que todos os objetos eram vistos como caindo em direo a
vrios centros
22
(p- e
este em que os movimentos dos planetas no eram mais vistos mediante a antiga noo de uma
diferena essencial entre matria celeste e matria terrena. Em vez disso, considerava-se esses
movimentos em termos de velocidade de queda de toda a matria, celeste e terrena, em direo a
vrios centros, e quando se via que alguma coisa no era explicada desse modo, procuravam-se,
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e freqentemente descobriam-se, planetas novos e at ento invisveis em direo aos quais
caam os objetos celestes (assim demonstrando a relevncia dessa maneira de olhar).
A forma newtoniana de insight funcionou muito bem por vrios sculos, mas finalmente
ntica), que as teorias mais antigas tornam-se cada vez mais obscuras quando se tenta utiliz-
eorias mais antigas tornam-se falsas num determinado
(como os antigos insights gregos que vieram antes) levou a resultados obscuros quando
estendida a novos domnios. Desenvolveram-se, nesses novos domnios, novas formas de insight
(a teoria da relatividade e a teoria quntica). Estas proporcionaram um quadro do mundo
radicalmente diferente daquele de Newton (embora se tenha percebido que este ltimo ainda
vlido num domnio limitado). Se supusssemos que as teorias propiciassem o verdadeiro
conhecimento, correspondendo "realidade como ela ", ento teramos de concluir que a teoria
newtoniana era verdadeira at por volta de 1900, aps o que, subitamente, tornou-se falsa,
enquanto a relatividade e a teoria quntica tornaram-se a verdade. Uma concluso assim to
absurda no se apresentar, contudo, se dissermos que todas as teorias so insights, que no
so nem verdadeiros nem falsos, mas, antes, claros em certos domnios e obscuros quando
estendidos alm destes. Isto significa, porm, que no igualamos teorias com hipteses. Como
indica a raiz grega da palavra, uma hiptese uma suposio, isto , uma teia"colocada sob" o
nosso raciocnio, como uma base provisria que deve ser testada experimentalmente quanto asua verdade ou falsidade. No entanto, como se sabe muito bem, no pode haver nenhuma prova
experimental conclusiva sobre a verdade ou falsidade de uma hiptese geral que vise a beneficiar
o todo da realidade. Em vez disso, percebe-se (p. ex., no s dos epiciclos ptolomaicos ou do
fracasso dos conceitos newtonianos pouco antes do advento da relatividade e da teoria
23
qu
las para obter insightem novos domnios. Uma cuidadosa observao sobre como isso acontece
, geralmente, o principal indcio na direo de novas teorias, que viro a constituir
posteriormente, novas formas de insight.
Assim, em vez de supor que as t
momento, dizemos apenas que o homem est desenvolvendo continuamente novas formas de
insight, que so claras at um determinado ponto e depois tendem a ficar obscuras. No h,
evidentemente, nesta atividade nenhuma razo para supor que existe ou existir uma forma de
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insightfinal (correspondente verdade absoluta), ou mesmo uma srie uniforme de aproximaes
dessa forma final. Em vez disso, na natureza do caso, pode-se esperar o desenvolvimento
interminvel de novas formas de insight (que, no entanto, assimilaro certos aspectos
fundamentais das formas mais antigas como simplificaes, maneira como a teoria da
relatividade faz com a teoria newtoniana). Porm, conforme assinalamos antes, isto significa que
nossas teorias devem ser consideradas basicamente como modos de olhar para o mundo como
um todo (isto , como vises de mundo), e no como o "conhecimento absolutamente verdadeiro
de como as coisas so" (ou como uma aproximao progressiva e uniforme desse conhecimento).
Quando olhamos para o mundo por intermdio de nossos insights tericos, o
conhecimento factual que obtemos ser, evidentemente, moldado e formado pelas nossas teorias.
Nos tempos antigos, por exemplo, o fato sobre os movimentos dos planetas era descrito em
termos da idia ptolomaica de epiciclos (crculos sobrepostos a crculos). No tempo de Newton,
este fato foi descrito em termos de rbitas planetrias determinadas com preciso, analisadas
mediante velocidades de queda em direo a vrios centros. Mais tarde, apresentou-se o fato do
ponto de vista da relatividade, de acordo com os conceitos de espao/ tempo de Einstein. Ainda
mais tarde houve uma especificao muito diferente do fato em termos da teoria quntica (que emgeral fornece apenas um fato estatstico). Na biologia, o fato agora descrito em termos da teoria
da evoluo, mas antigamente era expresso em termos de espcies fixas de seres vivos.
24
Portanto, de um modo mais geral, uma vez dadas a percepo e a ao, nossos insightstericos
omo Kant parece ter
ensamento requer que geralmente
prevem a principal fonte de organizao do nosso conhecimento factual.
De fato, nossa experincia global moldada desta maneira. C
mostrado pela primeira vez, toda experincia organizada segundo as categorias do nosso
pensamento, isto , nossos modos de pensar sobre espao, tempo, matria, substncia,
causalidade, contingncia, necessidade, universalidade, particularidade, etc. Pode-se dizer que
essas categorias so formas gerais de insight ou modos de olhar para todas as coisas, de
maneira que, num certo sentido, so uma espcie de teoria (mas, claro, esse nvel de teoria
deve ter-se desenvolvido muito cedo na evoluo humana).
Evidentemente, a clareza de percepo e de p
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estejamos conscientes de como a nossa experincia moldada pelo insight(ntido ou confuso)
proporcionado pelas teorias implcitas ou explcitas em nossos modos gerais de pensar. Com esta
finalidade, til enfatizar que a experincia e o conhecimento so um s processo, em vez de
pensar que o nosso conhecimento sobre algum tipo de experincia separada. Podemos nos
referir a esse processo nico como experincia-conhecimento (o hfen indicando que so dois
aspectos inseparveis de um movimento total).
Ora, se no estivermos conscientes de que nossas teorias so formas de insightsempre
em tal que elimina os modos de vida insalubres, responsveis pela disseminao das
alm das limitaes existentes,
em transformao, proporcionando molde e forma experincia em geral, teremos uma viso
limitada. Isso pode ser expresso assim: a experincia com a natureza assemelha-se muito
experincia com seres humanos. Se algum se aproxima de um outro homem com uma "teoria"
fixa a respeito dele, como um "inimigo" contra o qual preciso se defender, esse homem
responder da mesma maneira e, portanto, a "teoria" ser, aparentemente, confirmada pela
experincia; de maneira semelhante, a natureza responder de acordo com a teoria com a qual
for abordada. Assim, antigamente os homens pensavam que as epidemias eram inevitveis, e
este pensamento ajudou-os a se comportarem de modo tal a reproduzir as condies
responsveis pela sua disseminao. Com as mesmas formas cientficas de insights, ocomportamento do
25
hom
epidemias, fazendo com que elas deixem de ser inevitveis.
O que impede os insights tericos de avanar
transformando-se para ir ao encontro de novos fatos, justamente a crena de que as teorias
proporcionam um verdadeiro conhecimento da realidade (o que implica, claro, que elas nunca
precisam mudar). Embora o nosso moderno modo de pensar tenha, evidentemente, mudado
muito em relao ao antigo, os dois tm um aspecto fundamental em comum: ambos esto
geralmente limitados, como que por "antoIhos", pela noo de que as teorias fornecem o
verdadeiro conhecimento sobre a "realidade como ela ". Assim, ambos so levados a confundir
as formas e moldes induzidos em nossas percepes pelo insight terico com uma realidade
independente do nosso pensamento e do nosso modo de olhar. Essa confuso de crucial
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importncia, uma vez que nos leva a abordar a natureza, a sociedade e o indivduo em termos de
formas de pensamento mais ou menos fixas e limitadas, continuando assim, aparentemente, a
confirmar as limitaes dessas formas de pensamento na experincia.
Esse tipo de confirmao interminvel das limitaes em nossos modos de pensar
considerarmos nossas teorias como "descries diretas da realidade
o j foi indicado, isto far com que atuemos de maneira tal que, de fato, produziremos a
uns poderiam dizer: "A
particularmente significativo no que diz respeito fragmentao, pois, como foi mostrado
anteriormente, toda forma de insight terico introduz as suas prprias diferenas e distines
essenciais (p. ex., na antigidade, uma distino essencial era entre a matria terrena e a celeste,
ao passo que na teoria newtoniana era essencial distinguir os centros em direo aos quais toda a
matria estava caindo). Se considerarmos essas diferenas e distines como modos de olhar,
como guias para a percepo, isto no implica que denotem substncias ou entidades que
existam separadamente.
Por outro lado, se
como ela ", ento inevitavelmente trataremos essas diferenas e distines como divises, o
que implica existncia separada dos vrios termos elementares que aparecem na teoria.
Seremos, assim, levados iluso de que o mundo efetivamente constitudo de fragmentos
separados e,26
com
prpria fragmentao subentendida em nossa atitude em relao teoria.
importante dar uma certa nfase a este ponto. Por exemplo, alg
fragmentao de cidades, religies, sistemas polticos, conflitos na forma de guerras, violncia
geral, fratricdio, etc., so a realidade. A totalidade apenas um ideal, em direo ao qual talvez
devamos nos empenhar." Mas no isto o que est sendo dito aqui. Antes, o que deve ser dito
que a totalidade aquilo que real, e que a fragmentao a resposta desse todo ao do
homem, guiado pela percepo ilusria, que moldada pelo pensamento fragmentrio. Em outras
palavras, justamente porque a realidade um todo, o homem, com a sua abordagem
fragmentria, inevitavelmente ser atendido com uma resposta correspondentemente
fragmentria. Portanto, necessrio que o ser humano d ateno ao seu hbito de pensamento
fragmentrio, que tenha conscincia dele, podendo assim elimin-lo. Ento, a abordagem da
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realidade pelo homem poder ser total, e a resposta tambm o ser. Entretanto, para que isso
acontea, crucial que o ser humano esteja consciente da atividade de seu pensamento como tal;
isto , como uma forma de insight, um modo de ver, e no como uma "cpia verdadeira da
realidade como ela ".
Est claro que podemos ter inmeros tipos diferentes de insights. O que se requer no
hbito de ver a realidade e de atuar na direo dela como se ela fosse constituda de
a teoria atmica, proposta pela (primeira vez por Demcrito
uma integrao do pensamento, ou uma espcie de unidade imposta, pois qualquer ponto de vista
imposto seria apenas um outro fragmento. Em vez disso, todos os nossos diferentes modos de
pensar devem ser considerados como diferentes modos de olhar para a realidade una, cada um
acompanhado de um certo domnio onde ele ntido e adequado. Pode-se de fato comparar uma
teoria com uma determinada viso de algum objeto. Cada viso d apenas uma aparncia do
objeto em algum aspecto. O objeto todo no percebido em nenhuma viso mas, em vez disso,
apreendido s unicamente como aquela realidade nica que mostrada em todas essas vises.
Quando entendermos plenamente que as nossas teorias tambm funcionam desse modo, ento
no cairemos
27
nofragmentos separadamente existentes, o que corresponde ao modo como ela se apresenta ao
nosso pensamento e nossa imaginao no momento em que tomamos nossas teorias por
"descries diretas da realidade como ela ". Alm de uma conscincia geral do papel das teorias
conforme acima indicado, necessrio dar especial ateno quelas teorias que contribuem para
a expresso de nossas vises de mundo pessoais. Isto porque, em grande parte, nessas vises
de mundo que nossas noes gerais sobre a natureza da realidade e sobre a relao entre o
pensamento e a realidade so implcita ou explicitamente formadas. Quanto a isto, as teorias
gerais da fsica desempenham um importante papel, pois considera-se que tratam da natureza
universal da matria da qual tudo constitudo, e do espao e do tempo em termos dos quais
todo movimento material descrito.
Consideremos, por exemplo,
h mais de 2.000 anos. Em essncia, (1) essa teoria nos leva a ver o mundo como constitudo por
tomos que se movem no vazio. As formas e caractersticas sempre cambiantes dos objetos de
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grande escala so vistos agora como resultados de arranjos cambiantes dos tomos em
movimento. Evidentemente, essa viso foi, de certa forma, um importante modo de percepo da
totalidade, pois possibilitou aos homens entender a enorme variedade de todo o mundo em
termos dos movimentos de um nico conjunto de componentes bsicos, atravs de um nico
vazio que permeia toda a existncia. No entanto, medida que a teoria atmica se desenvolveu, e
acabou por se tornar um grande apoio para uma abordagem fragmentria da realidade. Pois
deixou de ser considerada um insight, uma maneira de olhar, e os homens passaram a ver como
uma verdade absoluta a noo de que o todo da realidade no , efetivamente, constitudo de
outra coisa a no ser "blocos de construo atmicos", todos trabalhando juntos mais ou menos
mecanicamente. Evidentemente, tomar qualquer teoria fsica como uma verdade absoluta algo
que deve tender a fixar as formas gerais do pensamento em fsica e, assim, contribuir para a
fragmentao.
28
Afora isso, porm, o contedo especfico da teoria atmica era tal que se mostrou especialmente
ce nesses casos) a
capaz de conduzir fragmentao, pois estava implcito nesse contedo que todo o mundo da
natureza, juntamente com o ser humano, inclusive o seu crebro, o seu sistema nervoso, a suamente, etc., em princpio poderia ser entendido completamente em termos de estruturas e funes
de agregados de tomos existentes separadamente. A confirmao dessa viso atmica por
experimentos feitos pelo homem e por sua experincia em geral foi, claro, tomada como prova
da exatido e, sem dvida, da verdade universal dessa noo. Assim, quase que todo o peso da
cincia, foi colocado em apoio a uma abordagem fragmentria da realidade.
importante assinalar, no entanto, que (como geralmente aconte
confirmao experimental do ponto de lista atmico limitada. De fato, nos domnios abarcados
pela teoria quntica e pela relatividade, a noo de atomismo leva a questes confusas, que
indicam a necessidade de novas formas de insight, to diferentes do atomismo como este o de
teorias que o precederam. Assim, a teoria quntica mostra que a tentativa de descrever e
acompanhar uma partcula atmica com preciso minuciosa tem pouco significado. (Mais detalhes
sobre este ponto so dados no Captulo 5.) A noo de uma trajetria atmica tem apenas um
limitado campo de aplicabilidade. Numa descrio mais detalhada v-se que o tomo, sob muitos
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aspectos, comporta-se tanto como uma onda quanto como uma partcula, talvez possa ser melhor
considerado uma nuvem mal definida, dependendo, em sua forma particular, de todo o ambiente,
e inclusive do instrumento de observao. Logo, no se pode mais manter a diviso entre o
observador e o observado (que est implcita na viso atomstica que v cada um deles como
agregados separados de tomos). Em vez disso, tanto o observador como o observado so
aspectos que se fundem e se interpenetram, de uma realidade total, que indivisvel e no-
analisvel. A relatividade nos leva a um modo de olhar para o mundo semelhante ao acima
descrito em certos aspectos fundamentais (ver Captulo 5 para mais detalhes sobre este ponto). A
partir
29
do fato de que, do ponto de vista de Einstein, no passvel nenhum sinal mais rpido que a luz,
segue-se o colapso do conceito de corpo rgido. Mas este conceito crucial na teoria atmica
clssica, pois nela os constituintes fundamentais do universo tm de ser pequenos objetos
indivisveis, e isto s possvel se cada parte de um tal objeto estiver rigidamente ligada a todas as
outras partes. Numa teoria relativstica, necessrio abandonar por completo a noo de que o
mundo constitudo de objetos ou "blocos de construo" fundamentais. Em vez disso, precisover o mundo em termos de fluxo universal de eventos e processos. Assim, como indicado por A
e B na Figura 1.1, em vez de pensar numa partcula, deve-se pensar num "tubo de universo".
Figura 1.1
Esse tubo de universo representa um processo infinitamente complexo de uma estrutura
mo
sa que se entende por isso obtida considerando-
traes, elaboradas para se destacarem em nossa percepo por meio do pensamento. Na
em vimento e em desenvolvimento centrada numa regio indicada pelos limites do tubo.
Todavia, mesmo fora dele, cada "partcula" possui um campo que se estende atravs do espao e
se funde com os campos de outras partculas.
Uma imagem mais vvida do tipo de coi
se as formas de onda como estruturas em vrtice num curso fluente. Conforme mostrado na
Figura 1.2, dois vrtices correspondem a padres estveis de fluxo do fluido, centrados
aproximadamente em A e em B. Evidentemente, esses vrtices devem ser considerados como
30
abs
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verdade, claro, os dois padres de fluxo abstrados se fundem e se unem, num nico movimento
total do curso fluente. No h nenhuma diviso bem-definida entre eles, nem devem ser
considerados como entidades existentes separadamente ou independentemente.
Figura 1.2
A teoria da relatividade requer esse tipo de modo de olhar para as partculas atmicas, as
dade Indivisa em
ovim
ntece com tais padres de movimento numa torrente, alguns pensamentos reaparecem e
natureza;
quais constituem toda a matria, incluindo, claro, os seres humanos com seus crebros,
sistemas nervosos e instrumentos de observao que construram e que utilizam nos laboratrios.
Assim, abordando a questo por diferentes caminhos, a relatividade e a teoria quntica
concordam no fato de que ambas implicam a necessidade de olhar para o mundo como um todo
indiviso, no qual todas as partes do universo, incluindo o observador e seus instrumentos, se
fundem e se unem numa totalidade. Nesta totalidade, a forma atomstica de insight uma
simplificao e uma abstrao, vlidas somente em alguns contextos limitados.
A nova forma de insight talvez possa ser melhor chamada de Totali
M ento Fluente. Esta viso implica que esse fluxo, em certo sentido, anterior ao das "coisas"
que podem ser vistas formando-se e dissolvendo-se nesse fluxo. Pode-se talvez ilustrar o que se
quer dizer com isso considerando-se o "fluxo da conscincia". Esta fluidez da conscincia no definvel de maneira precisa, sendo, porm, evidentemente anterior s formas definveis dos
pensamentos e das idias que podem ser vistos formando-se e dissolvendo-se no fluxo, como
pequenos encrespamentos ou ondulaes, ondas e vrtices num curso fluente. Como
31
aco
persistem de um modo mais ou menos estvel, enquanto que outros so evanescentes.
A proposta para uma nova forma geral de insight que toda matria seja dessa
isto , h um fluxo universal que no pode ser definido explicitamente, mas que s pode ser
conhecido implicitamente, conforme indicado pelas formas e configuraes explicitamente
definveis, algumas estveis e outras instveis, que podem ser abstradas do fluxo universal.
Neste, mente e matria no so substncias separadas e sim aspectos diferentes de um
movimento total e ininterrupto. Deste modo estamos aptos a olhar para todos os aspectos da
existncia como no separados uns dos outros e, desse modo, podemos pr um fim na
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fragmentao implcita na atitude usual em relao ao ponto de vista atmico, que nos leva a
separar tudo de maneira consumada. No entanto, podemos incluir aquele aspecto do atomismo
que ainda proporciona uma forma vlida de insight. Apesar da totalidade indivisa no movimento
fluente, os vrios padres que dele podem ser abstrados possuem uma certa autonomia e
estabilidade relativas que, de fato, so fornecidas pela lei universal do movimento fluente. Agora,
porm, temos em mente, de forma ntida, os limites dessa autonomia e estabilidade.
Assim, podemos, em contextos especficos, adotar vrias outras formas de insightque nos
ma similar, em certos aspectos fundamentais, quele
erial
Um bom exemplo em termos do qual se pode entender essa distino obtido quando se
ontexto, entender qual o significado de causa formal.
possibilitem simplificar certas coisas, tratando-as momentaneamente, e para certos propsitos
limitados, como se fossem autnomas e estveis, bem como, talvez, existentes separadamente.
Porm, no precisamos cair na armadilha de olharmos para ns mesmos e para o mundo dessa
maneira. Portanto, nosso pensamento no precisa mais levar iluso de que, efetivamente, a
realidade de natureza fragmentria, e s aes fragmentrias correspondentes que surgem da
percepo nublada por uma tal iluso.
O ponto de vista discutido aci
sustentado por alguns dos gregos antigos. Esta similaridade pode ser ressaltada ao se considerar
a noo de causalidade em Aristteles. O filsofo distinguia quatro tipos de causas:32
Mat
Eficiente
Formal
Final
considera algo vivo, como uma rvore ou um animal. A causa material ento apenas a matria,
em que operam todas as outras causas, e a partir da qual a coisa constituda. Assim, no caso de
uma planta, a causa material o solo, o ar, a gua e a luz solar, que constituem a substncia da
planta. A causa eficiente alguma ao, externa coisa analisada, que permite o
encaminhamento de todo o processo. No caso de uma rvore, por exemplo, o plantio da semente
pode ser tomado como a causa eficiente.
de crucial importncia, neste c
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Infelizmente, em sua conotao moderna, a palavra "formal" tende a se referir a uma forma
exterior no muito significativa (p. ex., como em "roupa formal" ou "uma mera formalidade").
Todavia, na antiga filosofia grega, a palavra forma significava, em primeiro lugar, uma atividade
formadora interna que a causa do crescimento das coisas, bem como do desenvolvimento e da
diferenciao das suas vrias formas essenciais. Por exemplo, no caso de um carvalho, o que se
indica pelo termo "causa formal" o movimento interno total da seiva, do crescimento das clulas,
da articulao dos ramos, folhas, etc., que caracterstico desse tipo de rvore e diferente do que
ocorre nos outros tipos. Numa linguagem mais moderna, isto seria melhor descrito como causa
formativa, para enfatizar que o que est envolvido no uma mera forma imposta de fora, mas,
antes, um movimento interno ordenado e estruturado, essencial para aquilo que as coisas so.
Evidentemente, qualquer causa formativa deve ter um fim ou produto que ao menos esteja
implcito. Assim, no possvel referir-se ao movimento interno da bolota dando origem a um
carvalho, sem se referir simultaneamente ao carvalho que vai resultar deste movimento. Portanto,
a causa formativa sempre implica causa final. E claro que tambm conhecemos a causa final
como desgnio,
33mantido em mente por meio do pensamento (noo esta estendida a Deus, que era considerado
omo tendo, essencialmente, a
como tendo criado o universo segundo um grande desgnio). Entretanto, o desgnio apenas um
caso especial de causa final. Por exemplo, os homens geralmente almejam determinados fins em
seus pensamentos mas o que efetivamente costuma emergir de suas aes , em geral, algo
diferente daquilo que estava em seus desgnios, algo que estava, porm, implcito no que faziam,
embora no conscientemente percebido pelos que tomaram parte.
Na viso antiga, considerava-se a noo de causa formal c
mesma natureza tanto para a mente como para a vida e para o cosmo como um todo. De fato,
Aristteles via o universo como um organismo nico onde cada parte cresce e se desenvolve em
sua relao com o todo e onde ela ocupa seu prprio lugar e sua prpria funo. Com respeito
mente, podemos entender esse tipo de noo em termos mais modernos voltando nossa ateno
para o movimento fluente da conscincia. Conforme indicado anteriormente, pode-se, em primeiro
lugar, discernir vrios padres de pensamento nesse fluxo. Estes seguem-se um ao outro de
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modo relativamente mecnico, mediante associaes determinadas por hbito e condicionamento.
Evidentemente, tais mudanas associativas so externas estrutura interna dos pensamentos em
questo, de modo que essas mudanas atuam como uma srie de causas eficientes. Contudo, ver
a razo de algo no uma atividade mecnica dessa natureza: em vez disso, tem-se a
conscincia de cada aspecto conforme assimilado num nico todo, cujas partes esto todas
interiormente relacionadas (assim como, por exemplo, os rgos do corpo). Aqui preciso
enfatizar que o ato da razo essencialmente um tipo de percepo intermediado pela mente, em
certos aspectos semelhante percepo artstica, e no apenas a repetio associativa de razes
j conhecidas. Assim pode-se ficar perplexo com um amplo espectro de fatores, coisas que no
se ajustam, at que de repente h um lampejo da compreenso e, ento, v-se como todos esses
fatores se rela cionam como aspectos de uma totalidade (considere, p. ex., o insightde Newton
sobre a gravitao universal). No se pode de maneira adequada, fazer uma anlise ou descrio
detalhada
34
de tais atos de percepo. Em vez disso, eles devem ser considerados como aspectos da
o da totalidade indivisa
atividade formadora da mente. Uma determinada estrutura de conceitos ento o produto dessaatividade, e esses produtos esto ligados pela srie de causas eficientes que operam no
pensamento associativo comum - e, como foi assinalado anteriormente, nesta viso a atividade
formadora considerada to fundamental na natureza como o na mente, de modo que as
formas-produtos na natureza tambm esto ligadas por causas eficientes.
Evidentemente, a noo de causa formativa relevante para a vis
no movimento fluente, o que se constatou estar implicado nos modernos desenvolvimentos da
fsica, notavelmente na teoria da relatividade e na teoria quntica. Logo, como tem sido
assinalado, cada estrutura relativamente autnoma e estvel (p. ex., uma partcula atmica) deve
ser entendida no como algo que existe de modo independente e permanente, mas, antes, como
um produto formado no movimento fluente total e que finalmente voltar a dissolver-se nesse
movimento. Como ele se forma e mantm a si prprio depende, ento, do seu lugar e da sua
funo no todo. Portanto, vemos que certos desenvolvimentos na fsica moderna implicam um tipo
de insight da natureza que est relacionado s noes de causa formativa e de causa final,
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essencialmente semelhante quelas maneiras de olhar comuns na antigidade.
No entanto, na maior parte dos trabalhos que hoje esto sendo feitos em fsica, as noes
ia predominante na fsica moderna contrasta fortemente com qualquer espcie
ativa na totalidade indivisa do movimento fluente. De fato, aqueles aspectos da teoria da
de causa formativa e de causa final no so consideradas de importncia fundamental. Em vez
disso, geralmente ainda se concebe a lei como um sistema autodeterminado de causas eficientes,
operando num conjunto final de constituintes materiais do universo (p. ex., as partculas
elementares sujeitas s foras de interao entre elas). No se considera que estes constituintes
sejam formados num processo global, e sendo assim eles no so considerados como rgos
adaptados ao seu lugar e sua funo no todo (isto , aos fins a que serviriam nesse mundo).
Antes, tendem a ser concebidos como elementos mecnicos de natureza fixa, existentes
separadamente.
A tendnc
de viso que d primazia atividade
35
form
relatividade e da teoria quntica que sugerem a necessidade de uma tal viso tendem a ser
desenfatizados e, na verdade, pouco notados pela maioria dos fsicos, pois so vistos em grandeparte como aspectos dos clculos matemticos, e no como indicaes da natureza real das
coisas. Quando, na fsica, se usa a linguagem e o modo de pensar informais, que inspiram a
imaginao e provocam o sentimento do que real e substancial, a maioria dos fsicos ainda fala
e pensa, com uma total convico da verdade, em termos da noo atomstica tradicional de que
o universo constitudo de partculas elementares que so "os blocos de construo bsicos", dos
quais tudo feito. Em outras cincias, tais como a biologia, a fora dessa convico ainda
maior, pois entre os que trabalham nessas reas h pouca conscincia do carter revolucionrio
do progresso na fsica moderna. Por exemplo, os modernos bilogos moleculares geralmente
acreditam que a totalidade da vida e da mente pode, em ltima instncia, ser entendida em termos
mais ou menos mecnicos, por meio de algum tipo de extenso do trabalho que tem sido feito
sobre a estrutura e a funo das molculas de ADN. Uma tendncia semelhante j comeou a
dominar na psicologia. Chegamos, desse modo, ao muito estranho resultado de que, no estudo da
vida e da mente, que so justamente os campos onde a causa formativa, atuando em movimento
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fluente indiviso e ininterrupto, mais evidente experincia e observao, existe agora a mais
forte das crenas na abordagem atomstica fragmentria da realidade.
claro que a tendncia, predominante na cincia, para pensar e perceber em termos de
erimentais de onde se tira a concluso de que esta viso necessria e inevitvel. Desse
o surgem tais evidncias, a exemplo da
i indicado, os homens que so guiados por uma tal viso de mundo
uma viso pessoal de mundo fragmentria faz parte de um movimento maior que se tem
desenvolvido ao longo das eras e que hoje permeia quase toda a nossa sociedade; mas, por sua
vez, um tal modo de pensar e observar, presente na pesquisa cientfica, tende, muito
acentuadamente, a reforar a abordagem geral fragmentria, pois d aos homens um quadro do
mundo todo como no sendo constitudo de outra coisa seno um agregado de "blocos de
construo atmicos" existentes separadamente, e fornece evidncias
36
exp
modo, as pessoas so levadas a sentir que a fragmentao nada mais que uma expresso da
"maneira como tudo realmente ", e que qualquer outra coisa impossvel. Portanto, h muito
pouca disposio para buscar evidncias em contrrio.
Na verdade, como j se indicou, mesmo quand
fsica moderna, a tendncia geral no sentido de minimizar sua importncia ou mesmo ignor-lapor completo. Poder-se-ia at dizer que, de fato, no atual estado em que se acha a sociedade, e
no modo atual de ensinar cincia, que uma manifestao desse estado da sociedade, uma
espcie de preconceito a favor de uma viso pessoal de mundo fragmentria fomentado e
transmitido (at certo ponto explcita e conscientemente, mas principalmente de uma maneira
implcita e inconsciente).
Porm, como j fo
fragmentria no podem, a longo prazo, fazer outra coisa a no ser tentar, em suas aes,
quebrar a si prprios e ao mundo em pedaos, em correspondncia com o seu modo geral de
pensar. Uma vez que, em primeiro lugar, a fragmentao uma tentativa de estender a anlise do
mundo em partes separadas alm do domnio onde faz-lo adequado, trata-se, na verdade, de
uma tentativa de dividir aquilo que na realidade indivisvel. Na prxima etapa, uma tal tentativa
tambm nos levar a tentar unir o que na realidade no pode ser unido. Isto pode ser reconhecido
de maneira particularmente clara em termos de agrupamentos de pessoas na sociedade (grupos
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polticos, econmicos, religiosos, etc.). O prprio ato de formar um tal grupo tende a criar um
sentido de diviso e de separao dos membros em relao ao resto do mundo, mas, uma vez
que eles esto, na realidade, ligados com o todo, isto no pode funcionar. Cada membro tem, de
fato, uma conexo algo diferente, e mais cedo ou mais tarde esta diferena se revela como uma
diferena entre ele e os outros membros do grupo. Toda vez que os homens separam-se do todo
da sociedade e tentam unir-se por identificao dentro de um grupo, e claro que este acaba por
manifestar disputas internas, o que leva ao colapso de sua unidade. Da mesma maneira, quando
37
os homens, na prtica de seu trabalho tcnico, tentam separar algum aspecto da natureza, poder-
agir tem, evidentemente, implicaes em
ssncia, uma confuso em torno da questo da diferena
sfazer essa confuso
se- desenvolver um estado semelhante de contradio e desunio. O mesmo tipo de coisa
acontecer ao indivduo se ele tentar separar-se da sociedade. A verdadeira unidade no indivduo
e entre o homem e a natureza, bem como entre o homem e o homem, s pode surgir numa, forma
de ao que no tente fragmentar o todo da realidade.
Nosso modo fragmentrio de pensar, olhar e
cada aspecto da vida humana, isto , por uma curiosa ironia, a fragmentao parece ser a nica
coisa universal na nossa vida, que funciona atravs do todo sem fronteiras ou limites. Isto ocorreporque as razes da fragmentao so muito profundas e esto muito difundidas. Como j foi
assinalado, tentamos dividir o que uno e indivisvel, a isto implica que na prxima etapa
tentaremos identificar o que diferente.
Portanto, a fragmentao , em e
e da semelhana (ou estado da unidade, one-ness), mas a clara percepo dessas categorias
necessria em cada fase da vida. Estar confuso sobre o que diferente e o que no , estar
confuso sobre tudo. Logo, no acidental o fato de que nossa forma fragmentria de pensamento
esteja levando a um espectro to amplo de crises sociais, polticas, econmicas, ecolgicas,
psicolgicas, etc., no indivduo e na sociedade como um todo. Um tal modo de pensar implica um
interminvel desenvolvimento de conflitos caticos e sem sentido, onde as energias de todos
tendem a se perder em movimentos antagnicos ou em desentendimentos.
Evidentemente, importante e, sem dvida, de mxima urgncia de
profunda e difundida que penetra toda nossa vida. De que adiantam tentativas de ao social,
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poltica, econmica ou de qualquer outro tipo, se a mente est presa num movimento confuso em
que diferencia o que no diferente e identifica o que no idntico? Uma tal ao ser na
melhor das hipteses, ineficaz e, na pior, destrutiva.
Nem tampouco ser til tentar impor algum tipo fixo de princpio "holstico" integrador ou
viso pessoal de mundo fixa implica que no estamos mais tratando nossas teorias como
ar alertas para considerar seriamente e atentar com cuidado para o fato
fragmentao?
do em termos gerais, se algum pergunta como resolver um problema tcnico, por
unificador sobre a nossa viso pessoal de mundo, pois, como indicamos antes, qualquer tipo
38
de
insightsou maneiras de olhar, mas, antes, como "conhecimento absolutamente verdadeiro das
coisas como elas realmente so". Assim, quer gostemos, quer no, as distines, que se acham
inevitavelmente presentes em qualquer teoria, mesmo "holstica", sero falsamente tratadas como
divises, acarretando a existncia separada dos termos que so assim distinguidos (de modo que,
correspondentemente, o que no for distinguido desta maneira ser falsamente tratado como
absolutamente idntico).
Temos, pois, de fic
de que nossas teorias no so "descries da realidade como ela ", mas, sim, formas de insight
sempre em transformao, que podem indicar ou apontar uma realidade implcita e no descritvelou especificvel em sua totalidade. Esta necessidade em estar assim atento vale at para o que
est sendo dito aqui neste captulo, no sentido de que no deve ser visto como "conhecimento
absolutamente verdadeiro da natureza das fragmentaes e da totalidade". Em vez disso,
tambm uma teoria que proporciona um insight sobre essa questo. Cabe ao leitor ver por si
mesmo se o insight claro ou obscuro, e quais so os limites de sua validade.
Ento, o que pode ser feito para pr fim ao estado predominante de
primeira vista, esta pode parecer uma questo razovel, mas um exame mais cuidadoso nos leva
a perguntar se de fato o , pois pode-se verificar que essa questo tem pressuposies que no
so claras.
Falan
exemplo, pressupe-se que, embora comecemos por no saber a resposta, nossas mentes, no
entanto, esto suficientemente lcidas para descobrir uma resposta, ou pelo menos para
reconhecer a descoberta de uma resposta por parte de outrem. Mas, se todo o nosso modo de
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pensar estiver impregnado pela fragmentao, isto implica que no somos capazes de faz-lo,
pois a percepo fragmentria , em essncia, um hbito de confuso, em grande medida
inconsciente, em torno da questo do que diferente e do que no .
Portanto, no prprio ato em que tentamos descobrir o que fazer a
9
eito da fragmentao, continuaremos este hbito e, assim tenderemos a introduzir ainda
mais difceis e sutis sobre essa questo justamente o de esclarecer o que
3
resp
outras formas de fragmentao. Isto no significa necessariamente, claro, que no h nenhuma
sada, mas sim que temos de dar uma pausa, de modo a no agirmos de acordo com os nossos
habituais modos de pensar fragmentrios, enquanto procuramos solues que estejam ao nosso
alcance. A questo da fragmentao e da totalidade sutil e difcil, mais ainda do que aquelas
que levam a descobertas fundamentalmente novas na cincia. Perguntar como acabar com a
fragmentao e esperar uma resposta em alguns minutos faz ainda menos sentido do que indagar
como desenvolver uma teoria to nova quanto foi a de Einstein na poca em que a elaborava e
esperar que sejamos informados quanto ao que fazer em termos de algum programa expresso em
frmulas ou receitas.
Um dos pontosse entende pela relao entre o contedo do pensamento e o processo do pensar que produziu
esse contedo. Uma das principais fontes de fragmentao , sem dvida, a pressuposio
geralmente aceita de que o processo do pensamento suficientemente separado e independente
de seu contedo para nos permitir, em geral, a execuo de um pensar claro, ordenado e racional,
que pode julgar adequadamente este contedo como correto ou incorreto, racional ou irracional,
fragmentrio ou total, etc. Com efeito, como se tem visto, a fragmentao envolvida numa viso
pessoal de mundo no esta apenas no contedo do pensamento, mas na atividade geral da
pessoa que "faz o pensamento", encontrando-se, assim, tanto no processo do ato de pensar como
no contedo. De fato, contedo e processo no so duas coisas que existem separadamente,
mas, antes, constituem dois aspectos da viso de um movimento total. Logo, contedo
fragmentrio e processo fragmentrio tm de desaparecer juntos. Precisamos tratar aqui da
unidade [One-ness, no original. (N. do T.)] do processo do pensamento e do seu contedo,
semelhante, em aspectos fundamentais, unidade do observador e do observado: este fato tem
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sido discutido em relao teoria da relatividade e teoria
40
quntica. Questes desta natureza no podem ser convenientemente respondidas enquanto
a cuidadosa ateno e um
ectro de domnios: cientfico, econmico, social, poltico, etc. At agora, porm, poucos ou
estivermos presos, consciente ou inconscientemente a um modo de pensar que tenta analisar a si
prprio em termos de uma suposta separao entre o processo do pensamento e o contedo
deste, que seu produto. Ao aceitarmos uma tal presuno, somos levados, na prxima etapa, a
buscar alguma fantasia de ao por intermdio de causas eficientes que poriam fim
fragmentao no contedo, enquanto que no processo efetivo do pensamento ela permaneceria
intacta. necessrio, porm, apreender de alguma maneira a causa formativa global da
fragmentao, onde contedo e processo efetivo so vistos juntos, em sua totalidade. Poder-se-ia
considerar aqui a imagem de uma multido turbulenta de vrtices numa torrente. A estrutura e
distribuio dos vrtices, que constituem uma espcie de contedo da descrio do movimento,
no esto separadas da atividade formativa do fluxo da torrente, que cria, mantm e finalmente
dissolve a totalidade das estruturas em vrtice. Portanto, tentar eliminar os vrtices sem mudar a
atividade formativa da torrente seria, evidentemente, um absurdo. Assim que a nossa percepo
guiada, pelo insightadequado, para a significao do movimento total, claro que no estaremosdispostos a tentar uma abordagem to ftil. Em vez disso, observaremos a situao como um todo
e ficaremos atentos e alertas para nos instruirmos sobre ela, e portanto para descobrirmos qual
seria realmente um tipo de ao adequado, aplicvel a esse todo, pondo, dessa maneira, fim
turbulenta estrutura de vrtices. Analogamente, quando de fato apreendermos a verdade da
unidade (one-ness) do processo de pensamento que estivermos efetivamente realizando e do
contedo desse pensamento que o produto desse processo, ento um tal insight nos
possibilitar observar, olhar e aprender a respeito do movimento total do pensamento e, assim,
descobrir uma ao que seja relevante em face desse todo, que por fim "turbulncia" do
movimento que a essncia da fragmentao em cada fase da vida.
claro que esse aprendizado e essa descoberta exigiro um
rduo trabalho. Estamos preparados para dedicar uma tal ateno e um tal trabalho num amplo
41
esp
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nenhum deles tm-se dedicado criao de insightsno processo do pensamento, de cuja clareza
depende o valor de tudo o mais. Fundamentalmente, necessrio uma compreenso cada vez
maior do extremo perigo de se continuar com um processo fragmentrio de pensamento. Tal
compreenso nos daria a possibilidade de averiguar como o pensamento de fato opera aquele
sentido de urgncia e de energia exigido para se ir ao encontro da verdadeira magnitude das
dificuldades com as quais a fragmentao nos pe hoje em confronto.
Apndice: Resumo da discusso sobre as formas ocidentais e orientais de percepo da
primeiras fases do desenvolvimento da civilizao, as concepes do homem eram
dagem ocidental fragmentria e adotamos
sas n
considerado um dos elementos essenciais para uma boa vida (as tragdias gregas, por
totalidade
Nas
essencialmente de totalidade em vez de fragmentao. No Oriente (especialmente na ndia) essas
concepes ainda sobrevivem, no sentido de que a filosofia e a religio enfatizam a totalidade e
sugerem a futilidade da anlise do mundo em partes.
Por que, ento, no abandonamos nossa abor
es oes orientais, que incluem no apenas uma viso pessoal de mundo que nega a diviso
e a fragmentao, mas tambm tcnicas de meditao que levam no-verbalmente todo o
processo de operao mental quele estado tranqilo de fluxo sereno e ordenado necessrio parapr um fim fragmentao, tanto no processo efetivo do pensamento quanto em seu contedo?
Para responder a essa pergunta, til comear familiarizando-nos com a diferena entre as
noes ocidental e oriental de medida. Ora, no Ocidente, a noo de medida desempenha, desde
a antigidade, um papel fundamental na determinao da viso geral pessoal de mundo, bem
como na do modo de vida implcito nessa viso. Assim, entre os gregos antigos, de quem
derivamos uma grande parte de nossas noes fundamentais (por intermdio dos romanos),
manter tudo em sua justa medida
42
era
exemplo, geralmente retratavam o sofrimento do homem como conseqncia de ele ir alm da
medida apropriada das coisas). Com relao a isto, a medida no era considerada em seu sentido
moderno, como sendo, basicamente, algum tipo de comparao de um objeto com um padro ou
unidade exterior. Ao contrrio, este ltimo procedimento era visto como uma espcie de exposio
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ou aparecimento ou manifestao exterior de uma "medida interna" mais profunda, que
desempenhava um papel essencial em todas as coisas. Quando uma coisa ia alm da medida
que lhe era prpria, isto no significava meramente uma no-conformidade a um padro exterior
do que era certo; muito mais do que isto, significava uma desarmonia interior, de tal sorte que
essa coisa estava fadada a perder sua integridade e partir-se em fragmentos. Pode-se obter
algum insightnesse modo de pensar se levarmos em considerao os antigos significados de
certas palavras. Assim, a palavra latina mederi, que significa "curar" (a raiz da moderna palavra
"medicina") deriva de uma raiz que significa "medir".
Isto reflete a viso de que a sade fsica deve ser vista como o resultado de um estado de
reza das coisas (e no s exteriormente como uma forma de comparao com um padro ou
da ratioainda mais explicitamente, pode-se escrever:
justa medida interna em todas as partes e processos do corpo. De modo semelhante, a palavra
"moderao", que descreve uma das primeiras noes antigas de virtude, baseia-se na mesma
raiz, e isso mostra que tal virtude era considerada como o resultado de uma correta medida
interna subjacente s aes e comportamentos sociais do homem. Por outro lado, a palavra
"meditao", derivada da mesma raiz, envolve uma espcie de pesagem, ponderao, ou
medio de todo o processo do pensamento, que pode levar as atividades internas da mente a
um estado de medida harmoniosa. Portanto, fsica, social e mentalmente, a conscincia damedida interna das coisas era vista como a chave essencial para uma vida saudvel, feliz e
harmoniosa. E claro que a medida deve ser expressa mais detalhadamente por meio da
proporo ou razo. Ratio a palavra latina da qual deriva nossa moderna palavra "razo". Na
concepo antiga, a razo vista como insight numa totalidade de ratio ou de propores,
considerada interiormente pertinente prpria
43
natu
unidade). Evidentemente, essa ratio no , necessariamente, uma mera proporo numrica
(embora, claro, inclua tal proporo). Mais precisamente, em geral um tipo qualitativo de
proporo ou relao universal. Quando Newton teve o insightda gravitao universal, o que ele
viu pode ser expresso deste modo: "Assim como a ma cai, o mesmo acontece com a Lua e, de
fato, com todas as coisas.
Para mostrar a forma
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A : B :: C : D :: E : F
onde A e B representam sucessivas posies da ma em sucessivos momentos do tempo, C e
lguma coisa, estamos exemplificando
uma forma de insightna essncia de todas as coisas, e
edida foi alm da noo de comparao com um padro externo, apontando para um tipo
D, as posies da Lua, e E e F as de qualquer outro objeto.
Toda vez que encontramos um motivo terico para a
essa noo de ratio, no sentido de sugerir que, assim como os vrios aspectos esto relacionados
em nossa idia, tambm o esto na coisa sobre a qual versa a idia. A razo essencial ou ratiode
uma coisa ento a totalidade das propores internas em sua estrutura e no processo em que
ela se forma, mantm a si prpria e finalmente se dissolve. Nessa viso, entender tal ratio
entender o "ser mais ntimo" dessa coisa.
Infere-se, portanto, que a medida
que a percepo do homem, seguindo os caminhos indicados por tal insight, ser clara, realizando
assim, geralmente, uma ao ordenada e uma vida harmoniosa. Com relao a isto, til lembrar
as noes dos gregos antigos sobre medida na msica e nas artes visuais. Essas noes
enfatizavam que o conhecimento das medidas era uma chave para o entendimento da harmonia
na msica (p. ex., a medida como ritmo, como justa proporo na intensidade do som, como justa
proporo na tonalidade, etc.). Da mesma maneira, nas artes visuais, a justa medida era vistacomo essencial harmonia e beleza totais (p. ex., considere a "Proporo urea", ou seja, a
mdia e extrema razo). Tudo isso indica o quanto a noo
44
de m
universal de ratio ou proporo interna, percebida tanto pelos sentidos como pela mente.
Naturalmente, medida que o tempo passava, essa noo de medida aos poucos comeou a
mudar, a perder sua sutileza e tornar-se relativamente grosseira e mecnica. provvel que isso
tenha ocorrido porque a noo humana tornou-se cada vez mais rotineira e habitual, tanto com
relao sua exibio externa e medidas tomadas por comparao com uma unidade externa
como com relao ao seu significado interno, enquanto ratiouniversal aplicvel sade fsica,
ordem social e harmonia mental. Os homens comearam a aprender essas noes de medida
de maneira mecnica, conformando-se aos ensinamentos de seus antepassados ou de seus
mestres, e no de modo criativo, por meio de um sentimento e uma compreenso ntimos do
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significado mais profundo da ratio ou proporo sobre a qual estavam aprendendo. Dessa
maneira, gradualmente, a medida passou a ser ensinada como uma espcie de regra que devia
ser imposta a partir de fora sobre o ser humano, que, por sua vez, impunha a medida
correspondente, nos nveis fsico, social e mental, em cada contexto em que estivesse
trabalhando. Como resultado, as noes predominantes de medida no foram mais vistas como
formas de insight. Em vez disso, afiguravam-se como "verdades absolutas sobre a realidade como
ela ", que parecia aos homens uma coisa que eles sempre conheceram, e cuja origem era, com
freqncia, mitologicamente explicada como injunes obrigatrias dos Deuses. Haveria perigo e
haveria maldade em question-las.
O pensamento sobre a medida tendia assim a cair principalmente no domnio do hbito
am o hbito de olhar para tudo externamente tambm aplicaram esse modo de observao
tivao gerais da noo de medida continuaram a desenvolver-se
inconsciente e, como resultado, as formas induzidas na percepo por esse pensamento
passaram ento a ser vistas como realidades objetivas diretamente observadas, que eram
essencialmente independentes de como foram pensadas. Mesmo na poca dos gregos antigos,
este processo tinha percorrido um longo caminho e, conforme iam percebendo isso, os homens
comearam a questionar a noo de medida. Assim, Protgoras disse: "O homem a medida de
todas as coisas", enfatizando desse modo que a medida no uma realidade exterior aoshomens, existindo independentemente dele. Porm, muitos dos que
45
tinh
quilo que Protgoras dissera. Logo, concluram que a medida era uma coisa arbitrria, e sujeita
escolha ou ao gosto caprichoso de cada indivduo. claro que desse modo passaram por cima do
fato de que a medida uma forma de insightque tem de se ajustar realidade global em que o
homem vive, como demonstrado pela clareza de percepo e harmonia de ao s quais ele
leva. Um tal insight pode surgir adequadamente apenas quando um homem trabalha com
seriedade e honestidade, colocando em primeiro lugar a verdade e a factualidade, em vez de seus
prprios caprichos e desejos.
A rigidificao e a obje
at que, nos tempos modernos, a prpria palavra "medida" veio a denotar principalmente um
processo de comparao de algo com um padro externo. Embora o significado original ainda
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sobreviva em alguns contextos (p. ex., na arte e na matemtica), ele geralmente considerado
como tendo apenas uma espcie de importncia secundria. Ora, no Oriente a noo de medida
no desempenhou um papel to fundamental. Em vez disso, na filosofia a predominante, o
imensurvel (isto , aquilo que no pode ser nomeado, descrito ou entendido por meio de
qualquer forma de razo) considerado como a realidade fundamental. Assim, no snscrito (que
tem uma origem comum ao grupo lingstico indo-europeu) h uma palavra, matra, que significa
"medida", no sentido musical, e que, evidentemente, est prxima do grego "metron". Mas h uma
outra palavra, maya, obtida da mesma raiz, que quer dizer "iluso". Este um ponto
extraordinariamente significativo. Enquanto que para a sociedade ocidental, que deriva dos
gregos, a medida, com tudo o que esta palavra implica, a prpria essncia da realidade, ou pelo
menos a chave para esta essncia, no Oriente ela veio a ser usualmente considerada como
sendo, num certo sentido, falsa e enganosa. Nesta viso, toda a estrutura e a ordem das formas,
propores e ratiosque se apresentam percepo e razo [A palavra razo, em portugus,
pode significar, entre outras coisas, tanto "a capacidade de raciocinar, julgar, compreender," como
"a relao entre duas grandezas da mesma espcie'. No ingls, h duas palavras distintas para
esses dois significados. A primeira reasone a segu