Departamento de Bioquímica Instituto de Química
Drogas e Bioquímica
Qual é o barato?
Departamento de Bioquímica - Instituto de Química
Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
Professores
Alexandre Dermargos Oliveira ([email protected])
Elaine Cristina Favaro ([email protected])
Flávia Riso Rocha ([email protected])
Larissa Martins Gonçalves ([email protected])
Luiz Eduardo Cabral von Dannecker ([email protected])
Maria Clara Maia Ceolin ([email protected])
Paromita Majumder ([email protected])
Sérgio de Paula Moura ([email protected])
Silvia Lopes de Menezes ([email protected])
Supervisor
Bayardo B. Torres ([email protected])
2
USP 2003
Cronograma
Dia Período Tema abordado
06/01/03
Manhã
Apresentação do curso
Estatísticas sobre o uso de drogas
Conceitos básicos
TardeIntrodução ao sistema nervoso
Alucinógenos
07/01/03Manhã
Cocaína
Cafeína
Tarde Anfetaminas
08/01/03
Manhã Heroína
TardeÁlcool
Inalantes
09/01/03Manhã Tabaco
Tarde Maconha
10/01/03
Manhã Debate sobre legalização
Tarde
Palestra sobre tratamento e detecção
Avaliação do curso
Encerramento
3
4
Índice
CRONOGRAMA.................................................................................................................3
ESTATÍSTICAS E CONCEITOS BÁSICOS...................................................6
I LEVANTAMENTO DOMICILIAR SOBRE O USO DE DROGAS NO BRASIL................6
COCAÍNA..............................................................................................................................14
POTENCIAL DE ABUSO DA COCAÍNA..............................................................................14MODO DE AÇÃO NO SNC (SISTEMA NERVOSO CENTRAL)......................................15VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DA COCAÍNA.........................................................................15METABOLISMO......................................................................................................................16
CAFEÍNA................................................................................................................................18
ANFETAMINAS................................................................................................................22
ATIVIDADE 1...........................................................................................................................22ATIVIDADE 2...........................................................................................................................23BIOSSÍNTESE DA ADRENALINA........................................................................................24COMPARAÇÃO DAS ESTRUTURAS..................................................................................25MODO DE AÇÃO DAS ANFETAMINAS.............................................................................25
ÁLCOOL.................................................................................................................................26
INALANTES.........................................................................................................................31
TOLUENO................................................................................................................................31BROMOPROPANOS...............................................................................................................33N-HEXANO...........................................................................................................................34BENZENO................................................................................................................................34NITRITOS.................................................................................................................................36
TABACO................................................................................................................................38
ATIVIDADE 1...........................................................................................................................38ATIVIDADE 2...........................................................................................................................39ATIVIDADE-3..........................................................................................................................41ATIVIDADE-4..........................................................................................................................43
MACONHA...........................................................................................................................46
APOPTOSE..............................................................................................................................53QUANDO A MÍDIA FALA SOBRE A MACONHA...............................................................61DETECÇÃO DE CANABINÓIDES EM AMOSTRAS BIOLÓGICAS...................................63
APÊNDICES........................................................................................................................65
ESTATÍSTICAS E CONCEITOS BÁSICOS.................................................66
DADOS ESTATÍSTICOS........................................................................................................66I LEVANTAMENTO DOMICILIAR SOBRE O USO DE DROGAS NO BRASIL (OUTROS DADOS)....................................................................................................................................67CUSTOS SOCIAIS DECORRENTES DO USO ABUSIVO DE DROGAS..........................69USO DE DROGAS ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES............................................69DROGAS E VIOLÊNCIA.........................................................................................................70DROGAS E TRÂNSITO..........................................................................................................72DROGAS E TRABALHO........................................................................................................73DROGAS E AIDS..................................................................................................................74CONCLUSÕES........................................................................................................................76BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................76CONCEITOS GERAIS: DEPENDÊNCIA, ABSTINÊNCIA, TOLERÂNCIA.......................77OUTROS ALUCINÓGENOS...................................................................................................87PARA PESQUISAR MAIS......................................................................................................89
ÁLCOOL.................................................................................................................................91
O ÁLCOOL NO ORGANISMO...............................................................................................91ÁLCOOL E DOENÇAS...........................................................................................................94SÍNDROMES AGUDAS DE ABSTINÊNCIA.......................................................................100
INALANTES.......................................................................................................................101
EFEITOS DOS INALANTES NO CÉREBRO.....................................................................103ENTREVISTA.........................................................................................................................104Morte Cardíaca Súbita e Substâncias de Abuso.........................................106
Estatísticas e Conceitos Básicos
I Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas no Brasil
Realizado com 8589 pessoas, 12 a 65 anos, outubro a dezembro de 2001, em 107 municípios com mais de 200 mil habitantes. Fonte: http://noticias.ul.com.br/inter/reuters/2002/09/04/ult27u25577.jhtm
Usuários de drogas (%)
Álcool 68,7Tabaco 41,1Maconha 6,9Solventes 5,8Orexígenos 4,3Ansiolíticos 3,3Cocaína 2,3Xaropes (codeína) 2,0Estimulantes 1,5Anticolinérgicos 1,1
Alucinógenos 0,6Crack 0,4Merla 0,2Heroína 0,1
Consumo de drogas na vida,exceto tabaco e álcool (%)
EUA 38,9Brasil 19,4Chile 17,1
Consumo de Maconha (%)
EUA 34,2Reino Unido 25,0Dinamarca 24,3Espanha 22,2Chile 16,6Brasil 6,9Bélgica 5,8Colômbia 5,4
Consumo de Solventes (%)
EUA 7,5Brasil 5,8Espanha 4,0Colômbia 1,4
Consumo de Ansiolíticos (%)
EUA 5,8Brasil 3,3
Consumo de Cocaína (%)
EUA 11,2Holanda 3,7Dinamarca 3,1Reino Unido 3,0Espanha 3,0Brasil 2,3
Consumo de Anorexígenosou Estimulantes (%)
EUA 6,6Holanda 2,0Alemanha 2,0Suécia 2,0Brasil 1,5
Consumo de Heroína (%)
EUA 1,2Brasil 0,1
Pessoas que seconsideram dependentes (%)
Álcool 11,2Tabaco 9,0Maconha 1,0
Pessoas que se consideram dependentes de álcool (%), por faixa etária
12 A 17 ANOS 5,218 a 24 15,525 a 34 13,5> 35 10,3TOTAL 11,2
Primeira Análise
Bom, este é o panorama das drogas no Brasil, segundo a pesquisa da SENAD
(Secretária Nacional Anti-Drogas). Você concorda com os resultados obtidos nesta
pesquisa? Eles são similares aos que você encontra a sua volta, no seu bairro, na sua
escola, etc...
Distribuição das prevalências de consumo de substâncias psicoativas na vida, por ano
e localidade. Amostra com adolescentes em idade escolar (Dados em porcentagem)
Local EUA Londres Ontário Paris México BrasilRibeirão
Preto
Ano de coleta 1985 1988 1987 1977 1978 1989 1990
Faixa etária 14 – 18 11 –16 14 – 18 14 – 18 14 – 18 13 – 18 13-19
N 17000 3073 4267 499 3408 12335 1025
Álcool 92,0 63,3 68,1 80,0 57, 80,5 88,9
Tabaco 69,0 18,7 24,0 82,0 46,6 29,8 37,7
Maconha 54,0 11,7 15,9 23,0 3,0 3,6 6,2
Anfetaminas 26,0 3,2 3,1 4,0 3,7 4,1 **
Solventes 18,0 11,0 6,1 - 4,4 18,6 31,1
Cocaína 17,0 1,9 3,8 - - 0,8 2,7
Barbitúricos 12,0 - 3,3 6,0 1,5 2,2 --
Tranqüilizantes 12,0 2,7 3,0 6,0 2,2 7,8 --
Alucinógenos 12,0 1,9 - - - 0,7 1,6
Opiáceos 10,0 - - - - 0,5 0,3
** Corresponde aos medicamentos (anfetaminas, tranqüilizantes, xaropes, barbitúricos e anticolinérgicos)
= 10,5 %
Fonte: Muza, GM; Bettiol, H; Barbieri, MA Consumo de substâncias psicoativas por
adolescentes escolares de Ribeirão Preto, SP (Brasil). I - Prevalência do consumo por
sexo, idade e tipo de substância Rev. Saúde Pública, 31 (1): 21-9, 1997
Segunda Análise
Há diferença entre o consumo de drogas nos paises desenvolvidos quando
comparado com os paises em desenvolvimento?
Porcentagem de uso de drogas psicotrópicas por adolescentes de escolas com
segundo grau, das redes pública e particular, de acordo com as categorias de usuários
(dados ponderados). Pelotas, RS, 1998. N=2.410
Drogas
Faixa etária (anos) Sexo
10 a 12 13 a 15 16 a 18 19 Masculino Feminino
Álcool 48,9 84 95 92 86,6 87,6
Tabaco 10,1 43 46 47,7 40,1 43
Maconha 1,1 9,8 18,1 17,7 16,6 12,4
Solventes 6,9 11,8 13,5 8,2 14,6 9,9
Cocaína 0,5 1,6 4,2 6,6 4,5 2,4
Ansiolíticos 2,1 7,6 9,9 7,1 5,7 10,1
Anfetamínicos 0,5 2,4 5,3 9,5 2,9 5,5
Outros * 3,8 3,5 2,8 1,9 4,2 2,1
Alucinógenos 0,5 1,8 1,8 1,3 2,1 1,3
Opiáceos 1,1 0,4 0,7 1,2 0,7 0,7
* Xaropes, barbituricos, orexígenos, anticolinérgicos
Fonte: Tavares, BF; Bériab, JU e Lima, MS Prevalência do uso de drogas e
desempenho escolar entre adolescentes Rev Saúde Pública 2001;35(2):150-158
Terceira Análise
Nota-se alguma diferença no consumo de drogas, analisando-se por faixa etária
e sexo? Observe as drogas licitas e ilícitas. E explique porque há um consumo maior
de ansiolíticos e anfetamínicos em adolescentes do sexo feminino.
Características sociodemográficas dos
pacientes de um centro de tratamento
para dependência de drogas do
NEPAD/UERJ, 1986-1993 (N = 468)
Variável %
Sexo
Masculino 87,7
Feminino 12,3
Idade
10 - 20 anos 23,7
21 -30 anos 54,8
> 30 anos 21,1
Situação marital
solteiro 62
casado 26,3
separado 11,7
Raça
Brancos 65,7
Pardos 24,6
Negros 9,8
Situação ocupacional
Trabalham e/ou estudam 58,4
Não trabalham e nem
estudam 41,4
Fonte: Passos, SRL, Camacho, LAB Características da clientela de um centro de
tratamento para dependência de drogas, Rev. Saúde Pública, 32 (1): 64-71, 1998.
Características da historia pessoal dos
pacientes de um centro de tratamento
para dependência de drogas do
NEPAD/UERJ, 1986-1993 (N = 468)
Variável %
Pais separados 35,9
Pais com companheiro 16
Adotado 4,6
Abandonado 13,6
Pai ausente 49,6
Rendimento escolar
Repetição de ano 49,8
Expulsão 4,2
Abuso físico 16
Morte dos pais 14
Relacionamento sexual
Nenhum parceiro 54,2
Parceiro único 37,4
Múltiplos parceiros 7,1
Procura ao serviço
Espontânea 85,4
Não espontânea 14,6
Quarta Análise
Existe uma associação muito forte entre drogas e sexo. A maior evidencia disso
estaria em filmes (por exemplo, Kids, Cristiane F, entre outros), em propagandas
(Campanha contra AIDS do governo) e em “jargões”, como: Sexo, drogas e rock´n roll.
Analisados os dados estatísticos você concorda com esta afirmação?
Quinta Análise
A Holanda, uma monarquia parlamentar e majoritariamente cristã é o país mais
permissivo e tolerante do planeta, em matéria de sexo, drogas e suicídio. Lá é
permitida a união civil de homossexuais, há uma legislação que controla o
funcionamento de bordéis e, recentemente, o Parlamento aprovou a eutanásia.
Já o consumo de drogas não é definido pela legislação. Em contrapartida, é
admitido pela polícia e pelos tribunais. A tolerância abrange apenas a maconha e
alguns alucinógenos, classificados de “drogas leves” pelas autoridades holandesas.
Cocaína e heroína, ao contrário, são “drogas pesadas” e estão proibidas.
A oferta de Cannabis, nome científico da maconha, consta dos cardápios de
1.500 bares e cafés (coffee shops) da Holanda. Cada consumidor pode comprar no
máximo 5 gramas por dia para uso próprio, afastando assim os consumidores das
“drogas leves” do mercado negro.
Algumas pessoas contrárias à legalização de drogas leves, utilizam o argumento
de que sem punição, o uso vai aumentar e usam alguns dados como este: “a Holanda
liberou o uso de maconha e ele subiu 400%. Nos Estados Unidos, o uso de álcool caiu
50% com a Lei Seca (1920-33) e só voltou ao nível anterior em 1970.”1. Comparando
com o gráfico acima, você concorda com estas afirmações? Como é o consumo de
drogas (maconha e cocaína) na Holanda comparada com os seus vizinhos europeus e
com o nosso Brasil?
Conceitos Gerais: Dependência, Abstinência, Tolerância
"Entre meus 16 e 23 anos, fiz de tudo que um drogado pode fazer. Fumei maconha,
usei cocaína e crack. Depois que meu pai morreu, torrei uma poupança que ele havia
deixado e fui vendendo tudo o que havia em casa. Minha mãe internou-me em uma
clínica, mas eu fugi - eles apenas trocavam a dependência da droga pela dos
remédios. Mergulhei de novo na droga e certa vez fiquei oito dias praticamente sem
dormir, acordando e fumando sem parar. Via minha mãe chorando e não sentia nada.
Em maio de 1997, aceitei ir para o Recanto de Vida, porque não era uma clínica.
Acordava às 6 da manhã, fazia educação física, cuidava de plantas, aprendia a
cozinhar. Acabei gostando de cumprir as tarefas de todo dia. Quando saí, achando que
estava bom, tive uma recaída; ironicamente, esta foi a melhor coisa que me aconteceu,
pois me fez perceber que apenas eu, ninguém mais, poderia mudar a minha vida.
Nesta segunda vez, internado por convicção, melhorei de verdade. Aprendi os meios
de me defender. Fiz um curso de consultor terapêutico e trabalho na própria Revim, a
comunidade onde estive. Sei, hoje, que a grande alegria não é receber, mas ajudar".
André Luiz G. Ribeiro, 29 anos, monitor.
1 Texto adaptado da Revista Época (Edição 152 de 16/04/2001) e dos sites
http://www.antidrogas.com.br/legislacao.asp e http://www.terravista.pt/Meco/1185/pshol2.html.
André com certeza conhece histórias de pessoas que foram dados como
perdidos no mundo das drogas. Alguns melhoraram, outros pioraram, uma porção
retornaram seguidas vezes para uma clínica e, por fim, passaram a viver uma vida
praticamente normal.
Passaram? Então por que há tanta gente que não volta? Por que outros morrem
de overdose? E quem garante que no futuro o dependente não vai voltar a consumir?
São perguntas desafiadoras, numa sociedade onde meninos começam a consumir
cola, crack e maconha antes dos 12 anos e onde parece não ter fim o drama de figuras
como o ex-Polegar, Rafael Ilha Pereira, que com 26 anos de idade e dez de
dependência, vive saindo de uma crise para entrar em outra. Não é preciso ser
especialista para saber que, para cada Dinei (o jogador de futebol do Corinthians, que
se safou da cocaína - ver depoimentos na próxima página) há um Maradona (o jogador
argentino que não consegue livrar-se dela); que para um Zé Ramalho (o cantor de
MPB, outro a vencer a dependência), ou um Eric Clapton (que também se curou e até
abriu uma clínica para ajudar outros dependentes), há uma Elis Regina (a cantora que
morreu de overdose em 1982), ou um Chet Baker (o trompetista que se matou ao fim
de uma longa dependência). Enfim, nesse campo é preciso ter cautela antes de se
cantar vitória.
‘As drogas de abuso constituem um grupo farmacológico extremamente heterogêneo, pouco existe em comum entre a morfina, a cocaína e os barbitúricos. O único elemento que os une é o fato das pessoas derivarem prazer da sensação produzida por essas substancia e tenderem a querer a repetir a mesma experiência. Isto se torna problemático, quando o desejo e tão intenso que passa a dominar a vida do individuo, impedindo de viver uma vida aceita pela sociedade e quando o próprio hábito causa danos ao individuo e ou a comunidade” .
Você acabou de ler dois textos. O primeiro foi adaptado da Revista Galileu e o segundo
de um livro (Farmacologia Aplicada, Rang e Dale). Com base nos relatos acima, nos
gráficos a seguir e com os seus conhecimentos prévios, como você definiria:
Dependência
Tolerância
Abstinência
Intensidade de tolerâncias farmacocinética e farmacodinâmica e dependências psíquica e física
induzidas por fármacos de uso não médico
Fármaco Tolerância Dependênci
a psíquica
Dependência
física
Etanol ++ +++ +++
Barbitúricos ++ +++ +++
Opióides ++++ ++++ ++++
Anfetaminas +++ +++ +
Cocaína + +++ +
LSD +++ + ++
Maconha + +
Solventes voláteis ++ +
Usuarios que se tornam dependentes, em % nos EUA
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Nicotina (1996)
Heroina
Cocaina
Sedativos
Estimulantes
Maconha
Aluciongenos
Alcool
Tranquilizantes
Inalantes
Fonte: The Economist/EMCDDA 2000 Annual Report, FDA, SAMHSA
Nicotina ++ ++ ++
OBS.: A intensidade da dependência física é ilustrada pela magnitude da síndrome de
abstinência correspondente.
Cocaína
Potencial de abuso da cocaína
Observe a figura abaixo, ilustrando um dos experimentos clássicos utilizado em
toxicologia de drogas de abuso. Neste experimento, o animal tem à sua disposição
uma alavanca que, quando pressionada leva à aplicação de um estímulo elétrico em
determinada região do seu cérebro, mais especificamente, na região do sistema
límbico. Este experimento é feito variando-se a freqüência (ou seja, a intensidade)
destes estímulos.
Utilizando-se esta metodologia, foi obtida a curva em linha cheia (vide gráfico
abaixo). Como poderia ser explicado o perfil desta curva?
A curva em linha tracejada mostra uma outra situação: neste caso, o animal,
antes de ser submetido à condição descrita acima, recebe uma injeção intraperitoneal
de cocaína e observa-se uma alteração no seu comportamento em relação aos
“apertões” na alavanca. Como foi alterado o seu comportamento? Como isto poderia
ser explicado? Como você imagina o comportamento do animal no máximo de resposta
alcançada (y ~ 70)? Qual seria a explicação para em ambos os casos ser atingido um
máximo de resposta (platô)?
Adaptado de: Wise et al,1992. Self-stimulation and drug reward mechanisms. Ann N Y
Acad Sci. 1992 Jun 28;654:192-8.
Modo de ação no SNC (sistema nervoso central)
1. Apresentação da animação do efeito da cocaína no SNC no computador (peça
auxílio a um dos professores).
2. Volte ao exercício anterior. Sabendo agora qual o mecanismo de ação da
cocaína no SNC (sistema nervoso central), você teria hipóteses adicionais que
pudessem explicar o perfil dos gráficos apresentados?
Vias de administração da cocaína
A cocaína pode ser administrada de diferentes modos: pela via oral (através do
chá de coca ou mascando as folhas de coca), por via intravenosa, pulmonar (quando
fumada) e nasal (aspiração do pó de cloridrato de cocaína). Abaixo temos um gráfico
que relaciona os níveis plasmáticos de cocaína no passar do tempo para as diferentes
vias de administração apresentadas. A partir destes dados, descreva cada via de
administração com relação a:
-Pico de concentração plasmática
-Duração dos efeitos da cocaína
-Tempo para iniciar o efeito
-Intensidade do efeito
Relembrando o conceito de reforço primário de uma droga: qual via de
administração da cocaína faz com que o usuário experimente um reforço maior para
voltar a usar a droga?
Para responder, leve em conta também as seguintes informações:
Metabolismo
Além do efeito central da cocaína, responsável pelo efeito prazeroso decorrente
do uso da droga, ocorrem também efeitos periféricos decorrentes do seu uso, como
midríase, hipertermia, taquicardia, aumento da pressão arterial, tremores e arritmias.
Sabemos também que a cocaína possui uma meia-vida de ~50 minutos.
Via Pureza % (teor de cocaína)
Oral Mascar folha de coca: 0,5-1
Intranasal 20-80
i.v. 7-100
Intrapulmonar
(fumada)
Pasta de coca: 40-85
Base livre: 90-100
Crack 50-95
Concentração
Plasmática
OBS: t1/2 =meia-vida= tempo que leva para diminuir à metade o nível de uma
substância no organismo em decorrência de sua metabolização.
Diferentes metabólitos podem ser formados a partir da cocaína. Dentre estes, o
principal é a benzoilecgonina, que pode ser encontrada na urina 2 a 5 dias após o uso
da droga (ou após 10 dias para altas doses) e é usada para detecção de usuários.
Observe abaixo a reação que gera a benzoilecgonina.
Os usuários de cocaína muitas vezes costumam associar esta droga com outras.
Dentre estas associações, podemos citar como exemplo o bazuco, quando maconha e
cocaína são fumadas juntas, ou mesmo os speedballs, combinação de cocaína com
heroína. Contudo, a associação mais freqüente é a com o álcool, um depressor do
sistema nervoso central. Entretanto, tal associação gera, mediante reação entre a
cocaína e o etanol, o metabólito denominado cocaetileno (estrutura abaixo), que é
eqüipotente à cocaína e que possui meia-vida de ~ 2 h.
1. Como você explicaria a razão para se associar a cocaína com o etanol?
2. Quais devem ser as conseqüências da geração de cocaetileno no organismo?
Cocaetileno
Cocaína BenzoilecgoninaCocaína
Cafeína
Figura 1: Conteúdo de cafeína em alimentos populares, bebidas, refrigerantes e energéticos (Slavin &
Joensen. Caffeine and sport performance. The Physician and Sports Medicine, 13:191-193, 1995).
Produtos Cafeína (mg) Produtos Cafeína (mg)
Café (xícara de 150 mL) Produtos com chá
De máquina 110-150 Chá instantâneo 12-28
De coador 64-124 (Xícara de 150 mL)
Instantâneo 40-108 Chá gelado 22-36
Descafeinado inst. 2-5 (Xícara de 350 mL)
Chá Chocolate
(Granel ou Saquinhos)
(xícara de 150 mL) Feito a partir de mistura 6
Chocolate ao leite
(28g) 6
Infusão de 1 minuto 9-33
Chocolate de conf.
(28g) 35
Infusão de 3 minutos 20-46
Infusão de 5 minutos 20-50
Energéticos
(mg/250mL)
Refrigerantes
(mg/350mL) Flash Power 80
Red Bull 80
Coca-Cola 46
Diet Coke 46
Medicamentos
(mg/cápsula)
Pepsi Cola 38.4
Diet Pepsi 36 Vivarin 200
Guaraná 30 Tylenol 0-30
Soda/Sprite 0 Aspirina 0-30
Figura 2: Classificação do usuário em relação à ingestão diária de cafeína (Adaptado
de Daniels et al., 1998; Graham & Spriet, 1991; Van Soeren et al., 1993).
Quantidade de cafeína (mg/dia) Possibilidade de Habilitação Tipo de Usuário
>720 Sim Usuário intencional
450-720 Sim Usuário moderado
120-150 Sim Usuário habitual
30-100 Não Usuário não habitual
<20 Não Não usuário
Escreva nesta página as suas perguntas sobre a cafeína que você acha que
possam vir a serem esclarecidas nesta aula de bioquímica - alguma dúvida ou
curiosidade que você sempre quis ver respondida sobre a cafeína, seus efeitos e
sensações.
Mecanismo de Ação Funcionamento dos receptores de adenosina
Mecanismo de Sinalização Intracelular
1) o hormônio se liga ao seu receptor
2) a Proteína G é ativada
3) a Proteína G ativa a adenilato ciclase
4) a adenilato ciclase inicia a síntese de AMPc (adenosina monofosfato cíclico)
5) o AMPc iniciará uma série de respostas intracelulares: ativação de enzimas metabólicas
Mecanismo de Ação
Funcionamento dos receptores de adenosina
Os receptores de adenosina atuam de forma regulatória no mecanismo proteína G / adenilato ciclase, inibindo ou estimulando a síntese de AMPc e assim regulando o metabolismo celular.
Efeitos Fisiológicos
Efeitos na fadiga e no sono
receptores de adenosina localizados nos neurônios
regulam a liberação de neurotransmissores
adenosina: inibição da atividade cerebral
adenosina: estimulação da atividade cerebral
cafeína: estimulação da atividade cerebral
cafeína: inibição da atividade cerebral
Efeitos Fisiológicos
Efeitos na fadiga e no sono
receptores de adenosina localizados nos neurônios
regulam a liberação de neurotransmissores
cafeína: estimulação da atividade cerebral
Efeitos estimulantes
elevação das atividades cerebrais e metabólicas
elevação da liberação de adrenalina
Nota: os efeitos principais da adrenalina são - aceleração cardíaca, desvio do fluxo de sangue do sistema digestivo e da pele para os músculos, aceleração da respiração e elevação do consumo de açúcar sanguíneo.
Efeitos Fisiológicos
Efeitos na performance física
receptores de adenosina localizados nas células do tecido adiposo
regulam a degradação das reservas lipídicas
adenosina: inibição da degradação das reservas
adenosina: estimulação da degradação das reservas
cafeína: estimulação da degradação das reservas
cafeína: inibição da degradação das reservas
Efeitos Fisiológicos
Efeitos circulatórios
receptores de adenosina nos vasos sanguíneos cerebrais
regulam o fluxo de sangue para o cérebro
adenosina: dilatação dos vasos e elevação do fluxo de sangue
adenosina: contração dos vasos e redução do fluxo de sangue
cafeína: contração dos vasos e redução do fluxo de sangue
cafeína: dilatação dos vasos e elevação do fluxo de sangue
Nota: fluxos elevados de sangue ao cérebro são as principais causas das dores de cabeça comuns.
Anfetaminas
Atividade 1
Elaborar em grupo um esquema a partir do texto “Anfetamina e Doping”
utilizando cartolina, canetas coloridas e régua.
Apresentar a montagem do esquema para a classe.
Texto 1: Anfetamina e o Doping
A anfetamina, a metanfetamina, a dextroanfetamina e outras, por induzirem
estimulação do SNC, propiciam maior quantidade de trabalho físico, e estão incluídas
como substâncias proibidas em competições esportivas. Essas drogas liberam grandes
quantidades de adrenalina dos neurônios. A adrenalina, transportada pela corrente
sangüínea até as células musculares, liga-se a sítios receptores específicos na
membrana celular do músculo e ativa a proteína G. Assim que estes sítios na
membrana plasmática são ocupados, a adenilato ciclase é convertida de um estado de
repouso inativo a um estado de atividade máxima. A adenilato ciclase produz o AMP
cíclico (AMPc) a partir de ATP. O AMP cíclico está no interior da célula e fica
aumentado no músculo de 100 vezes ou mais. O AMP cíclico ativa a proteína quinase
e esse é o primeiro passo numa amplificação em cascata que converte a proteína
quinase de sua forma inativa em ativa. Esta por sua vez transforma a fosforilase b
(inativa) em fosforilase a (ativa) e esta estimulação da fosforilase promove a quebra do
glicogênio produzindo grandes quantidades de glicose1-fosfato e, a partir dessa,
glicose-6-fosfato. A conversão da fosforilase b a fosforilase a é considerada como
mecanismo para aumentar a velocidade da glicogenólise. Por outro lado, não só a
fosforilase é ativada por uma elevação na concentração de AMP cíclico, mas também a
proteína-quinase ativa converte a glicogênio-sintase ativa em sua forma inativa. Assim,
o desdobramento e a síntese de glicogênio não ocorrem simultaneamente, um aspecto
importante do controle metabólico do glicogênio.
Embora o músculo esquelético contenha pouca quantidade de glicogênio,
quando comparado ao fígado, o glicogênio muscular é essencial ao organismo porque
sua quebra pela fosforilase ativa fornece uma fonte imediata de glicose 6-fosfato para
ser metabolizada na glicólise até ácido lático e para produção de ATP, fornecendo
energia para as atividades violentas e rápidas.
Atividade 2
Os professores receberam um crachá contendo parte de uma frase de dois
textos: “Rebite e Ecstasy”. O grupo deve se organizar de modo a colocar as frases em
uma seqüência lógica. Em seguida cada grupo deve apresentar as frases para o
restante da classe. O outro grupo fará a leitura do texto e se julgar necessário deverá
fazer alguma alteração na ordem das frases.
Texto 2: Rebite
a pessoa tem insônia, inapetência, sente-se cheia de energia fala mais rápido
ficando “ligada”
anfetaminas afetam os comportamentos humanos
ao parar de tomar a pessoa sente astenia ficando deprimida
bastante aumentado e excessivamente prolongado e a pessoa “apaga” de repente
caminhoneiros ingerem comprimidos conhecidos como rebites
doses exageradas provocam paranóia e alucinações
já imaginou as conseqüências se isso ocorre quando se está dirigindo?
o cansaço aparece horas mais tarde quando a droga já se foi do organismo
o principal fator de risco é quando passa o efeito, podendo acontecer antes do
esperado
o sono vem mais rapidamente do que o habitual
o tempo de ação não é inteiramente previsível
os efeitos dependem da dose, do peso, da personalidade e da sensibilidade de
cada um
produzem dilatação da pupila deixando os motoristas ofuscados pelos faróis à noite
provocam taquicardia, hipertensão, broncodilatação
se uma nova dose for tomada as energias voltam, mas com menos intensidade
Texto 3: Ecstasy
a liberação excessiva danifica terminações nervosas interferindo na tomada de
decisão, julgamento e memória
a serotonina acaba e a biossíntese não atende a demanda
associado a bebidas alcoólicas pode provocar choques cardiorespiratórios
chega-se ao estado de depressão e esgotamento entre 6 e 8 horas após ingestão
da droga
conhecido como ecstasy, X, E, XTC, Adam e tem intensa atividade psicotrópica
é o mesmo sítio ativado por drogas psicodélicas
é vendida na forma de pó, drágeas ou em cápsulas
está associado ao humor, euforia, as sensações amorosas
facilita a comunicação devido à supressão do medo e da insegurança
interfere nos neurônios que contém serotonina
liberando todo o seu estoque mesmo sem impulso nervoso
MDMA em 1912 foi sintetizado e patenteado pela Merck
nas raves os usuários costumam ingerir litros de água
por dificultar a sua recaptação e estimular sua liberação pelos neurônios pré-
sinápticos
provoca espasmo muscular, elevação da temperatura até 42 ºC e intensa
desidratação
Biossíntese da Adrenalina
Comparação das Estruturas
Modo de Ação das Anfetaminas
Álcool
MAPA II
Asp – aspartato
Gly – glicina
Ala – alanina
Ser – serina
Cys – cisteína
Leu – leucina
Ile – isoleucina
O metabolismo do etanol inicia-se com as seguintes reações:
Questões para Estudo
1. Quatro indivíduos, da mesma idade, peso e altura, fizeram adições à sua dieta. O
indivíduo A adicionou 63 g de carboidrato; B, 28 g de lipídio; C, 63 g de proteína e
D, 36 g de etanol. Consultando a tabela seguinte, prever qual dos indivíduos
ganhará mais peso.
Alimento Valor calórico (kcal/g)
Carboidrato 4
Lipídio 9
Proteína 4
Etanol 7
2. Usando o Mapa II, estabelecer entre carboidratos, proteínas e lipídios, quais são
as interconversões possíveis.
3. A quantidade celular de [NAD+ + NADH] é pequena e constante. Se houver uma
ingestão de grandes quantidades de etanol, qual forma da coenzima deve
predominar?
4. Que conseqüência acarreta a ingestão de grande quantidade de etanol sobre o
equilíbrio entre piruvato e lactato?
5. Na condição descrita em 3 e 4, é possível converter glicina, alanina, serina e
cisteína a glicose?
6. Sabendo que a conversão de aminoácidos a glicose (gliconeogênese) é um
processo importante para a manutenção da glicemia (concentração plasmática de
glicose) durante os períodos de jejum, qual a conseqüência da alta ingestão de
etanol sobre o nível glicêmico?
7. Indivíduos em pré-coma alcoólico são habitualmente tratados por administração
intravenosa de glicose. Este procedimento é justificável?
8. A maior parte dos efeitos da embriaguez (náuseas, vômitos aumento da pressão
arterial, rubor facial e desconforto geral) é provocada por níveis elevados de
acetaldeído. Com base nas seguintes informações, comparar a sensibilidade a
etanol entre as populações ocidental e oriental:
a. A atividade da enzima 1 é maior nos orientais do que nos ocidentais.
b. A atividade da enzima 2 é maior nos ocidentais do que nos orientais.
9. O medicamento Dissulfiram inibe a enzima 2. Por que sua administração é
utilizada na tentativa de recuperação de alcoólatras?
10.Observe as reações de metabolização do etanol e indique qual metabólito do
Mapa II terá sua concentração aumentada.
11.As concentrações dos metabólitos do Ciclo de Krebs são sempre constantes. Com
base na sua resposta da questão anterior e nos equilíbrios do Mapa II, o que pode
acontecer com as células hepáticas de um consumidor crônico de álcool
(alcoolismo).
12.Sabendo que os lipídios precisam de proteínas para ser transportados do fígado
para o tecido adiposo, que conseqüência terá a alta ingestão de etanol?
Etanol no sistema nervoso
Efeitos diretos na membrana:
Da mesma forma que os hipnóticos, sedativos e agentes anestésicos gerais, o
álcool é solúvel nos lipídios das membranas celulares, o que a torna mais densa e
mecanicamente estável. Este fato interfere em inúmeros processos que exigem
mudanças rápidas e reversíveis na estrutura da membrana.
As mudanças rápidas nos fluxos de Na+ e K+ que são as bases do potencial de
ação, sofrem redução. A condução do impulso nervoso e a contração muscular
(músculos lisos, esqueléticos e cardíacos) são, portanto, deprimidas frente à
concentração de álcool relativamente alta. Quanto menor o diâmetro da fibra nervosa,
maior será o efeito de uma dada quantidade de etanol.
O transporte ativo de Na+, K+ e aminoácidos diminui em decorrência da inibição
da ATPase da membrana. Esta inibição diminui processos como, por exemplo,
recaptura de noradrenalina nas terminações nervosas simpáticas, que é relacionada
com canais de Na+.
O álcool fluidifica as membranas, dissolvendo o componente lipídico e
diminuindo a viscosidade. Com o tempo, a membrana celular torna-se mais rígida e
menos sensível ao efeito fluidificante do álcool. Estas alterações seriam consistentes
com o desenvolvimento de tolerância (devido à menor sensibilidade da membrana,
precisar-se-ia maior quantidade de álcool) e na ausência de álcool, o desarranjo da
membrana pode contribuir para o aparecimento dos sintomas de abstinência. De fato,
as membranas de células sinápticas de animais tolerantes ao álcool mostram
resistência aos efeitos do etanol. Todavia este mecanismo é incapaz de explicar toda a
complexidade dos fenômenos de tolerância e dependência física.
Etanol x GABA
Para entender a ação do álcool é preciso examinar o papel dos
neurotransmissores – moléculas que fazem a comunicação entre as células nervosas
na altura das sinapses. A molécula de GABA (ácido gama-aminobutanóico), sintetizado
a partir do aminoácido glutamato, normalmente age ligando-se num sítio específico dos
canais iônicos da célula nervosa de uma sinapse, inibindo a atividade celular. Essa
inibição resulta da distorção causada pelo GABA na estrutura local da membrana da
célula, alargando na essência os canais através dos quais os íons Cl- podem passar
em direção à célula.
A concentração interna mais alta desses ânions modifica a diferença de
potencial através da membrana e a célula torna-se incapaz de disparar
(hiperpolarização). O neurotransmissor GABA é responsável pela maior parte da
inibição de sinapses do Sistema Nervoso Central.
A molécula de etanol liga-se à mesma proteína que a molécula de GABA, mas
numa posição vizinha, e a distorce ligeiramente. Em conseqüência, o GABA pode se
ligar mais facilmente à proteína. Portanto, a presença de etanol no fluido que circunda
a sinapse influencia indiretamente o disparo e a voltagem graças à membrana da célula
nervosa, através do fortalecimento da ligação da molécula de GABA e da abertura dos
canais de Cl-.
Outro efeito fisiológico que acompanha a ingestão de bebidas alcoólicas é a sua
interferência na produção de alguns hormônios antidiuréticos, o que conduz à secreção
exacerbada de água. O álcool também causa a dilatação dos vasos sangüíneos,
resultando num aumento da do fluxo de sangue através dos capilares subcutâneos, o
que dá coloração rosada à face, juntamente com a sensação de calor.
Questões para Estudo
1. 1 A partir do texto acima, explique se o álcool é depressor ou estimulante do
SNC.
2. A figura abaixo mostra um esquema do canal de cloreto estimulado por GABA e
os sítios de ligação para diversas drogas.
Explique o que pode ocorrer se um indivíduo consumir álcool em associação
com as seguintes drogas: Aspirina, Valium (benzodiazepínico), Fenobarbital
(antiepilético).
Inalantes
Tolueno
Figura 1. Danos ao cérebro de uma pessoa que abusava de tolueno
As imagens acima demonstram visivelmente atrofia (encolhimento) do cérebro
de uma pessoa que abusava de tolueno (B), comparado ao cérebro uma pessoa
normal (A). Nota-se o tamanho menor e o grande espaço vazio (preto) no cérebro da
pessoa que abusava de tolueno (O círculo externo branco, em ambas as imagens, é o
crânio). (site: http://www.nida.nih.gov/DrugPages/Inhalants.html)
Figura 2. Deterioração das Fibras Nervosas em uma pessoa que abusava de inalantes
As regiões coradas mais escuras mostram áreas onde as fibras nervosas
perderam a sua camada isolante, essa porção de tecido foi removida do cérebro de
uma pessoa que abusava de inalantes.
(site: http://www.nida.nih.gov/DrugPages/Inhalants.html)
Figura 3
Bromopropanos
Foi realizado um estudo com ratos expostos a 1000 ppm de 2-bromopropano e
1-bromopropano. Durante as 5 primeiras semanas de exposição, ratos do grupo de 1-
bromopropano começaram a andar com dificuldade, com o seu membro inferior sendo
arrastado pelo chão com a pata virada para cima. Esses membros acabaram sofrendo
paralisia. Os outros ratos demonstraram os mesmos sinais após 6 semanas de
exposição. O peso corpóreo dos ratos paralisados diminuiu drasticamente e eles
chegaram a emagrecer seriamente. Então, eles foram sacrificados para estudo
histopatológico.
O estudo histopatológico consiste em fazer lâminas com as células dos ratos e
verificar se houve alguma mudança nos seus tecidos e células. No caso desses ratos
foram feitas lâminas dos neurônios e foi observado que no caso dos ratos controles,
não expostos a bromopropanos, esses neurônios estavam normais. Porém, quando
foram analisados os neurônios dos ratos expostos a 1000 ppm de 2-bromopropano foi
verificado o acúmulo de neurofilamentos nos nódulos de Ranvier, formando estruturas
aumentadas como bolas (figura 4.). Além disso, também foi observado, nos ratos
expostos a 1-bromopropano, a destruição do axônio e da mielina dessas regiões
afetadas. (Environmental Research Section A 85, 48-52, 2001)
Figura 4.
PERGUNTA:
1. O que é anatomicamente a camada isolante?
2. O nosso corpo funciona através de sinais que chegam no nosso cérebro através
dos neurônios, o que você esperaria se esses sinais fossem bloqueados ou
simplesmente diminuíssem?
n-HEXANO
O termo neuropatia (danos ao neurônio) por hexacarbonetos tem sido aplicado
para uma síndrome que induz quimicamente axonopatia, danos ao axônio, porque os
agentes conhecidos por produzir essa axonopatia possuem todos 6 carbonos na sua
estrutura. n-pentano, com 5 carbonos, e n-heptano, com 7 carbonos, não
demonstraram indução a neuropatias nem distúrbios na velocidade de condução do
nervo. A exposição a n-hexano, com 6 carbonos, gera metabólitos como 2-hexadiona,
5-hidroxi 2-hexadiona, 2,5-hexadiona, que são os responsáveis por esse efeito. (J.
Toxicol. Environ. Health 6:621-31 1980)
Assim como no exercício anterior, já está bem estabelecido que a neuropatia é
precedida de acúmulo neurofilamentos nos nódulos de Ranvier, no axônio. Esse
acúmulo de neurofilamentos tem sido associado ao bloqueio da rapidez no transporte
axonal. Em resumo, a reunião de proteínas filamentares presentes no neurônio
próximas aos nódulos de Ranvier resultam na agregação neurofilamentar, levando a
obstrução do transporte do impulso nervoso no axônio, e assim, causando a
degeneração do neurônio. (Brain Res, 133:107-18)
Uma diminuição da energia do metabolismo também tem sido proposta para
explicar o mecanismo de ação neurotóxica desses compostos com 6 carbonos.
Estudos levam a hipótese de que esses compostos inibem as enzimas da via
glicolítica, dependendo da dose. A inibição dessas enzimas também tem demonstrado
bloqueio na velocidade de condução no axônio. (Brain Res. 202:131-42, Ann. Rev. Pharmacol.
Toxicol. 22: 145-66)
PERGUNTAS:
1. Um fabricante de cola lançou a seguinte campanha: “Não é tóxica por não conter
tolueno”, mas na sua formulação essa cola contém n-hexano. Será que a
informação passada pelo fabricante é verdadeira?
2. Qual é a implicação da inibição das enzimas da via glicolítica?
Benzeno
Assistir ao software – RADICAIS LIVRES
A grande produção de metabólitos de benzeno no fígado é demonstrada pelo
seu transporte na medula óssea e outros órgãos.
Figura 5.
Tabela 1. Impacto dos metabólitos do benzeno: a hidroquinona (HQ), a p-
benzoquinona (BQ) e a 1,2,4-benzenotriol (BT), na produção de radicais livres e fatores
antioxidantes em células (Environmental Health Perspectives 104(6), 1996).
Fator HQ BQ BT
Superóxido
Óxido Nítrico =
Peróxido de Hidrogênio
Catalase =
SOD =
Vitamina C = = =
Glutationa (GSH) =
Legenda: (=) sem mudança, () diminuição, () aumento
Tabela 2. Número de linfócitos B (x 106/baço) em ratos que inalaram 0, 1, 10, 100 e
200 ppm de benzeno por até 8 semanas (média de 3 ratos) (Toxicology 118: 137-148, 1997).
Semanas de ExposiçãoAr
(controle)
Benzeno
1 ppm 10 ppm 100 ppm 200 ppm
1 semana 70 2 78 9 63 2 45 8 31 3
2 semanas 68 6 62 7 44 6 27 1 10 2
4 semanas 68 7 72 6 63 2 17 7 5 2
8 semanas 86 1 82 1 93 9 27 1 7 0.2
PERGUNTAS:
Benzeno HQ, HB e HT Dano ao DNAAumento na Produção
de Radicais Livres
1. De acordo com o esquema e a tabela mostrados o que se pode dizer do
potencial efeito tóxico do benzeno?
2. Além dos efeitos neurológicos e ao DNA, a análise da tabela leva a outras
implicações no organismo?
Nitritos
Figura 6. Gráfico demonstrando a viabilidade de macrófagos tratados in vitro com
nitritos.
Figura 7. Viabilidade in vitro de nitritos inalantes. Macrófagos, células de defesa, foram
expostos por 45 minutos a 0, 1,5, 3 ou 6 mM de isobutil, isoamil ou butil nitrito. Células
viáveis foram contadas usando exclusão por trypan blue (substância azul que penetra
em células mortas, mas não consegue penetrar em células vivas).
Várias concentrações de isobutil, isoamil, butil nitrito e peroxinitrito foram
adicionados a culturas de células. Depois de 45 min. as preparações mitocondriais
foram testadas quanto à respiração celular, os resultados estão demonstrados no
gráfico acima. (Toxicology Letters 132, 2002, 37-45)
PERGUNTA:
Descubra as palavras omitidas e encontre o texto relacionado às figuras anteriores.
Esse estudo demonstrou uma dramática _____________ de células viáveis,
macrófagos em cultura. Sugerindo que os ____________ __________ podem matar
diretamente ____________ em cultura. A ________ significante da respiração (%)
ocorreu em _________ concentrações de agente.
Tabaco
Atividade 1
Interprete, com ajuda da legenda, o mecanismo de ação da acetilcolina no
“centro da recompensa".
Legenda:1. Neurônio periférico que “conversa” com neurônios do “centro da recompensa” através da liberação de acetilcolina. O local onde ocorre essa “conversa” (onde são liberados os neurotransmissores) é a fenda sináptica.2. População de receptores de acetilcolina na membrana dos neurônios que formam “centro da recompensa”3. Receptor de acetilcolina: proteína situada na membrana da célula neuronal composta de 5 subunidades. Essa estrutura funciona como um canal, permitindo a passagem de cátions quando estimulada por acetilcolina.4. Acetilcolina: neurotransmissor que se liga ao receptor de acetilcolina promovendo mudanças na estrutura do mesmo, levando à abertura do canal. 5/6. Cátions (ex: Sódio): com o canal aberto, podem “entrar” na célula promovendo formação de corrente elétrica nos neurônios.
Após ter compreendido o mecanismo de ação da acetilcolina, você seria capaz de interpretar a animação do “mecanismo de ação da nicotina”?
Copyright 1996 Gayle Gross de Nunez and SAVANTES
http://www.neuroguide.com/nicotine.htmlMolécula de
Nicotina
Receptor
Atividade 2
Como visto na animação, a nicotina atua no mesmo receptor da acetilcolina,
ocasionando sua abertura e consequente passagem de cátions para dentro do
neurônio, promovendo a formação da corrente elétrica. Entretanto, diferenças na
ativação desse “canal” determinam efeitos característicos dos dois compostos, o que
explica parte do mecanismo responsável pela dependência por nicotina, como
veremos:
“Pesquisas recentes mostram que a corrente elétrica gerada pela ligação de
acetilcolina em seus receptores é de grande intensidade mas de curto espaço de
tempo, ou seja, no caso do funcionamento normal do cérebro, há uma grande
estimulação do neurônio durante pouco tempo. Ao contrário, a nicotina estimula esses
neurônios gerando corrente de pouca intensidade mas durante longo intervalo de
tempo, o que em parte poderia explicar o processo de dependência gerado pela
nicotina.”
Adaptado de: Dani et al, 2001. Cellular mechanisms of nicotine addiction. Pharmacology, Biochemistry,
and Behavior. 70, 439-446
As questões abaixo visam esclarecer o trecho acima:
1. Sabendo que na fenda sináptica existem várias enzimas com atividade de
estearase (enzimas que quebram ésteres) qual composto, nicotina ou
acetilcolina, permaneceria por mais tempo na fenda sináptica?
Observe as estruturas abaixo para responder a questão.
N
N
Nicotina
O
N
OAcetilcolina
2. Em um experimento (visando diferenciar a ação da nicotina/acetilcolina) foram
isolados neurônios que possuíam os reptores de acetilcolina, como os mostrados no
esquema anterior. A resposta desses neurônios, frente aos dois compostos, pôde ser
determinada através do uso de eletrodos que mediram a corrente gerada devido à entrada
de cátions. Os resultados obtidos foram os seguintes:
Estimulação dos neurônios com: Medida da corrente
neuronal ( após última
adição de Acetilcolina )
Acetilcolina durante 3 min +++++
Acetilcolina durante 3 min + reforço de
Acetilcolina durante 3 min
+++++
Nicotina durante 3 min + reforço de Acetilcolina
durante 3 min
+
Analisando os dados da tabela, qual a diferença na função desses receptores
quando os mesmos são pré-tratados com nicotina ou acetilcolina?
Você poderia propor a causa de tal diferença?
3. Um dos fatos mais marcantes em relação à dependência de nicotina é o
aumento do número de receptores de acetilcolina nos neurônios das pessoas
que fumam. Baseando-se nas respostas anteriores, qual seria a razão de tal
aumento observado nos fumantes?
Preencha a tabela abaixo, utilizando a mesma notação da Questão-2, sugerindo
qual seria a “resposta” desse aumento do número de receptores na corrente de
neurônios provenientes de um grupo de fumantes regulares e um grupo de fumantes
que permaneceram em estado de abstinência durante 1 semana?
Estimulação dos neurônios com acetilcolina Medida da corrente neuronal
Fumantes regulares
Fumantes em abstinência durante 1 semana
4. O grupo de fumantes que permaneceram sem fumar durante 1 semana
apresentaram comportamentos muito característicos da “Síndrome de
Abstinência” provocada pela retirada de nicotina do organismo. Baseando-se na
diferença da “medida da corrente neuronal” proposto no exercício anterior, você
conseguiria imaginar a causa dos comportamentos mostrados no desenho
abaixo?
Atividade-3
“Foi-se o tempo em que cigarro na mão era sinônimo de bad boy ou
desajustado, uma imagem sedutora para os que sofriam os revezes das explosões
hormonais. Hoje, a nicotina é mais democrática, atinge todas as tribos: playboys,
patricinhas, a galera do fundão, nerds e skatistas. “O cigarro já pegou todo mundo” diz
Ronaldo Pelazari*,16, fumante desde os 14 que está tentando parar por ordem médica-
ele sofre de asma e já teve uma parada respiratória. Segundo especialistas, a adesão
dos adolescentes ao tabaco é facilitada por duas características: eles subestimam a
dependência e se iludem que podem parar quando quiserem. De acordo com dados da
OMS (Organização Mundial da Saúde) 90% dos adultos fumantes começaram a fumar
entre 5 e 18 anos, sem perceber o efeito viciante da nicotina.”
Adaptado de “Fumaça na Matinê” in Revista da Folha, 15 de Setembro, 2002. *nome fictício.
O tabaco, por ser uma droga lícita e “socialmente aceita”, é muitas vezes tido
como menos perigoso do que as substâncias ilícitas, levando a impressões erradas,
principalmente por parte dos adolescentes. A nicotina é o componente do cigarro
responsável pela dependência do ato de fumar e seu poder viciante já foi testado como
mostra esse estudo utilizando a mesma metodologia do experimento de auto-
administração em animais visto no exercício para cocaína.
Assim como já descrito, um eletrodo é adaptado na cabeça do camundongo
permitindo a estimulação elétrica específica da região do cérebro denominada “centro
da recompensa”. O camundongo é acondicionado em uma gaiola contendo uma
alavanca que, se pressionada, permite a descarga elétrica de freqüência controlada
nessa região cerebral do camundongo.
Para cada ajuste de freqüência do eletrodo (0Hz / 10Hz / 20Hz....90Hz / 100Hz)
foi anotada a quantidade de vezes por minuto que o camundongo pressionava a
alavanca nos moldes do experimento já mostrado. Entretanto, nesse experimento, foi
administrada ao camundongo, ao invés de cocaína, uma injeção de nicotina, sendo os
resultados resumidos no seguinte gráfico:
Adaptado de: Wise et al,1992.Self-stimulation and drug reward mechanisms. Ann N Y Acad Sci. 1992
Jun 28;654:192-8.
1. Comparando o perfil de resposta a diferentes estímulos elétricos nos dois grupos
de camundongos (tratados ou não com injeção de nicotina), verificamos
claramente que os tratados com nicotina apresentam um comportamento de
“múltiplos apertões/min” em freqüências de estímulo elétrico baixas, que ainda
não eram capazes de promover resposta no grupo de camundongos controle.
Considerando o “mecanismo de ação” da nicotina qual seria a causa de tal
diferença nos dois grupos?
2. Comparando esse experimento com visto para cocaína é possível o cigarro de
tabaco (nicotina) ser considerado uma droga que causa “menos dependência”
do que outras drogas?
3. Recorde as seguintes definições e responda a pergunta a seguir:
Reforço primário: efeitos farmacológicos agradáveis decorrentes de ação de uma
substância no “centro da recompensa” do cérebro, que condicionam sua auto-
administração contínua.
Reforço secundário: atitudes sociais ou estímulos ambientais que contribuem para
fortalecer um padrão de comportamento de auto-administração da droga inteiramente
independente de seus efeitos farmacológicos.
Quais os “prós” e os “contras” que podem ser levantados em relação a esse tipo
de experimentos com animais que estabelecem o “poder viciante” de uma droga?
Atividade-4
A folha de tabaco, além da nicotina, possui em sua constituição mais de 500
compostos químicos. Entretanto, durante o ato de fumar, cerca de 5000 compostos
diferentes são formados sendo que 80 deles já foram descritos como tendo potencial
carcinogênico. O alcatrão é uma mistura destes compostos formada por
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas, íons metálicos entre muitos
outros.
Em 1979, Bruce Ames criou um teste bastante sensível para a rápida
determinação do potencial carcinogênico de compostos químicos. O teste, conhecido
como “Teste de Ames”, consiste no uso de bactérias para determinar o risco de certas
substâncias em causar câncer.
Basicamente, os agentes carcinogênicos são capazes de alterar o material
genético dessas bactérias permitindo que elas cresçam em um meio carente de
nutrientes. Isso porque essa “alteração no material genético” permite que a bactéria
produza o nutriente que não está disponível no meio de cultura, podendo assim se
multiplicar com facilidade. Observe esquema abaixo:
Adaptado de: Ames, B.N.,1979. Identifying environmental chemicals causing mutations and cancer.
Science. 204: 587-593.
Um aluno utilizou o “teste de Ames” para determinar o potencial carcinogênico
da nicotina e do alcatrão. Eles “semearam” uma mesma quantidade de “bactérias de
Ames” em diferentes placas contendo meio carente de nutrientes e verificaram o
crescimento das bactérias após 2 dias (tempo suficiente para verificar se houve
crescimento) nas diferentes condições, conforme esquema seguinte:
Resultados observados (obs: Cada “bolinha” presente na placa representa uma colônia de bactérias constituída de milhares de indivíduos):
Meio carente de nutrientes
Agente com potencial carcinogênico Agente não
carcinogênico
Placa 1: bactérias de Ames (+) aplicação de água no centro da placa.Placa 2: bactérias de Ames (+) aplicação de nicotina no centro da placa.Placa 3: bactérias de Ames (+) aplicação de alcatrão no centro da placa.Placa 4: bactérias de Ames (+) aplicação de alcatrão no centro da placa (+) extrato de fígado de camundongo.Placa 5: bactérias de Ames (+) aplicação de alcatrão no centro da placa (+) extrato de fígado de camundongo exposto cronicamente à ingestão de etanol.
1. Através dos resultados observados nas placas 2 e 3, o que pode ser dito sobre o
potencial carcinogênico da nicotina e do alcatrão?
As placas 3, 4 e 5 representam condições diferentes de teste do potencial
carcinogênico do alcatrão. Com base nessas diferenças, responda as questões abaixo:
2. Qual seria a razão da diferença dos resultados encontrados nas placas 3 e 4?
Qual dos experimentos, placas (3 ou 4), deve correlacionar melhor com o que
realmente ocorre no organismo humano?
3. Utilizando extrato de fígado de rato submetido cronicamente à ingestão de álcool
(placa 5) verificamos o maior crescimento das bactérias de todo o experimento!
Você poderia propor uma causa provável de tal resultado? Qual seria o perigo
da associação entre álcool e nicotina no que se refere ao risco de câncer?
Maconha
Texto 1 – O Uso da Cannabis
(http://www.quimica.matrix.com.br/artigos/maconha/planta.html)
“A espécie mais consumida é a Cannabis sativa (hemp): uma planta da família
Cannabaceae, que há séculos tem sido cultivada por causa de sua fibra, suas
sementes e seu poder narcótico: das folhas e flores, duas drogas são extraídas: a
marijuana e o hashish. Ao contrário do que muitos podem acreditar, o uso desta
planta como narcótico é, de longe, ultrapassado por suas fibras e sementes.
O cultivo do hemp teve origem na Ásia central; na China, por exemplo, existem
registros do uso das fibras de hemp mesmo antes do ano 2800 A.C.. O hemp é uma
planta que cresce em zonas temperadas e é cortada anualmente. Pode atingir 5 metros
de altura, mas a altura média oscila entre 2 a 3 metros. As folhas são digitadas e as
flores são pequenas e amareladas.
As fibras são obtidas através de uma série de operações, incluindo o
desfolhamento, a secagem, esmagamento e agitação, que separam as fibras da
madeira, resultando em longas e finas fibras, de cerca de 1,8 metros. Estas fibras são
fortes e duráveis, e são utilizadas para a fabricação de cordas, cabos, esponjas,
tecidos (similar ao linho) e fios. O óleo é obtido das sementes (cerca de 30% em peso)
e é utilizado para o preparo de tintas, vernizes, sabões e óleo comestível. O maior uso
das sementes, entretanto, é para a alimentação de pássaros domésticos. Os maiores
consumidores das sementes de hemp são a Itália, UK, Bélgica, Alemanha e França.
Também da China vem o primeiro registro do uso da Cannabis sativa por seus
efeitos narcóticos: no ano 2700 A.C. a cannabis era utilizada na medicina chinesa
como um analgésico, anestésico, antidepressivo, antibiótico e sedativo. No decorrer da
história, vários povos encontraram usos medicinais para a cannabis. Mais
recentemente, no século XIX, a planta era indicada para o tratamento da gonorréia e da
angina! O principal ingrediente ativo na Cannabis sativa é o tetrahidrocannabinol
(THC), que está presente em praticamente todas as partes da planta, mas
principalmente nas flores e na resina das fêmeas.
O uso como narcótico para fins não medicinais, entretanto, é bastante difundido
no mundo inteiro, através de várias formas de preparto e consumo da erva. Marijuana,
hashish, charas, ghanja, bhang, kef e dagga são algumas das maneiras que a
cannabis pode ser consumida. Hashish - o nome deriva da secção dos Mohammedan
conhecidos como Hashishin ou "assassinos", que, liderados pelo Persa Hasan-e
Sabba, combateram as Cruzadas nos séculos XI e XII - é a forma mais potente do
consumo de cannabis (contém cerca de 15% de THC!), sendo cerca de 12 vezes mais
forte do que a marijuana. Consiste, basicamente, na resina liberada pelas plantas
(cannabin). Usuários africanos comem (misturado com bolos ou biscoitos) ou fumam o
hashish; muitas vezes, utilizam o "cachimbo-d'água" - bong ou narguilé - para suavizar
a forte fumaça. Poucas regiões, entretanto, produzem plantas ricas em resinas o
suficiente para a preparação do hashish. Esta droga foi introduzida na Europa durante
o período de Napoleão, e ainda hoje é bastante utilizada, sendo uma das formas mais
comuns na França e Inglaterra da cannabis. Na Índia, o hashish é preparado de uma
maneira ligeiramente diferente e é chamado de charas.
Ghanja é uma forma menos popular da cannabis; ao contrário do hashish e
charas, que contém somente a resina das plantas, a ghanja é preparada também com
as flores, folhas e alguns galhos da cannabis. Mesmo assim, a ghanja é
particularmente potente, pois é preparada com plantas selecionadas, generosamente
ricas em resina. Muito comum na Índia, a ghanja é fumada em cachimbos ou em
cigarros. Também da Índia vem o bhang, uma preparação parecida com a ghanja mas
isenta das flores da cannabis. Por isso, contém menos resina e é menos potente.
Muitas vezes, o bhang é também transformado em uma bebida: as folhas são
reduzidas a um fino pó que é macerado com água. Após a ebulição, obtém-se um
líquido bastante narcótico, que também é utilizado em vários rituais Hindus. É,
literalmente, um chá de cannabis.
A marijuana é a forma preferencial do consumo da cannabis no hemisfério
ocidental. Consiste na mistura de várias partes da planta seca: folhas, galhos, flores e
sementes. É uma forma bem branda de consumo, tal como o bhang da Índia.
Tipicamente, é fumada em cigarros (baseados) ou cachimbos. Ocasionalmente,
entretanto, é ingerida sob a forma de chás ou cozida na forma de bolos. A potência da
marijuana varia muito, em função da planta utilizada.
O uso milenar da planta por suas sementes e fibras vem sido dificultado: em
muitos lugares o cultivo da cannabis é proibido, mesmo que para fins não narcóticos.
Algumas variedades geneticamente modificadas - incapazes de produzirem
quantidades apreciáveis de cannabinóides - foram introduzidas na agricultura. Hoje,
mesmo no Brasil, é possível se encontrar roupas e outros artefatos produzidos com
fibras de cânhamo.”
Texto 2 – Maconha e a Ciência (http://www.quimica.matrix.com.br/artigos/maconha/ciencia.html)
“Tudo começou com um grande erro. Em 1855, a Sociedade Farmacêutica de
Paris ofereceu um prêmio para o primeiro cientista capaz de isolar o princípio ativo da
Cannabis sativa. O contemplado foi J. Personee (J. Pharm. Chim. 1855, 28, 461–463),
um químico francês. Nem um mês se passou para que a comunidade científica da
época constatasse o equívoco: o óleo extraído por Personee não era ativo! Não
continha nenhum componente com atividade fisiológica - ao contrário da cannabis. Foi
Vignolo, um químico italiano, que descobriu o erro: o óleo de Personee era rico em
sesquiterpenos, substâncias abundantes na cannabis, mas sem atividade biológica.
Durante várias décadas, a busca pelo princípio ativo da cannabis continuou, em todo o
mundo. Enquanto que a morfina, a cocaína, a estricnina, a cafeína e outros
alcalóides eram isolados e caracterizados, nenhuma novidade aconteceu com a
cannabis. Isto porque, ao contrário dos alcalóides - que são facilmente isolados na
forma de sais - os terpenóides (tal como o THC) requerem técnicas químicas mais
apuradas, inexistentes até 80 anos atrás. O primeiro químico a obter um extrato ativo
da cannabis foi Wood, em 1896, na Cambridge University (J. Chem. Soc. 1899, 75, 20-
36). Segundo palavras do próprio autor: "O óleo vermelho é extremamente ativo e,
tomado em doses de 0,05 g induz intoxicação seguida de sono. Os sintomas
produzidos por ele são característicos da Cannabis indica e, como nenhum dos outros
produtos parece apresentar esta ação, esta substância deve ser considerada como o
componente ativo da planta.”
A história do THC na química é ainda mais bizarra: tivemos conhecimento da
versão sintética antes de isolarmos a versão natural! Em 1930, Cahn isolou o
cannabinol - extraído a partir do óleo de Wood. Na época, acreditava-se que o
cannabinol fosse o principal ingrediente ativo da cannabis. O químico americano
Adams e o britânico Todd, na década de 1940, desenvolveram várias rotas sintéticas
para análogos do cannabinol. Para sua surpresa, uma das rotas levou a um composto
com intensa atividade biológica, muito maior do que o cannabinol. Era o -9-THC (J.
Amer. Chem. Soc. 1949, 71, 1624-1628). Dentre os vários derivados preparados, o -
9-THC era o mais ativo. Os químicos da época, então, desconfiaram que a cannabis
deveria ter, também, este terpenóide. Entretanto, foi somente em 1964 que a primeira
isolação do -9-THC na forma pura ocorreu. Os químicos Gaoni and Mechoulam
obtiveram, de uma extração com hexano de uma amostra de hashish, vários
cannabinóides, entre ele o -9-THC, na forma cristalina.
Maior até do que dos usuários, o interesse dos cientistas pela marijuana está
sempre se renovando: todos ficam fascinados pelo poder que as substâncias contidas
nesta planta exercem sobre o homem. Entretanto, foi somente em 1988 que a pesquisa
sobre a maconha deu um grande salto: Howlett et al. (Mol. Pharmacol. 33, 297-302)
descobriram a existência de neurorecpetores para os compostos cannabinóides: isto é,
determinados grupos de proteínas existentes em alguns neurônios cujo objetivo era
unicamente o de se ligar a compostos com estrutura química semelhante a dos
cannabinóides. Howlett chamou estes receptores de CB1; em 1993, outro grupo de
receptores para cannabinóides foi descoberto, desta vez por Munro et at. (Nature
1993;365:61). Munro chamou este novo grupo de receptores como CB2.
Receptores cannabinóides CB1 e CB2, sequenciados pelo GenBank. Ambos receptores são
polipeptídeos com sete a-hélices transmenbrana e possuem N-terminais extracelulares glicosilados e C-
terminais intracelulares. O receptor CB1 é maior do que o receptor CB2, nas regiões intra e extra celular.
Na região transmembrana os dois receptores tem 78% de similaridade.
Diversas pesquisas, desde então, mostraram que os efeitos farmacológicos
da marijuana são mediados por estes dois receptores. Ambos ativam mecanismos
de transdução similares, incluindo a inibição da adenilato ciclase e de canais de Ca2+
do tipo N. O CB1 ocorre no cérebro, onde é responsável por efeitos característicos da
cannabis (relaxação, bem-estar, analgesia, aumento da percepção áudio-visual,
depressão da atividade motora, analgesia e catalapsia) e também no sistema nervoso
periférico. Aí, os receptores CB1 são localizados pressinapticamente e sua ativação
pode produzir uma supressão da liberação de neurotransmitores. Os principais
sintomas da ativação destes receptores são a estimulação do apetite, vasodilatação
(particularmente dos vasos conjuntivos), taquicardia e inibição da mobilidade intestinal.
Os receptores CB2, até agora, somente foram localizados fora do SNC (sistema
nervoso central), principalmente em células do sistema imunológico. Muitos autores
relacionam a ativação destes receptores com imunosupressão, efeitos anti-
inflamatórios e analgesia associada a processos inflamatórios. Ao contrário dos
receptores CB1, pouco se sabe, ainda, sobre este grupo de receptores.
Era quase inconcebível para a maior parte dos neurologistas que o cérebro
animal fosse gastar parte de seus nutrientes e mecanismos simplesmente para
elaborar um receptor para uma substância provinda de uma planta. Tal como com a
morfina, a descoberta de receptores biológicos para cannabinóides exógenos levantou
a possibilidade para a existência de cannabinóides endógenos. Muitos químicos e
bioquímicos, então, focaram seus esforços no sentido de descobrir candidatos a ocupar
esta posição: cannabinóides endógenos.
O primeiro ligante cannabinóide endógeno a ser isolado foi a etanolamida da
araquidonila, chamada de anandamida. O nome vem da palavra "ananda", cujo
significa em sânscrito é "prazer". Tão logo esta descoberta foi anunciada, centenas de
veículos de comunicação publicaram manchetes como "Descoberta a molécula do
prazer", ou "Cérebro produz maconha". Obviamente, um péssimo jornalismo científico,
como sempre. Na verdade, a anandamida tem poucos efeitos similares ao THC, além
de ser facilmente hidrolisada quando em contato com o receptor. Porém, várias
situações estimulam o organismo a despejar grandes quantidades de anandamida nas
fendas sinápticas: autores sugerem que esta droga esteja relacionada a momentos de
relaxamento, prazer e calma. Um derivado sintético da anandamida - a metanandamida
- possui uma potência mais elevada e maior estabilidade e mostrou-se portadora de
grande efeito fisiológico. Outros derivados eicosanóides capazes de se ligarem aos
receptores cannabinóides já foram isolados dos mais distintos tecidos humanos. Entre
estes, o 2-arachidoniglicerol, considerado um dos mais potentes cannabinóides
endógenos.
(...) Tão logo se fez a descoberta dos receptores cannabinóides e dos
cannabinóides endógenos, cientistas do mundo todo passaram a brincar de química
orgânica e sintetizar os mais variados agonistas e antagonistas cannabinóides
possíveis, para estudar as suas atividades biológicas. Embora o número seja imenso,
os agonistas cannabinóides (incluindo os sintéticos) podem ser separados em 4
grandes grupos: não-clássicos, clássicos, aminoalquilindols e eicosanóides. O
grupo clássico são os derivados do dibenzopirano - tal como o THC. O grupo não-
clássico consiste em substâncias bicíclicas ou tricíclicas, similares ao THC, mas sem o
anel pirano. O mais comum é o agonista sintético CP55940. Os demais grupos têm
estruturas bastante distintas da do THC.
Os cannabinóides antagonistas exercem um efeito completamente oposto nos
receptores CB1 e CB2 do que o dos agonistas. O composto SR141716A (patenteado
pela empresa francesa Sanofi Recherche), por exemplo, é um dos antagonistas mais
estudados. Seus efeitos, em ratos, incluem a supressão do apetite, o incremento da
mobilidade intestinal, a melhora da memória recente e aumenta a liberação de
neurotransmissores por neurônios centrais e periféricos.
Enquanto o debate sobre a liberação da maconha para uso medicinal continua,
vários cannabinóides sintéticos já estão sendo utilizados pela indústria
farmacêutica ou estão prestes a entrar no mercado. A tabela abaixo mostra algumas
aplicações terapêuticas para agonistas e antagonistas do sistema cannabinóide
endógeno.
Uso terapêutico para drogas cannabinóides
Drogas Uso
agonistas do CB1 Tratamento do câncer
Dor pós cirúrgica
Anticonvulsivo
Antispástico em escleroses
múltiplas
agonistas do CB1 periférico Incrementador do apetite
Disfunções glandulares
agonistas do CB2 Dor inflamatória periférica
Immunosupressão
antagonistas do CB1 Deficiência de memória
Tratamento da obesidade
Dependência alcoólica
antagonistas do CB1 periférico Disfunções glandulares
Desde a sua descoberta, os endocannabinóides e os exocannabinóides têm sido
foco de centenas de trabalhos de química e bioquímica. Os receptores CB1 e CB2 já
são considerados alvos para muitas terapias farmacêuticas. E é este, agora, o campo
de ação para os pesquisadores e cientistas que trabalham com temas relacionados à
cannabis. Isto prova que, de fato (como proclamam aos quatro ventos os defensores da
liberação da marijuana) a natureza nos deu a maconha com um objetivo: o de nos
tornar cientes da existência dos receptores cannabinóides em nossos próprios
organismos!”
Questões para discussão
1. De acordo com as informações do texto, o que é mais relevante, o uso da
Cannabis como narcótico ou como fonte de fibras e sementes? Por quê? E na
sua opinião, o que é mais importante? Justifique sua escolha.
2. Qual a relação de tempo entre o uso da Cannabis e a pesquisa científica a ela
relacionada? No que estava focalizado o interesse dos cientistas pela planta?
Por quê?
3. Como se desenvolveu a pesquisa sobre a maconha (tempo, linearidade, etc.)?
Isto é comum na pesquisa científica?
Apoptose
Os gráficos abaixo foram todos retirados de artigos científicos que tratam dos
efeitos da maconha ou do THC em células. Faça uma análise e procure identificar se
há evidências de apoptose.
Artigo 1 – Campbell, V. A. (2001) Neuropharm. 40, 702-709.
Tipo celular estudado: cultura primária de neurônios do córtex de ratos
Fig. 1. (a) Porcentagem de neurônios
em degeneração: neurônios expostos a
THC (5 M) por 30-160 min. Os
resultados foram expressos como
média para 5 observações, *,**
estatisticamente relevantes. (b)
Porcentagem de células com
fragmentação de DNA: pré-incubação
de neurônios com o antagonista do
receptor CB1 AM251 (10 M) por 30
min. Os resultados foram expressos
como média para 7 observações, **
estatisticamente relevantes.
% de neurônios em degeneração
Artigo 2 – Ruiz, L. R., Miguel, A., Díaz-Laviada, I. (1999) FEBS Lett.. 458, 400-404.
Tipo celular estudado: cultura de células de próstata humanas
Fig. 1. Metabolismo oxidativo
mitocondrial. A: células cultivadas em
meio sem soro e na presença de
concentrações crescentes de THC por 3
dias. B: células cultivadas em meio sem
soro na ausência () e na presença ()
de 1 M THC pelos tempos indicados.
Cada ponto representa determinações
em triplicata e os resultados são
baseados em pelo menos 3
experimentos independentes.
Fig. 4. Porcentagem de células
apoptóticas. B: análise quantitativa de 3
experimentos independentes.
Significantemente diferentes (*,**
estatisticamente relevantes) versus
incubação com veículo.
Artigo 3 – Sarafian, T. A., Tashkin, D. P., Roth, M. D. (2001) Toxicol. Applied
Pharm. 174, 264-272.
Tipo celular estudado: cultura de células de câncer de pulmão humanas
Citação – “Ensaios TUNEL realizados 12 e 24 h depois da exposição à fumaça de
maconha revelaram que menos de 1 % das células mortas foram coradas
positivamente para fragmentação de DNA característica de apoptose (dados não
mostrados).”
Fig. 1. Porcentagem de viabilidade
celular. Curso de tempo para a morte de
células A549 que segue a exposição
por 20 min à fumaça de cigarros de
maconha (MJ), placebo (Plac) ou
tabaco (Tob) de massa equivalente. (...)
os valores representam médias de 4
determinações; o experimento foi
repetido 2 vezes com resultados
similares.
Fig. 8. Porcentagem de células mortas.
A concentração de THC indicada foi
adicionada e as células foram mantidas
em um incubador de CO2 a 37 ºC por 24
h. Os resultados mostrados são
representativos de 3 experimentos com
resultados semelhantes.
Artigo 4 – Chan, G. C., Hinds, T. R., Impey, S., Storm, D. R. (1998) J. Neurosci..
18(14), 5322-5332.
Tipo celular estudado: cultura primária de neurônios do hipocampo de ratos
Citação – “Os neurônios corticais em cultura foram muito menos sensíveis ao THC do
que neurônios de hipocampo (dados não mostrados).”
Fig. 1. Porcentagem de viabilidade
celular. Os neurônios foram tratados
com várias concentrações de THC a
altas doses (A) (em M): quadrados
abertos, 3,5; triângulos abertos, 5,0;
círculos cheios, 7,5; triângulos cheios,
10; quadrados cheios, 20; ou baixas
doses (B) (em M): quadrados abertos,
0,20; triângulos abertos, 0,38; círculos
cheios, 0,50; triângulos cheios, 1,0;
quadrados cheios, 2,0. Em C, os
neurônios foram tratados com 3,5 M
THC pelos períodos indicados (15, 30
ou 45 min ou 20 h), seguidos pela
remoção da droga e reincubação em
meio condicionado overnight.
Artigo 5 – Zhu, W., Friedman, H., Klein, T. W. (1998) J. Pharm. Exp. Therapeutics
286, 1103-1109.
Tipo celular estudado: cultura primária de macrófagos peritoneais e linfócitos do baço
de camundongos
Fig. 3. Porcentagem de fragmentação de DNA e viabilidade celular. As células de baço
foram incubadas por 2, 4 e 24 h com THC ou DMSO. Um total de 900 células foi
contado por amostra. Os dados são representativos de 4 experimentos.
Artigo 6 – Sánchez, C., Galve-Roperh, I., Canova, C., Brachet, P., Guzmán, M.
(1998) FEBS Lett.. 436, 6-10.
Tipo celular estudado: cultura de células de glioma
Fig. 1. Metabolismo oxidativo mitocondrial. A: as células foram cultivadas em meio sem
soro na ausência () e na presença () de 1M THC pelos tempos indicados. B: as
células foram cultivadas em meio sem soro na presença das concentrações indicadas
de THC por 5 dias. Os resultados correspondem a 4 experimentos diferentes.
Fig. 3. Fragmentação de DNA. As
células foram tratadas com e sem 1 M
THC por 5 dias as como na Fig. 1. Um
gel representativo está sendo mostrado.
Resultados similares foram obtidos em
2 outros experimentos.
Fig. 5. (...) Células de glioma C6.9,
astrocitoma U373 MG, neuroblastoma
N18TG2, astrócitos primários e
neurônios primários foram cultivados
com 1 M THC por 5 (glioma C6.9) ou
10 dias (...). Os resultados estão
expressos como uma porcentagem de
células sobreviventes com respeito a
incubações do respectivo controle (...) e
correspondem a 4 diferentes culturas
para cada tipo celular. *
significativamente diferentes (p<0,01)
versus incubações sem adição.
Artigo 7 – Mckallip, R. J., Lombard, C., Martin, B. R., Nagarkatti, M., Nagarkatti, P.
S. (2002) J. Pharm. Exp. Therapeutics 302, 451-465.
Tipo celular estudado: suspensão de baço e timo de camundongos
Fig. 7. Porcentagem de células viáveis in vitro. Os timócitos foram cultivados por 16 h.
Em A, os dados foram expressos como porcentagem de decréscimo na viabilidade
celular quando comparado com o controle. Os dados são uma média de culturas em
triplicata. Asteriscos indicam diferenças estatisticamente significantes entre os grupos
de tratamento THC e THC + SR144528.
Fig. 8. Viabilidade celular in vivo. Camundongos foram injetados com veículo ou várias
concentrações de THC (1, 5, 10, 20 e 50 mg/kg massa corpórea) intraperitonealmente.
O timo e o baço foram armazenados 24h depois e a viabilidade foi determinada. Os
dados representam uma média de grupos de 4 camundongos.
Quando a mídia fala sobre a maconha...
Matéria 1 – Chocolate sem culpa: é só comer sem exageros
Fonte: jornal O Estado de São Paulo, 16/04/2000
(http://www.jt.estadao.com.br/suplementos/domi/2000/04/16/domi005.html)
“(...) O chocolate, além de sua forma utilizada na Páscoa como ovo, apresenta
algumas características interessantes. Quem não conhece a situação de ansiedade
intensa e busca incessante por um pedaço de chocolate para tranqüilizar? Esta
situação pode parecer uma desculpa para o consumo deste alimento; porém, há cerca
de dois anos, um grupo de pesquisadores americanos publicou uma matéria científica
em que demonstravam a presença de uma substância química presente no chocolate
que teria grande poder de redução da ansiedade.
Esta substância, que segundo os pesquisadores teria uma estrutura química
semelhante ao princípio ativo da maconha, provocaria agudamente uma certa
tranqüilidade e poderia provocar cronicamente a dependência. Evidentemente, a dose
desta substância é muitas vezes menor no chocolate. (...)”
A que substância o texto se refere? Justifique sua escolha.
Matéria 2 – A verdade sobre a maconha
Fonte: revista Superinteressante, agosto/2002
(http://www2.uol.com.br/super/revista/reportag/0802/1791.html)
“(...) Danos cerebrais - "Maconha mata neurônios." Essa frase, repetida há
décadas, não passa de mito. Bilhões de dólares foram investidos para comprovar que o
THC destrói tecido cerebral – às vezes com pesquisas que ministravam doses de
elefante em ratinhos –, mas nada foi encontrado.
Muitas experiências foram feitas em busca de danos nas capacidades cognitivas
do usuário de maconha. A maior preocupação é com a memória. Sabe-se que o
usuário de maconha, quando fuma, fica com a memória de curto prazo prejudicada.
São bem comuns os relatos de pessoas que têm idéias que parecem geniais durante o
"barato", mas não conseguem lembrar-se de nada no momento seguinte. Isso acontece
porque a memória de curto prazo funciona mal sob o efeito de maconha e, sem ela, as
memórias de longo prazo não são fixadas (é por causa desse "desligamento" da
memória que o usuário perde a noção do tempo). Mas esse dano não é permanente.
Basta ficar sem fumar que tudo volta a funcionar normalmente. O mesmo vale para o
raciocínio, que fica mais lento quando o usuário fuma muito freqüentemente.
Há pesquisas com usuários "pesados" e antigos, aqueles que fumam vários
baseados por dia há mais de 15 anos, que mostraram que eles se saem um pouco pior
em alguns testes, principalmente nos de memória e de atenção. As diferenças, no
entanto, são sutis. Na comparação com o álcool, a maconha leva grande vantagem:
beber muito provoca danos cerebrais irreparáveis e destrói a memória. (...)”
Compare o que diz o texto com os experimentos que você analisou. Você
acredita que a maconha mate neurônios? Justifique.
Matéria 3 – Canna medicinalis
Fonte: revista Galileu, agosto/2002
(http://galileu.globo.com/edic/124/rep_maconha.htm)
“(...) O que acontece no organismo
A substância ativa da planta, o THC, age no cérebro em 20 minutos.
1. Após ser tragada, a droga leva aos pulmões toxinas como o alcatrão, que
prejudicam o aparelho respiratório, e o THC, que segue para a circulação
sangüínea.
2. Parte do THC chega ao estômago, fígado e depois aos rins e é eliminada pela
urina.
2a) Outra parte chega ao baço; acredita-se que nele o THC reduza a produção
de linfócitos e enfraqueça o sistema de defesa do organismo.
2b) Há pesquisas que apontam redução pelo THC dos níveis do hormônio
sexual masculino testosterona, podendo provocar infertilidade temporária.
3. No cérebro, entre as várias substâncias conhecidas como receptores, existe
uma que é ativada pelo THC.
3a) No cerebelo, que regula o equilíbrio, postura e coordenação motora, o THC
provoca letargia, redução no controle dos movimentos e desorientação espacial
e temporal.
3b) No hipocampo, o THC reduz a atividade de neurônios relacionados à
memória de curto prazo.
3c) No córtex cerebral, que regula a percepção pelos sentidos, o THC pode
promover alterações transitórias nas sensações pelo tato, visão e audição.
4. O THC estimula também o aumento da produção de serotonina, substância que
promove sensação de prazer (...).”
Por que o texto menciona somente um receptor para o THC? Os efeitos
descritos estão de acordo com o que você já estudou? Justifique.
Detecção de canabinóides em amostras biológicas
Fonte: Satub, C. (1999) J. Chromatography B, 733, 119-126.
A detecção de drogas de abuso em urina começou a ser estudada a partir dos
anos 80 e hoje já atinge dimensões industriais. Com o aprimoramento dos métodos
analíticos, o interesse dos toxicologistas passou a ser sua determinação - qualitativa e
quantitativa – no sangue e em outras matrizes biológicas, como saliva, cabelo e urina e
mecônio.
No caso da maconha, são
analisados não somente o THC mas
também seus principais metabólitos
(THC-COOH e OH-THC) e outros
canabinóides, como o CBO e o CBN,
conforme mostram as estruturas ao
lado. No entanto, o uso destes exames
é ainda bastante discutido, inclusive no
âmbito legal.
As análises envolvem extrações líquido-líquido (LLE) ou líquido-sólido (SPE) e
depois uma cromatografia gasosa (GC) ou líquida (HPLC). Veja abaixo um exemplo de
cromatograma.
Sua tarefa é então discutir a eficácia e adequabilidade das análises em cada um
dos casos abaixo a partir dos dados do gráfico a seguir. Você deve também verificar
quais das matrizes biológicas poderiam ser utilizadas em cada caso e quais suas
limitações.
Caso 1 – João nota que seu filho Felipe tem mostrado um comportamento
estranho. Às vezes chega em casa rindo à toa e de olhos vermelhos. João quer
então fazer um teste para saber se o filho anda fumando maconha.
Caso 2 – A empresa Supimpa está realizando uma seleção para vagas de
auxiliar geral e, para evitar futuros problemas com os novos funcionários, quer
incluir nos exames médicos um teste para verificar se algum deles é usuário de
maconha.
Caso 3 – Caio acaba de ser internado em uma clínica para dependentes de
álcool. Os médicos querem saber se ele consome também a maconha, embora
o rapaz negue.
SANGUE SALIVA SUOR CABELO
Apêndices
Estatísticas e Conceitos Básicos
Dados Estatísticos
Idade da primeira experiência com as substâncias psicoativas. Dados em porcentagem,
em amostra realizada com adolescentes escolares em Ribeirão Preto, SP, 1990 (Fonte:
Muza, GM; Bettiol, H; Barbieri, MA Consumo de substâncias psicoativas por adolescentes escolares de
Ribeirão Preto, SP (Brasil). I - Prevalência do consumo por sexo, idade e tipo de substância Rev. Saúde
Pública, 31 (1): 21-9, 1997).
A influência da idade na magnitude do consumo de substâncias psicoativas é
um dos mais notáveis e consistentes achados da literatura, onde invariavelmente o
consumo cresce com a idade. No entanto, as taxas de prevalência de uso de
substâncias psicoativas de uso ilícito esboçam uma desaceleração importante nos
anos finais da adolescência. Dados da literatura, de alguma forma, têm se mostrado
coincidentes com os achados do presente estudo.
Análise multivariada hierarquizada de fatores associados ao uso na vida de drogas
psicotrópicas (exceto álcool e tabaco) entre adolescentes de escolas com segundo
grau, das redes pública e privada. Pelotas, RS, 1998. N=2.410 (Fonte: Tavares, BF; Bériab,
JU e Lima, MS Prevalência do uso de drogas e desempenho escolar entre adolescentes Rev Saúde
Pública 2001;35(2):150-158).
Características Usuários (%)Classe Social
A 28,7B 30,6C 26,6D 19,4E 22,4
TurnoDiurno 24,2
Noturno 33,4
Faltas à escola nos últimos 30 dias0 20,5
1 a 3 23,24 a 8 34,2
9 ou + 37,7
Nº de reprovações escolares0 19,91 31,52 31,3
3 ou + 40,4
I Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas no Brasil (outros
dados)
Faixa etária de 15 a 25 anos é a com maior consumo e também a faixa que
mais conhece os tratamentos e os efeitos da dependência.
60,9 % acham que é muito fácil comprar maconha, 45,8 cocaína e 21,1 %
heroína.
Algumas particularidades da pesquisa por região
REGIÃO NORTE
Uso na vida de qualquer droga exceto álcool e tabaco: o mais baixo do Brasil.(15,9 %)
Dependência de álcool: 2a maior do Brasil.
Uso na vida de MERLA é o maior do Brasil, seguido do Centro Oeste, com 0,8%.
REGIÃO NORDESTE
1/3 da População já fez uso de qualquer droga, exceto álcool e tabaco.
Dependência de álcool é a maior do país (16,9%)
Dependência de maconha é a 2a maior do Brasil (1,2%).
Uso na vida de SOLVENTES é o maior do Brasil (9,7%).
Uso na vida de Orexígenos é o maior do Brasil (11,2%).
REGIÃO CENTRO OESTE
18,9% da População já fizeram uso de qualquer droga, exceto tabaco e álcool.
Uso na vida de maconha é o menor do BR (5,0%).Igual à Região Norte.
Nenhum uso de heroína ou alucinógeno.
REGIÃO SUDESTE
Uso na vida de qualquer droga exceto álcool e tabaco foi de 16,9%.
Dependência de maconha a menor do Brasil (0,7%).
Uso na vida de cocaína (2,6%) e crack (0,4%) são o 2O maior do Brasil, perdendo
apenas para Região Sul (cocaína-3,6% e crack- 0,5%)
Não houve relato de uso na vida de heroína na região.
REGIÃO SUL
Uso na vida de qualquer droga exceto álcool e tabaco foi 17,1%.
Dependência de tabaco foi o maior do BR (12,8%).
Dependência de maconha foi a maior do Brasil (1,6%).
Usos na vida de maconha (8,4%) e cocaína (3,6%) foram os maiores do Brasil.
Uso na vida de orexígenos foi o menor do Brasil (1,0%).
Custos sociais decorrentes do uso abusivo de drogas
No Brasil, os custos decorrentes do uso indevido de substâncias psicoativas são
estimados em 7,9% do PIB por ano, ou seja, cerca de 28 bilhões de dólares (In:
Secretaria de Estado da Saúde/SP,1996). Destacamos o custo decorrente do
tratamento de doenças ligadas ao uso de tabaco, que corresponde a 2,2% do PIB
nacional e cerca de 0,3% do PIB, são utilizados para a assistência especializada no
tratamento das drogas ilícitas.
No triênio de 1995 a 1997, mais de 310 milhões de reais foram gastos em
internações decorrentes do uso abusivo e da dependência de álcool e outras drogas.
Ainda neste mesmo período, o alcoolismo ocupava o 4º lugar no grupo das doenças
que mais incapacitam, considerando a prevalência global.
Finalmente, devemos considerar os transtornos mentais associados ao uso e
abuso de substâncias psicoativas. As Psicoses Alcoólica e por Drogas, bem como as
Síndromes de Dependência do Álcool e de outras Drogas são o primeiro motivo de
internações psiquiátricas. Os gastos totais relativos ao diagnóstico de Dependência de
Droga (CID 304) passaram de US$902.886,29 em 1993 para US$2.919.933,94 em
1997. No total, os gastos diretos em internações que podem decorrer do uso de
substâncias psicoativas, em hospitais gerais da rede do SUS, chega a R$
601.540.115,33.
Uso de drogas entre crianças e adolescentes
O último levantamento do CEBRID, realizado em 1997, revela que o percentual
de adolescentes que já consumiram drogas (uso na vida) entre os 10 e 12 anos de
idade é altíssimo: 51.2% usaram álcool; 11% usaram tabaco; 7.8% solventes; 2%
ansiolíticos e 1.8% já se utilizaram de anfetamínicos nessa faixa etária. Nas 10 capitais
pesquisadas, cresceu a tendência para o uso freqüente de maconha entre crianças e
adolescentes. O uso freqüente de cocaína e de álcool também aumentou em seis
capitais. Quanto ao uso pesado de drogas, isto é, 20 vezes ou mais no mês, também
experimentou um aumento nas 10 capitais para a maconha e, para o álcool, em oito
capitais.
A situação agrava-se entre as crianças e adolescentes em situação de rua.
Segundo levantamento de 1993, o uso na vida de drogas por esta população
apresentava os seguintes percentuais: 82.5% em São Paulo, 71.5% em Porto Alegre,
64.5% em Fortaleza, 57% no Rio de Janeiro e 90.5% em Recife (Noto et.al., 1993). As
drogas mais comumente usadas por crianças e adolescentes em situação de rua são: o
tabaco, com um uso diário de 71% em São Paulo e 68.5% em Recife; os inalantes,
com 42% em Recife e 24.5% em São Paulo; a maconha - 25% em Recife e 13.5% em
Fortaleza; e o álcool (29% em Recife e 6.5% em São Paulo). Cocaína e derivados são
mais consumidos nas capitais do Sudeste do país (6% em São Paulo e 4.5% no Rio de
Janeiro) e anticolinérgicos nas capitais nordestinas (18.5% em Recife e 8% em
Fortaleza).
Drogas e violência
Usuários de drogas, muitas vezes, afirmam que esse hábito prejudica apenas a
eles mesmos. Porém, para que essas substâncias cheguem aos usuários, há toda uma
rede criminosa articulada, com conseqüências sérias para a sociedade. Estudos
mostram que o tráfico de drogas e a violência estão cada vez mais associados. Na
cidade de São Paulo, por exemplo, o narcotráfico foi o responsável pela condenação
de 11% da população carcerária local 2. Somando-se a essa estatística as cifras
referentes a roubos, homicídios e outras ações criminosas relacionadas ao tráfico, em
todo o Brasil, o que se tem é um quadro preocupante, que o UNDCP 3 quer ajudar a
mudar.
Para isso, o UNDCP e o Governo brasileiro começaram, em 1998, um conjunto
de ações coordenadas na área de controle do narcotráfico e do crime. São, ao todo,
quatro projetos que envolvem questões importantes da criminalidade: fortalecimento
dos órgãos responsáveis pela segurança pública; coordenação entre essas instituições;
controle dos produtos usados na fabricação de drogas e processamento de
informações referentes à criminalidade no País. É um trabalho de longo prazo, mas que
já mostra resultados significativos.
2 Os dados de 1997 foram retirados da pesquisa Urban Crime and Violence in Brazil, por
Paulo Sérgio Pinheiro (São Paulo: USP, 1998). 3 Escritório das Nações Unidas para o Controle de Drogas e Prevenção ao Crime.
Para enfrentar o crime organizado e o tráfico de drogas internacional, a Polícia
Federal está passando por uma reformulação. Atualização profissional, modernização
da Academia de Polícia e contratação de novos agentes são apenas alguns pontos da
mudança.
O aumento da violência e da criminalidade, especialmente nos centros urbanos,
está diretamente vinculado a fatores como desemprego e distribuição desigual de
riqueza, numa relação evidente com o tráfico de substâncias ilícitas. Investigações do
Departamento de Investigações sobre Narcóticos (DENARC) de São Paulo, em
pesquisa com 981 traficantes, usuários e dependentes de drogas, constatou que, de
cada 100 traficantes, 75 estão desempregados e que, de cada 100 usuários e
dependentes, 76 estão sem emprego. Entre os usuários dependentes detidos, a
maioria está na faixa etária entre 15 e 30 anos e possui o 1º grau incompleto (87,4%).
Essa população encontra-se impossibilitada para a competição e inserção no mercado
de trabalho.
Pesquisas realizadas nos EUA mostram a relação entre o consumo de drogas e
atos de violência naquele país, em 1997:
· 68% dos homicídios culposos;
· 62% dos assaltos;
· 54% dos assassinatos; e
· 44% dos roubos.
Quanto ao uso de álcool, comprovaram que 2/3 dos casos de espancamento de
crianças ocorrem por pais embriagados. O mesmo ocorre nas agressões entre marido
e mulher.
No Brasil, pesquisadores do CEBRID (1996), analisando 19.000 laudos
cadavéricos no IML Central de São Paulo, comprovaram que, de cada 100 corpos
vítimas de morte não natural, 95 tinham álcool no sangue.
Fontes: Escritório das Nações Unidas para o Controle de Drogas e Prevenção ao Crime e Departamento
de Investigações sobre Narcóticos de São Paulo.
É corriqueira a associação entre drogas e violência, especialmente no que diz
respeito ao tráfico de substâncias ilícitas. No entanto, as dimensões sociais e
econômicas subjacentes são usualmente obviadas, dando-se ênfase a aspectos
sensacionalistas que limitam a compreensão do problema e legitimam atitudes
repressivas. O aumento da violência e da criminalidade, especialmente nos centros
urbanos, está diretamente vinculado a fatores como o desemprego e a distribuição
desigual da riqueza, e nesse sentido deve entender-se, também, a violência
relacionada com o tráfico de substâncias ilícitas.
A relação entre desemprego, tráfico e consumo de drogas, aliás, já foi
comprovada por vários estudos nos EUA e Europa. Recentemente, o jornal Folha de
São Paulo publicou pesquisa realizada pelo Departamento de Investigações sobre
Narcóticos (DENARC) nesse estado, com 981 traficantes, usuários e dependentes de
drogas. O estudo revela que, de cada 100 traficantes, 75 estão desempregados, e de
cada 100 usuários e dependentes, 76 estão igualmente desempregados. Quanto à
escolaridade, do total de traficantes presos pelo DENARC no ano de 1997, 87.4%
estudaram até o primeiro grau completo. Além disso, a pesquisa mostra que a grande
maioria dos usuários e dependentes detidos têm entre 15 e 30 anos. Assim, o perfil que
este estudo apresenta é o de uma população na faixa etária mais afetada pelo
desemprego e que, em decorrência da baixa escolaridade, encontra-se impossibilitada
para a inserção e a competição no mercado de trabalho.
No outro lado da moeda, estudos no Brasil e alhures mostram a relação entre o
consumo de psicotrópicos e os atos de violência. Segundo pesquisa realizada pelo
Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA, o uso excessivo de
bebida é um fator verificado em 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 54%
dos assassinatos e 44% dos roubos ocorridos no país (In: ALCOHOLALERT,1997). O
mesmo estudo chama à atenção sobre o uso de álcool em casos de violência
doméstica: cerca de dois terços dos casos de espancamento de crianças ocorrem
quando os pais agressores estão embriagados. O mesmo ocorre nas agressões entre
marido e mulher.
No Brasil, pesquisadores do CEBRID analisaram em 1996 mais de 19.000
laudos cadavéricos feitos entre 1986 e 1993 no IML central de São Paulo e
constataram que, de cada 100 corpos que entraram no Instituto Médico Legal neste
período, vítimas de morte não natural, 95 tinham álcool no sangue.
Drogas e trânsito
Embora os acidentes de trânsito estejam entre as principais causas externas de
morte no Brasil, só recentemente tem sido objeto de estudo a relação entre estes e o
uso de drogas. Em 1997, pesquisa realizada nas cidades de Recife, Brasília, Curitiba e
Salvador, mostrou a alta presença do uso de drogas, especialmente álcool, nas
situações de violência no trânsito. A média para as quatro cidades é de 61% de casos
de alcoolemia positiva entre as pessoas envolvidas em acidentes (Melcop et. al., 1997).
A mesma pesquisa também verificou o uso de outras substâncias psicoativas
pelas pessoas envolvidas em acidentes de trânsito, em diferentes proporções para
cada cidade. No Recife, uma em cada 10 vítimas de acidentes havia feito uso de
maconha (10%), o dobro do percentual detectado em Brasília (4.5%). Com relação à
cocaína, não houve detecção entre os acidentados de Recife, mas nas outras três
cidades os valores variaram entre 3.8% em Salvador, 3.4% em Brasília e 3% em
Curitiba. Foi constatado ainda o uso de outras substâncias como os benzodiazepínicos
(3.4%), barbituricos (1.5%), anfetaminicos (0.6%) e opióides (0.3%).
Números ainda mais altos foram encontrados em outra pesquisa, desta vez
realizada no período de Carnaval, na cidade de Recife: 88.2% das vítimas fatais de
acidentes de trânsito tinham consumido álcool (Melcop et.al. 1997).
O novo Código Nacional de Trânsito vai ao encontro desta preocupação e
estabelece que dirigir sob influência do álcool (níveis de alcoolemia iguais ou acima de
0,6g/L) é crime. Estão previstas multa e prisão para aqueles que infringirem a norma.
Drogas e trabalho
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 7,9% do PIB (US$ 28 bilhões
ao ano) são gastos em função da perda de produtividade e de mortes prematuras em
decorrência do uso de drogas psicoativas. De 1993 a 1997, o número de internações
na rede pública de saúde (SUS) em decorrência da dependência de drogas triplicou,
pulando de US$ 900 mil ao ano para quase US$ 3 milhões.
O uso indevido de drogas é responsável por 50% dos casos de absenteísmo e
licenças médicas e está relacionado com 15 a 30% dos acidentes de trabalho,
demonstrou pesquisa desenvolvida em 1993 pela Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (FIESP).
Um estudo realizado em 1997 pela Associação Brasileira dos Departamentos de
Trânsito (Abdetran) detectou a presença de álcool em 61% das vítimas dos acidentes
de trânsito ocorridos em Salvador, Recife, Brasília e Curitiba. Segundo os dados, em
Recife, 10% das vítimas de acidentes haviam consumido maconha. Levantamentos
recentes mostram a tendência de crescimento do consumo das drogas de uso ilícito no
país.
Igualmente, é preciso chamar a atenção para os problemas relativos ao uso de
drogas e sua influência no trabalho, tanto no que diz à segurança do trabalhador, física
e social, quanto à produtividade das empresas.
No Brasil, estudo realizado no ano de 1993 pela Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo - FIESP (Waismann, 1995) aponta que de 10 a 15% dos
empregados têm problemas de dependência, e que este abuso:
é responsável por três vezes mais Licenças Médicas que outras doenças;
aumenta cinco vezes as chances de Acidentes de Trabalho;
está relacionado com 15 a 30% de Todos os Acidentes no trabalho;
é responsável por 50% de Absenteísmo e Licenças Médicas;
leva à utilização de oito vezes mais Diárias Hospitalares;
leva a família a utilizar três vezes mais Assistência Médica e Social.
Esses dados são confirmados por outras pesquisas (Dias et.al. 1997, Campana,
1997).
Drogas e AIDS
Com uma estimativa de 530 mil infectados entre 15 e 49 anos, a epidemia de
HIV/AIDS é o maior desafio atual em saúde pública no Brasil. O link entre drogas e
AIDS se estabelece na medida em que o uso indevido facilita a infecção pelo HIV, seja
pela utilização de seringas contaminadas, no caso de usuários de drogas injetáveis,
seja por aumentar as práticas de risco, como sexo sem proteção.
Isso porque, sob o efeito de algumas dessas substâncias, aumentam as
probabilidades de uma pessoa se envolver em práticas de risco, como ter relações
sexuais sem preservativo. No caso do usuário de crack, as chances de contrair
doenças aumentam porque a droga diminui a resistência física da pessoa. É
interessante observar que, entre os dependentes de crack, as mucosas do corpo ficam
mais frágeis, o que facilita a infecção pelo HIV por contato sexual.
Entre os usuários de drogas, são altos os índices de infecção pelo HIV. O
Ministério da Saúde informa que, atualmente, 25% dos registros ocorrem entre
usuários de drogas injetáveis. Além disso, 52% dos brasileiros usuários de drogas
injetáveis são portadores do vírus da AIDS. Mas especialistas afirmam que a doença
cresce, também, entre os usuários de drogas não-injetáveis (especialmente o crack),
embora ainda não exista uma estatística nacional completa a respeito dessa categoria.
Se, em 1986, quando a epidemia ainda era recente no Brasil, 60% dos
indivíduos infectados tinham nível médio ou superior de instrução, hoje o quadro é bem
diferente - 74% dos casos de AIDS (o dado é referente a 1999/2000) ocorrem entre
pessoas analfabetas ou com até oito anos de escolaridade. Entre as mulheres, a
estatística se agrava: cerca de 67% das soropositivas têm apenas o nível fundamental,
de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Além disso, uma das estatísticas consideradas mais preocupantes diz respeito à
quantidade de mulheres que vivem com o vírus. Se, há quinze anos, havia 16 homens
para cada mulher infectada, hoje essa proporção é de 2 para 1. Estudos mostram que
a AIDS já é a principal causa de morte entre as brasileiras e que, se as medidas de
controle da doença não se intensificarem, logo os casos de infecção entre pessoas do
sexo feminino serão mais numerosos do que entre homens. Já os homossexuais
masculinos, grupo que ficou estigmatizado quando dos primeiros registros da doença,
hoje respondem por 16% dos casos da infecção no País.
Mulheres e populações carentes, com pouco nível de instrução, estão mais
vulneráveis a contrair o HIV, segundo vários estudos do Ministério da Saúde. Outro
dado importante dentro das novas tendências da epidemia está ligado ao que se
costuma chamar de "interiorização". Ou seja, a AIDS deixou de ser uma doença quase
que restrita às capitais; agora, atinge também áreas rurais e, principalmente, regiões de
fronteira.
Com a expansão da epidemia da AIDS, o consumo de drogas requer uma
atenção ainda maior. Desde 1982, quando se registrou o primeiro caso de AIDS entre
usuários de drogas injetáveis no país e, principalmente, a partir de 1985, o curso dos
casos de AIDS entre esta população vem tendo um aumento expressivo. Em 1985 este
número representava 2,7% do total (14 casos), já em 1990 chegou a 18,2% (736
casos). Atualmente, cerca de 25% dos casos de AIDS notificados ao Ministério da
Saúde estão relacionados com o uso de drogas injetáveis.
Dados do "Projeto Brasil" indicam que em cidades como Santos (SP) e Itajaí
(SC) a prevalência de HIV entre usuários de drogas injetáveis alcança o índice de mais
de 60%, dos casos identificados. Nas quatro cidades pesquisadas (Santos, Salvador,
Rio de Janeiro e Itajaí), o índice de compartilhamento de seringas varia de 56% na
região centro-oeste a 85% no Sul. A transmissão através do compartilhamento de
seringas é, também, um dos fatores responsáveis pelo crescimento do número de
casos de AIDS entre as mulheres, parceiras sexuais dos usuários e,
conseqüentemente, da AIDS pediátrica.
Conclusões
Sem dúvida, os dados apresentados justificam o apelo aos diversos setores -
governamental e não governamental - para que estes possam responder à demanda
gerada pelo uso indevido de substâncias psicoativas. A assistência aos transtornos
relativos decorrentes do consumo de drogas deve espelhar a realidade nacional e
caminhar no sentido de propiciar a atenção integral a saúde do indivíduo, em
ambientes alternativos à internação hospitalar, através da atuação interdisciplinar das
equipes técnicas, e com a participação comunitária, possibilitando não somente a
recuperação clínica do dependente, mas principalmente sua reabilitação e reinserção
social.
As discussões e propostas apresentadas neste documento mostram uma visão
panorâmica das alternativas de alguns dos agentes envolvidos nesta problemática no
nosso país.
Texto extraído da home page do Senado Federal (Relatório Preliminar do I Fórum Nacional Antidrogas):
www.senad.gov.br/Relfinal.htm.
Bibliografia
Revistas
Passos, SRL, Camacho, LAB Características da clientela de um centro de
tratamento para dependência de drogas, . Rev. Saúde Pública, 32 (1): 64-71,
1998.
Tavares, BF; Bériab, JU e Lima, MS Prevalência do uso de drogas e
desempenho escolar entre adolescentes Rev Saúde Pública 2001;35(2):150-158
Muza, GM; Bettiol, H; Barbieri, MA Consumo de substâncias psicoativas por
adolescentes escolares de Ribeirão Preto, SP (Brasil). I - Prevalência do
consumo por sexo, idade e tipo de substância Rev. Saúde Pública, 31 (1): 21-9,
1997
Sites da internet
http://noticias.ul.com.br/inter/reuters/2002/09/04/ult27u25577.jhtm
http://www.senad.gov.br/Relfinal.htm
http://ar2001.emcdda.eu.int/multimedia/Annual_Report_2001/ar01_pt.pdf
http://annualreport.emcdda.org/en/home-en.html
Conceitos Gerais: dependência, abstinência, tolerância.
Pequeno Glossário
Dependência
Vínculo extremo, em que a droga é priorizada em detrimento de outras relações. Na
falta da droga, as pessoas que se acostumaram a consumi-la, são invadidas por
sintomas penosos.
Pode ser a conseqüência de um desejo sem medida.
Termo recomendado em 1964, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para
substituir outros com maior conotação moral como "vício".
A dependência constitui-se a partir de três elementos:
a substância psicoativa com características farmacológicas peculiares;
o indivíduo com suas características de personalidade e sua singularidade
biológica;
o contexto sócio-cultural dinâmico e polimorfo, onde se realiza o encontro entre
o indivíduo e o produto.
Existem dois tipos de dependência: dependência física e dependência psíquica.
Por ocasião da 9ª Revisão da Classificação Internacional das Doenças, os aspectos
psicológicos e físicos foram unificados sob a definição de dependência de drogas. Esta
mudança ocorreu, pois no passado julgou-se erroneamente que as drogas que
induziam a dependência física (e, conseqüentemente, a síndrome de abstinência)
seriam aquelas perigosas (foram por isso chamadas de drogas pesadas - "hard drugs")
ao contrário das que induziam apenas dependência psíquica (as drogas leves - "soft
drugs"). Sabe-se hoje, que várias drogas sem a capacidade de produzir dependência
física geram intensa compulsão para o uso e sérios problemas orgânicos. Portanto,
soaria estranho classificá-las como drogas "leves". Assim, hoje aceita-se que uma
pessoa seja dependente, sem qualificativo, enfatizando-se que a condição de
dependência seja encarada como um quadro clínico (ver dependente).
Dependência Cruzada
Capacidade de um fármaco ou droga suprimir as manifestações da síndrome de
abstinência induzida por uma outra substancia e manter o estado de neuroadaptação.
Pode ser parcial ou completa e o grau está mais relacionado a efeitos farmacológicos
que a semelhanças químicas.
Dependência física
É um estado de adaptação do corpo, manifestado por distúrbios físicos quando o uso
de uma droga é interrompido. Quando se utiliza uma droga em quantidades e
freqüências elevadas, o organismo estabelece um novo equilíbrio em seu
funcionamento, como forma de adaptação à droga, de tal forma que, na sua falta,
funciona mal.
Na dependência física, a droga é necessária para que o corpo funcione normalmente.
Dependência psíquica
É a dependência fundamental. A droga acaba produzindo um sentimento de satisfação
e um impulso psicológico forte, quase incontrolável, exigindo o uso contínuo da droga
para ter seus efeitos prazerosos ou evitar um mal-estar intenso ("fissura"), na sua
ausência.
Dependente
Uma pessoa só deve ser considerada dependente se o seu nível de consumo incorrer
em pelo menos três dos seguintes sintomas ou sinais, ao longo dos últimos doze
meses antecedentes ao diagnóstico:
forte desejo ou compulsão de consumir drogas;
consciência subjetiva de dificuldades na capacidade de controlar a ingestão de
drogas, em termos de início, término ou nível de consumo;
uso de substâncias psicoativas para atenuar sintomas de abstinência, com plena
consciência da efetividade de tal estratégia;
estado fisiológico de abstinência;
evidência de tolerância, necessitando doses crescentes da substância requerida
para alcançar os efeitos originalmente produzidos;
estreitamento do repertório pessoal de consumo, quando o indivíduo passa, por
exemplo, a consumir droga em locais não propícios, a qualquer hora, sem
nenhum motivo especial, ou negligência progressiva de prazeres e interesses
outros em favor do uso de drogas;
persistência no uso de drogas, a despeito de apresentar clara evidência de
manifestações danosas;
evidência de que o retorno ao uso da substância, após um período de
abstinência, leva a uma reinstalação rápida do quadro anterior.
SINDROME DE DEPENDÊNCIACONCEITO – CID 10
Conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso de uma substancia ou de uma classe delas alcança uma prioridade muito maior para um determinado individuo, do que outros comportamentos que antes tinham maior valor.
Característica principal: DESEJO
Critérios de diagnósticoForte desejo ou compulsão para consumir a substância;Dificuldade para controlar o comportamento de consumo (inicio, término ou dose);
Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso;Persistência do uso a despeito de clara evidência de conseqüências nocivas; Evidência de tolerância: necessidade de aumento de dose para obtenção do efeito desejado (diminuição marcante dos efeitos quando a dose é mantida)
Droga
De origem controversa, a palavra droga pode ter origem do persa droa (odor
aromático), do hebraico rakab (perfume) ou do holandês antigo droog (folha seca,
porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais).
Qualquer entidade química ou mistura de entidades (mas outras que não aquelas
necessárias para a manutenção da saúde, como, por exemplo, água e oxigênio), que
alteram a fisiologia do organismo ou o seu comportamento.
No sentido figurado: "coisa de pouco valor; coisa enfadonha; desagradável" (Novo
Dicionário Aurélio, 1986); "gíria: coisa ruim, imprestável; interjeição: exclamação que
exprime frustração no que se está fazendo" (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa
Mirador Internacional, 2a. Ed., 1976). Desta forma, o termo embute significações
subjetivas e negativas, dificultando sua utilização em contextos que se pretendem
objetivos tais como para se referir à substância propriamente dita, ou seja, um
substantivo. Se a droga é uma droga (no sentido figurado), isto já implica questões
como morais e de valores.
Droga ou fármaco de abuso
Fármacos ou drogas que atuam sobre os mecanismos de gratificação do cérebro,
usados com propósito não médicos, devido aos seus efeitos estimulantes.
Fármaco
Substância de estrutura química definida que, quando em contato ou introduzida num
sistema biológico, modifica uma ou mais de suas funções.
Farmacodependência
Fenômeno biopsicosocial que compreende um conjunto de alterações fisiológicas,
cognitivas e de comportamento, em que o uso compulsivo de um ou mais fármacos ou
drogas passa a ser o objetivo principal na vida do usuário.
Neuroadaptação
Alterações no SNC devido à presença de uma droga, após exposição única ou
repetida, que se manifesta pelo aparecimento de transtornos físicos intensos quando
se interrompe o uso (síndrome de abstinência) ou pela resposta diminuída para uma
mesma concentração no sitio de ação (tolerância farmacodinâmica).
Potencial de abuso de drogas ou fármacos
Capacidade de um fármaco ou droga desenvolver um padrão de comportamento de
uso abusivo que depende de seus efeitos farmacológicos agradáveis (reforço primário),
da aversão à síndrome de abstinência, do desenvolvimento de tolerância e de fatores
individuais, ambientais e sócias (reforços secundários).
Reforço primário
Efeitos farmacológicos agradáveis decorrentes da ação de uma substância nos centros
de recompensa do cérebro, que condicionam sua auto-administração contínua.
Reforço secundário
Atitudes sociais ou estímulos ambientais que contribuem para fortalecer um padrão de
comportamento de auto-administração de droga ou fármaco, inteiramente
independente de seus efeitos farmacológicos.
Regressão da tolerância
Fenômeno observado em individuo tolerante, quando, nas mesmas condições de
exposição a um fármaco ou droga, apresenta efeitos de maior intensidade, devido a
danos celulares e/ou alterações na biodisponibilidade do fármaco.
Síndrome de abstinência
Conjunto de sinais e sintomas de gravidade variável decorrentes da interrupção total ou
parcial do uso repetido (geralmente prolongado) e/ou excessivo de drogas em usuários
dependentes.
Caracteriza-se por sensações de mal-estar e diferentes graus de sofrimento mental e
físico, particulares para cada tipo de droga.
Algumas síndromes de abstinência podem ser tão graves a ponto de colocar em risco a
vida da pessoa, como é o caso da abstinência do álcool e da heroína.
Síndrome de abstinênciaSinais e sintomas característicos das drogas utilizadas quando o consumo é interrompido;As drogas são consumidas para redução destes sintomas de abstinência.
Tolerância
Quando o organismo reage à presença de um produto químico, através de um
processo de adaptação biológica.
No caso da presença contínua de uma determinada substância, o organismo se
acostuma a ela e a incorpora em seu funcionamento. Assim, ele responde cada vez
com menor intensidade aos efeitos da droga consumida, necessitando aumentar a
dosagem para obter os mesmos efeitos.
O aumento de doses, muito mais elevadas do que as iniciais, aumenta o risco de uma
morte súbita por overdose. Isto ocorre, por exemplo, quando se administra um produto
mais "puro", isto é, menos adulterado que habitualmente.
Taquifilaxia ou Tolerância aguda
Tolerância farmacodinâmica que se desenvolve rapidamente após exposição por um
curto período de tempo, a uma ou poucas doses de uma droga.
Tolerância cruzada
Fenômeno em que o individuo tolerante a um fármaco ou droga, apresenta tolerância a
outro de estrutura química e ação farmacológica não necessariamente relacionadas.
Tolerância farmacodinâmica
Tolerância em que as alterações adaptativas do sistema biológico a uma droga, que
resulta na necessidade de doses maiores destes agentes no sítio de ação para
obtenção de efeitos de mesma intensidade e duração do que os obtidos originalmente.
Tolerância metabólica ou disposicional
Ocorre quando as alterações adaptativas do sistema biológico a uma droga,
decorrentes do aumento na capacidade de biotransformação, resulta na necessidade
de doses maiores para atingir a mesma concentração no sítio de ação.
Tolerância reversa
Fenômeno de hipersusceptibilidade adquirida pela utilização contínua de uma droga ou
fármaco, quando os efeitos obtidos são de maior intensidade que os originalmente
obtidos, nas mesmas condições de exposição.
Usuário
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a seguinte classificação para as
pessoas que utilizam substâncias psicoativas:
Não-usuário: nunca utilizou;
Usuário leve: utilizou drogas, mas no último mês o consumo não foi diário ou semanal;
Usuário moderado: utilizou drogas semanalmente, mas não diariamente no último mês;
Usuário pesado: utilizou drogas diariamente no último mês.
Segundo considerações de saúde pública, sociais e educacionais, uma publicação da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
distingue quatro tipos de usuários:
Usuário experimental ou experimentador: limita-se a experimentar uma ou várias
drogas, por diversos motivos, como curiosidade, desejo de novas experiências,
pressão de grupo etc. Na grande maioria dos casos, o contato com drogas não passa
das primeiras experiências.
Usuário ocasional: utiliza um ou vários produtos, de vez em quando, se o ambiente for
favorável e a droga disponível. Não há dependência, nem ruptura das relações
afetivas, profissionais e sociais.
Usuário habitual ou "funcional": faz uso freqüente de drogas. Em suas relações já se
observam sinais de ruptura. Mesmo assim, ainda "funciona" socialmente, embora de
forma precária e correndo riscos de dependência.
Usuário dependente ou "disfuncional" (dependente, toxicômano, drogadito,
farmacodependente, dependente químico): vive pela droga e para a droga, quase que
exclusivamente. Como conseqüência, rompe os seus vínculos sociais, o que provoca
isolamento e marginalização, acompanhados eventualmente de decadência física e
moral.
Uso abusivo
Exposição a qualquer fármaco ou droga, geralmente por auto-administração, de uma
maneira que se desvie dos padrões médicos ou sócio-culturais aceitáveis.
Uso compulsivo
Exposição repetida a fármaco ou droga pela necessidade intensa de sentir os seus
efeitos ou para evitar o mal-estar decorrente de sua privação
Uso não médico de drogas ou fármacos
Exposição a uma droga ou fármaco pelo uso ocasional, freqüente ou mesmo
compulsivo, aceito ou não pelos padrões de uma dada sociedade.
Vício
Termo usado popularmente para designar o fenômeno de farmacodependência
Outras fontes de consulta:
Goodman e Gilman – As bases Farmacológicas da Terapêutica – 9a edição,
1996. O capitulo 24 – Dependência e uso abusivo de drogas, tem alguns
conceitos e um resumo sobre as principais drogas: cocaína, maconha, nicotina.
O texto tem alguns exemplos, com experimentos, etc.
Rang e Dale – Farmacologia – Cap 33. Outro bom guia.
Seizi Oga - Fundamentos de Toxicologia –– 1996 – Ed Atheneu – Cap 4.1
MIDIO, A. F. e col – Glossário de Toxicologia. São Paulo, Ed Roca
http://www.usp.br/fm/grea
http://www.imesc.sp.gov.br
http://www.senad.gov.br
Alucinógenos
LSD
O mais antigo alucinógeno conhecido é o cogumelo fly-agaric, Amanita
muscaria, descoberta na Sibéria por observação do comportamento na rena. A
ingestão de alcalóides de ergot era utilizado por religiões na Grécia. A legião de
Antônio retirou-se na primeira parte do século d.C. devido a periódicas epidemias de
ergotismo causado pela ingestão de centeio infectado com fungo Claviceps purpúrea,
praga na Europa que matou 40.000 pessoas em 944 d.C.
O termo alucilogênio tem origem do latim: alucinare que significa vagar pela
mente. Hoje a definição de alucinógenos é: qualquer agente que causa alteração na
percepção, cognição, humor e ações biológicas primárias com presença ou ausência
sensorial.
Em 1938, dois químicos trabalhando para a companhia farmacêutica Sandoz
sintetizaram LDS (encontrado no fungo ergot) no laboratório. Este foi estudado em
1943 pelo descobridor, pesquisador suíço Albert Hoffman que estudava alcalóides
extraídos de fungos que atacavam o centeio e o trigo. Ele estudava especificamente a
ergotina, sobretudo dietilamida ácido lisérgico-25. Hoffman ingeriu propositalmente o
LSD e descreveu os seguintes efeitos:
a ingestão de 25-50 g levou a um efeito de pequena duração com pequena
labilidade e ilusão visual, mas sem alucinação
a percepção foi intensificada, mais que distorcida, as experiências se tornam
místicas e experiências antigas são re-experimentadas.
já numa ingestão maior, a tontura e a ansiedade ocorrem após 20 a 30 minutos
de ingestão, os sintomas pareceram mais com a exacerbação do sistema
nervosos simpático: o aumento dos batimentos cardíacos e pressão cardíaca,
dilatação da pupila, hiperreflexia, pirexia. As alucinações podem ocorrer em
qualquer modalidade sensorial comumente sendo visual e auditiva. As ilusões
foram freqüentes. A percepção do tempo foi alterada, sinestesia (mistura de
sentidos). Os sentimentos ficaram alterados e os tipos de alucinações
dependem do estado de humor antes da “viagem” e podem durar de 6 a 12 hs.
Os alucinógenos alteram a sensação e percepção. Estas alterações podem ser
amenas ou violentas. LSD altera a percepção, pode causar experiências de cores vivas
com mudanças de tamanho e forma. O usuário tem a função mental alterada, a
memória não é prejudicada, a concentração e outros aspectos cognitivos são
prejudicados dependendo da dose. O efeito começa a aparecer depois de 30 a 90
minutos de ingestão e os efeitos físicos são: dilatação de pupilas, aumento da
temperatura corpórea, aumento da taxa de batimento cardíaco e pressão sanguínea,
suor, perda do apetite, insônia, boca seca, e tremores.
Ambos, o LSD e a serotonina (5HT), tê um anel benzênico e um nitrogênio
contido num anel adjacente. As moléculas têm o mesmo receptor no cérebro como
alvo, mas o LSD desencadeia respostas diferentes no interior da célula porque atua
como agonista parcial do receptor de serotonina.
O receptor de serotonina, acoplado à proteína G, gera segundos mensageiros
que regulam as duas principais vias de sinalização, que são a de adenilato ciclase e
fosfolipase C, por fosforilação/desfosforilação de proteínas intracelulares.
Muitos usuários experimentam as sensações de flashback recorrentes de certos
aspectos da sua vida, mesmo não tendo tomado a droga numa janela de 12 horas;
estes flashback podem ocorrer dentro de dias ou anos. A maioria dos usuários
voluntariamente diminui ou para o consumo, mas o LSD não é considerado uma droga
de vício, pois não cria no usuário um comportamento compulsivo de ingerir a droga,
como no caso da cocaína, anfetamina, heroína, álcool e nicotina. Entretanto, muitos
usuários vão aumentando as doses progressivamente até o estado de intoxicação.
LSD causa tolerância e tolerância cruzada; a tolerância e alteração de humor
pronunciada se desenvolvem com o consumo deste de 4 a 7 dias, com administração
diária. A tolerância cruzada tem sido demonstrada em LSD, psicocibina e a mescalina,
mas não em anfetamina ou maconha. Não causa síndrome de abstinência.
LSD é solúvel em água, e é rapidamente absorvido depois de administrado
oralmente em pequenas quantidades. Uma dose de 25 mg pode produzir efeitos
significativos durante 10 a 12 horas; sua potência é impressionante (300 mil vezes mais
ativa que a maconha) porque o tecido cerebral mantém uma baixíssima concentração
de LSD em relação a qualquer outro tecido do corpo, durante todo o tempo posterior à
ingestão da droga. A tolerância ao LSD ultrapassa a maioria dos outros alucinógenos,
incluindo os derivados de anfetamina alucinógena e a mescalina, mas não se estende
à maconha. Os usuários de LSD, portanto repetem as doses após longos intervalos e
não o substituem nem o administram simultaneamente com outros alucinógenos.
Catabolismo: o mesmo da dopamina.
Nos anos cinqüenta, o ácido lisérgico dietillamida -125 (LSD) e a mescalina
foram utilizadas em experimentação médica como prova de sua segurança e eficiência
- já havia preocupações médicas quanto ao uso. Nesta década, drogas como ácido
lisérgico causaram grande expectativa, pois diferentemente de outras drogas
tranqüilizantes e antidepressivas esta droga transformava a personalidade.
Até o fim da década, no pico de aceitação de LSD, psicoterapeutas tratavam
milhares de pacientes com LDS para superar neurose, disfunção sexual, alcoolismo,
ansiedade, bloqueio de criatividade e indisposição no geral. Inspirados nos artigos de
Huxley, e depois nos comentários de Timothy Leary, milhões de pessoas (o estimado
são de 5 milhões de pessoas) embarcaram no uso sem acompanhamento de LSD
manufaturado ilegalmente.
Os alucinógenos utilizados em rituais entre as populações indígenas podem ser
utilizadas como estudo porque estas populações usam alucinógenos por questões
religiosas (não há então nos estudos, associação do usuário de outras drogas).
Religiões deste tipo são: união vegetal (Brasil), culto iboga em Gabão, Huichol no
México, Tarahumara no México e igreja nativa americana, cujos membros ingerem
alucinógeno proveniente de cactos nos sacramentos religiosos (250.000 membros).
Outros alucinógenos
Mescalina
É sintetizada a partir de um cacto, peiote, natural do México. O cacto era usado há
séculos em cerimônias religiosos, desde os tempos remotos, na América central em
rituais religiosos. Ele ganhou maior importância há alguns anos. A mescalina tem
estrutura semelhante a neurotramissores do cérebro, como a dopamina e
noradrenalina. Causa mais ansiedade e efeitos visuais pronunciados.
PCP
Um anestésico, único alucinógeno fumado.
Cogumelo
Alucinógenos provenientes de plantas e fungos são:
Psilocibina (N, N-dimetil-4-fosforiloxitriptamina)
N,N-dimetiltriptamina (DMT)
Mescalina (3,4,5-trimethoxiphenetilamine)
Estes foram suplantados por LSD (ácido lisérgico dietilamida) em 1943 seguido
por N,N-dipropiltriptamina (DPT), 2,5-dimethoxi-4-metilmfetamina (DOM), 3,4
metilenedioxi-N-etilamfetamina (MDE), 3,4 metillenedioxi-N-metilamfetamina (MDMA) e
inumeráveis outras estruturas análogas.
No Brasil, as principais espécies de cogumelo alucinógeno são Psiloybe
cubensies e os cogumelos pertencentes ao gênero Panelus. Jurema: o vinho jurema
preparado à base de Mimosa hostilis é utilizado por índios e caboclos do interior do
Brasil. Jurema sintetiza um potente alucinógeno, a dimetiltriptamina ou DMT. Há dúzias
de espécies de psilocibina ou cogumelos mágicos pertencentes a gêneros de psilocite,
panaeolus e copendia (espécie não correlata do psicoativo amanita). Os efeitos de
ingestão parecem com os sintomas da pequena ingestão de LSD, produzindo
significativos efeitos fiscos, visuais e perceptivos. A ingestão em doses recreativas é de
1 a 5 mg de cogumelo seco dependendo da espécie. A dose de cogumelo não seco é
de 10 vezes maior. Por causa da diversidade de tamanho e espécie de cogumelos, as
gramas de ingestão variam. Efeitos: Os cogumelos e plantas alucinógenas podem ser
comidos e usados na forma de chá, variam de pessoa para pessoa e dependem do
ambiente em que a droga é ingerida. De modo geral, esta provoca alucinações,
delírios, dilatação de pupila, suor excessivo, taquicardia e náusea. Podem desencadear
pânico (alguns tipos de alucinógenos), delírios de grandeza e perseguições.
Religião santo Daime
Baseada no consumo da ayahuasca, um chá de propriedades alucinógenas feito com
plantas da Floresta Amazônica. Com uniforme branco, os adeptos varam a noite
cantando hinos de tom monocórdico. Os temas são religiosos e o português é a língua
oficial do Santo Daime. Em intervalos regulares, eles fazem uso da ayahuasca, a
bebida de cor de terra e gosto amargo. Preparada a partir do cipó-jagube e da folha
chacrona, próprios da floresta equatorial, a ayahuasca induz estados alterados de
percepção. A ingestão do líquido costuma provocar vômitos e diarréia, mesmo em
usuários de longa data. De acordo com depoimentos dos adeptos, depois da 'limpeza
do organismo' atinge-se um estágio chamado de miração. Segundo os daimistas, é
quando se entra em contato com o Espírito Santo e tem início um processo de
autoconhecimento e melhor compreensão do mundo. Os extratos vegetais são fervidos
e dão origem ao chá ayahuasca. Os índios usavam este chá na forma terapêutica.
Sem efeito comprovado na gravidez, não é causa de mortes, embora possam ocorrer
acidentes durante o efeito da droga. Também não há registro de má formação
genética. Podem induzir pânico temporário (24h). Provocam flashbacks (15% dos
consumidores), depressões, comportamento paranóico, episódios psicóticos.
Para pesquisar mais
Livro
As bases farmacológicas da terapêutica Autores: Goodman e Gilman, Ed. Guanabara.
Sites
www.nida.nih.gov/Infofax/lsd.html
www.mtregis.com/display_article.asp?article=2490
http://www.geocities.com/tentesoma/literatura.htm
http://www.anavitor.hpg.ig.com.br/livro.htm
Cafeína
Referências eletrônicas
http://www.medikka.com/revistamed/tema.html
http://www.psiqweb.med.br/farmaco/cafeina.html
http://sulcus.berkeley.edu/mcb/165_001/papers/manuscripts/_442.html
http://www.acnp.org/G4/GN401000165/CH161.html - Cafeína: Uma droga de
abuso?
http://www.quimica.matrix.com.br/artigos/cafeina.html - Cafeína: A droga
predileta
http://web.sfn.org/content/Publications/BrainBriefings/adenosine.html - Efeitos no
sono
http://www.nottingham.ac.uk/~mqzwww/adenosine.html - Receptores de
adenosina
http://www.t-mag.com/articles/219caff.html - Cafeína e sua relação com a
adrenalina
Álcool
O etanol é conhecido em quase todas as partes do mundo desde a Pré-História,
com primeiros relatos datados de cerca de 6000 anos atrás, no Egito e Babilônia. As
bebidas alcoólicas mais antigas eram fermentadas e de baixo teor alcoólico. Na Idade
Média, os árabes introduziram a técnica de destilação para aumentar a concentração
de álcool nas bebidas.
O álcool é pouquíssimo utilizado na medicina moderna, exceto como solvente
para algumas drogas administradas na forma líquida. A maior parcela da sua utilização
está ligada a fins recreativos. Desde o início de seu consumo e por todas as diferentes
sociedades que o utilizavam, os efeitos do álcool sobre o indivíduo e sua capacidade
de alterar o comportamento já eram conhecidos.
Entre todas as substâncias psicoativas, o álcool é a mais utilizada e as
conseqüências deste uso, como acidentes de trânsito ou de trabalho, hepatopatias e
quadros de dependência, são bastante elevados. Estima-se que no Brasil, uma em
cada dez pessoas tenha problemas conseqüentes ao uso indevido do álcool, incidência
alta e que poucas patologias se igualam.
O álcool no organismo
O álcool, um composto lipossolúvel, é absorvido por difusão simples através de
superfícies mucosas. Esta difusão ocorre no estômago (20%), mas é mais rápida
através da mucosa fina do intestino delgado (75%), de forma que qualquer coisa que
retarde o esvaziamento gástrico (por exemplo, alimento, exercício e drogas
anticolinérgicas) retardará a absorção do etanol. Assim, a redução do fluxo sangüíneo
visceral, a diluição excessiva do álcool ingerido ou qualquer outra forma de diminuir o
gradiente de concentração através da mucosa também diminuirá sua absorção.
De todo o etanol ingerido, a maior parte é metabolizada no fígado (veja a
atividade desenvolvida em aula) e 2-7% são eliminados inalterados através de rins e
pulmões. A pressão de vapor do etanol no ar alveolar está em equilíbrio com aquela no
plasma e este é o princípio do teste de Breathanalyzer, ou teste do bafômetro.
Teste do Bafômetro
A existência de restrições à ingestão de álcool no código de trânsito de diversos países data das décadas de 1930-1940. Até por volta de 1945, a única maneira de saber se um motorista estava sóbrio era coletar amostras do seu sangue ou urina e enviá-las aos laboratórios para análise. Porém, estas análises envolviam procedimentos complexos e lentos.
Em busca de métodos alternativos que pudessem ser realizados no local da infração, fornecendo resultados rápidos e confiáveis também do ponto de vista legal, surgiram nos anos 50, os primeiros analisadores do ar soprado pelos motoristas suspeitos, os bafômetros.
Um dos primeiros bafômetros usados comercialmente, cujo princípio continua ainda a ser empregado nos dias de hoje, opera utilizando um método colorimétrico de análise. O ar soprado pelo suspeito é bombeado numa solução de dicromato de potássio fortemente acidulada com ácido sulfúrico e o etanol introduzido na solução reage com os íons dicromato, produzindo ácido acético e íons Cr3+. Conforme o etanol reage, há mudança na coloração laranja para um tom esverdeado que é utilizada para quantificar o etanol.
3CH3CH2OH +2Cr2O72- +16H+ 3CH3COOH + 4Cr3+ + 11H2O
Para que seja possível quantificar o etanol contido no ar soprado pelo suspeito, primeiro, o ar amostrado deve corresponder ao ar alveolar dos pulmões, que se encontra em equilíbrio com o sangue envolvido no transporte de gases do metabolismo humano. Assim, o ar soprado através do tubo deve preencher primeiro um amostrador, do tipo pistão, que introduz no sistema somente a última parte do sopro, formada pelo ar alveolar. Segundo, a reação de oxidação do etanol pelos íons dicromato é lenta, mesmo em meio fortemente ácido, e requer o uso de nitrato de prata como catalisador e deve ser mantida a 50ºC. Nestas condições, a reação se completa em 90s.
A absorção e a metabolização variam de pessoa para pessoa. Isto depende de
fatores como peso, sexo, estado geral de saúde, e raça. Em geral, quanto maior é a
pessoa, maior é o fígado e mais rapidamente o álcool é metabolizado e removido da
circulação. Além disso, se um homem e uma mulher ingerem exatamente a mesma
quantidade de álcool, a mulher quase sempre apresentará um conteúdo alcoólico no
sangue maior do que o homem. O corpo da mulher contém mais tecido adiposo e
menos água em relação ao do homem e, portanto, o álcool estará mais concentrado.
O tipo de bebida também influencia no efeito alcoólico no organismo. As bebidas
fermentadas, por ser meio residual de cultura de leveduras, contêm outros nutrientes
que prolongam o tempo de absorção do álcool. Isto não acontece com bebidas
destiladas, que são constituídas essencialmente por água e etanol, apresentando
absorção mais rápida.
O consumo agudo de álcool mostra que há uma relação entre os níveis
plasmáticos de etanol e os efeitos clínicos observados, como mostra a tabela seguinte.
Um porre. Etanol no sangue e significação:
Etanol
no
sangue
(g/L)
Estágio Sinais Clínicos/Sintomas
0,1 a 0,5 SobriedadeNenhuma influência aparente. Testes especiais revelam
pequenos transtornos subclínicos.
0,3 a 1,2 Euforia
Suave euforia, sociabilidade; decréscimo das inibições.
Diminuição da atenção, julgamento e controle. Perda da
eficiência em testes especiais.
0,9 a 2,5 Excitação
Instabilidade emocional; decréscimo das inibições. Perda do
julgamento crítico. Enfraquecimento da memória e da
compreensão. Decréscimo da resposta sensitiva. Alguma
descoordenação muscular.
1,8 a 3,0 Confusão
Desorientação, confusão mental e vertigens. Estado
emocional exagerado (medo, aborrecimentos, aflição, etc.).
Distúrbios da sensação (diplopia, etc) e da percepção às
cores, formas, movimentos e dimensões. Debilidade no
equilíbrio, descoordenação muscular, vacilação no modo de
andar e dificuldade na fala.
2,7 a 4,0 Estupor
Apatia; inércia geral. Diminuição marcada das respostas aos
estímulos. Marcada descoordenação muscular com
instabilidade para suportar o andar. Vômitos. Incontinência
da urina e das fezes. Debilidade da consciência.
3,5 a 5,0 Coma
Completa inconsciência; coma; anestesia. Debilidade e
abolição dos reflexos. Incontinência da urina e das fezes.
Dificuldades circulatórias e respiratórias. Morte possível.
Acima de
4,5Morte Parada respiratória.
Laurini, L. Toxicologia, 1991.
Álcool e doenças
Fígado
A ingestão a curto prazo de até 80 g de etanol por dia (8 cervejas), em geral
produz alterações hepáticas ligeiras e reversíveis, tais como fígado gorduroso.
A ingestão diária de 160 g ou mais de etanol por 10 a 20 anos está associada mais
sistematicamente a lesões graves. Assim, o consumo crônico de álcool pode ocasionar
três efeitos adversos no nível hepático:
Esteatose hepática
Hepatite alcoólica
Cirrose
São formas distintas, apesar de superpostas, e também podem aparecer
independentemente umas das outras e não apresentam necessariamente uma forma
progressiva de alterações. Agrupam-se na chamada doença hepática alcoólica.
Destas, a cirrose alcoólica é a forma final e irreversível de hepatopatia alcoólica
e evolui de forma lenta e insidiosa. Após alguns anos, o fígado é transformado em um
órgão marrom, contraído e sem gordura. Apenas 10 a 15% dos alcoólicos desenvolvem
cirrose.
Formam-se septos fibrosos que, inicialmente, se organizam em micronódulos e
que, com o passar do tempo, podem adquirir dimensões consideráveis (mais de 2 cm
de diâmetro). A estimulação da fibrose induzida pelo álcool é multifatorial e continua
sendo pouco compreendida.
A patogenia da doença hepática alcoólica envolve:
indução dos citocromos P450,
aumento de radicais livres gerados pela oxidação através do sistema microssômico,
ação direta sobre a função microtubular e mitocondrial, assim como na fluidez de
membranas,
ligação do acetaldeído com proteínas, induzindo um ataque imunológico aos
neoantígenos hepáticos.
Miocárdio
O álcool causa um bloqueio cardíaco autônomo, com diminuição significativa da
contratilidade. Há também uma ação tóxica direta do etanol e do acetaldeído sobre a
célula miocárdica. Esses efeitos acarretam uma miocardiopatia alcoólica, sendo uma
forma de miocardiopatia dilatada.
Aparelho gastrointestinal
O álcool causa gastrite, provavelmente por ruptura da barreira mucosa gástrica.
Quando ingerido a ponto de causar intoxicação, leva à interrupção total das funções
gastrointestinais secretoras e motoras.
Pâncreas
No alcoolismo crônico há a formação de tampões proteináceos nos ductos
pancreáticos pequenos, causando atrofia dos ácinos drenados pelo ducto obstruído.
Isso leva à pancreatite.
Gota
O acúmulo de lactato, aliado a uma renovação excessiva dos nucleotídeos de
adenina, leva a um aumento das taxas de ácido úrico, facilitando o aparecimento da
gota.
Desvitaminose
O álcool induz um estado carencial em vitaminas e em oligoelementos, através
de vários mecanismos. O primeiro mecanismo evocado pela maioria dos autores é a
insuficiência na ingestão destes micronutrientes. Também foi observado um aumento
das necessidades. Os outros mecanismos relacionam-se a um distúrbio do
metabolismo vitamínico como: má-absorção, falta de conversão em forma ativa,
diminuição das afinidades teciduais.
A manifestação clínica de estados de carência vitamínica induzidos pelo álcool é
conhecida parcialmente:
Problemas neurológicos com polineurites, encefalopatia de Gayet-Wernicke,
síndrome de Korsakoff, para a tiamina.
Anemia megaloblástica, para o ácido fólico
Hiper-hemólise na síndrome de Zieve, para o tocoferol
Alteração da visão noturna, para o retinol
Anemia sideroblástica e polineurite, para a vitamina B6
Pseudopelagra, para a niacina.
Tiamina
A síndrome de Wernicke é o sinal clínico mais proeminente da subnutrição nos
alcoólicos crônicos e caracteriza-se por marcha atáxica, paralisia dos músculos
oculares, polineuropatia, estado confusional e amnésico e, em certos casos hipotermia
e hipotensão.
A origem da neuropatia reside em um comprometimento axonal e mielínico ao
nível do hipotálamo, do mesencéfalo e do tronco cerebral.
A associação da síndrome com a deficiência da tiamina é reforçada pelo
desaparecimento dos sintomas com a administração parenteral de fortes doses de
tiamina. Entretanto, o mecanismo exato do comprometimento celular continua sendo
desconhecido.
Os mecanismos através dos quais o álcool leva a uma deficiência de tiamina
são:
Substituição dos alimentos ricos em tiamina por álcool
Má-absorção intestinal da tiamina
Alteração das reservas hepáticas dessa vitamina
Aumento das necessidades de tiamina devido ao metabolismo do álcool.
Ácido Fólico
É a vitamina mais afetada pelo alcoolismo. Clinicamente, a carência de folato
caracteriza-se por anemia megaloblástica e macrocitose do epitélio intestinal,
freqüentemente associadas a diarréias e mal-absorção dos constituintes do bolo
alimentar.
A etiologia dessa carência compreende:
insuficiência na ingestão
má-absorção intestinal
perturbação do ciclo entero-hepático e
aumento da excreção urinária.
A elevada incidência de diarréia em alcoólicos é em parte explicada pelos
efeitos da carência em folato sobre as estruturas epiteliais da mucosa intestinal e sobre
os mecanismos de absorção de líquidos.
O consumo de álcool altera a fixação e/ou a estocagem de folatos ou aumenta a
sua excreção hepática. O álcool afeta o ciclo entero-hepático, durante o qual os folatos
endógenos são concentrados e excretados na bile, o que permite a sua conservação.
A importante diminuição do teor hepático em folatos quando da administração
crônica de álcool sugere uma alteração do transporte membranoso dos folatos pelo
etanol.
O fato de que a diminuição dos teores hepáticos em folatos seja associada a:
diminuição da absorção intestinal
diminuição da acumulação hepática
aumento da excreção urinária,
sugere que existem vários pontos onde o efeito inibidor do álcool podem exercer sobre
o transporte através de membranas de folatos.
Vitamina B6
A deficiência da vitamina B6 é freqüente entre os alcoólicos crônicos, porém, é
mais elevada entre os que já se apresentam com insuficiência hepática do que entre os
que não a possuem. Clinicamente essa deficiência causa desordens hematológicas e
neurológicas. Ela é causada por:
efeitos do acetaldeído:
diminuição da sínteses de piridoxal-5’-fosfato (PLP);
diminuição da afinidade do PLP por suas proteínas de ligação, acelerando assim
sua degradação pela fosfatase alcalina hepática e circulante .
ingestão deficiente
problemas na absorção intestinal.
Mulheres e álcool
Mulheres que consomem álcool têm maior probabilidade de desenvolver câncer
de mama e problemas ginecológicos do que uma mulher que não bebe. Além disso,
algumas pesquisas sugerem que reação de uma mulher ao álcool pode variar nos
diferentes estágios do ciclo menstrual devido a diferenças nos níveis hormonais.
Mulheres que tomam pílula anticoncepcional, em sua maioria, levam um maior tempo
para metabolizar o álcool.
Gravidez
Algumas mulheres que bebem muito durante a gravidez têm filhos que são
pequenos, prematuros e alguns podem apresentar anormalidades, incluindo a
Síndrome Fetal do Álcool (FAS). Crianças com FAS podem apresentar danos
cerebrais, traços faciais anormais, e serem menores e mais claros do que as outras.
Elas também podem ter dificuldades de aprendizado.
Não se sabe ao certo qual a quantidade que afeta a criança antes de nascer,
portanto, a melhor medida é não ingerir álcool durante a gravidez.
Alcoolismo
Embora o alcoolismo seja amplamente considerado como uma doença, é mais
apropriado, talvez, considerá-lo como uma forma de comportamento condicionado. Se
o álcool for usado repetidamente e em grandes quantidades para conseguir aliviar
problemas que a pessoa não sabe como resolver por outros meios, o ato de beber
torna-se uma resposta comportamental firmemente estabelecida e automática para
toda espécie de dificuldade.
Como uma forma de comportamento adquirido, não se poderia esperar que o
alcoolismo tivesse uma causa única. Evidências recentes sugerem que pode existir um
fator predisponente hereditário. Atitudes dos pais e aquelas da sociedade em relação
ao ato de beber e à embriaguez, conflitos emocionais pessoais, a disponibilidade e o
custo relativo do álcool, e o ato de beber dos amigos estão diretamente ligados à
quantidade de álcool consumida pela sociedade como um todo e por qualquer
indivíduo que vive nesta sociedade em particular.
As conseqüências do alcoolismo incluem taxas elevadas de acidentes
automobilísticos e outros, perda de produtividade de trabalho e do salário, conflitos
sociais e familiares, assim como uma alta incidência de várias espécies de moléstias.
Existem três problemas farmacológicos principais: a redução da dieta e do consumo de
proteínas e vitaminas, já que o álcool supre as necessidades calóricas do organismo;
os efeitos diretos nas células hepáticas e no trato gastrointestinal que leva ao
comprometimento de outros órgãos; e a exposição crônica do cérebro a altas
concentrações de álcool conduzindo a alterações adaptativas.
Tolerância e Dependência
Doses maiores são necessárias para produzir o mesmo efeito, o que reflete uma
tolerância metabólica produzida pela degradação mais rápida do etanol no fígado, e
uma tolerância funcional no sistema nervoso. Os efeitos depressores do álcool
provocam uma hiperexcitabilidade adaptativa nos neurônios afetados. Deste modo, o
sistema nervoso funciona de forma relativamente normal na presença contínua da
droga, e o indivíduo é considerado tolerante.
Quando o etanol é retirado, as alterações no sistema nervoso ficam em
desequilíbrio, e a hiperexcitabilidade se revela. Isto constitui a síndrome de abstinência
ao álcool que pode ser aliviada pela ingestão de mais álcool; diz-se que a pessoa
desenvolveu uma dependência física ao álcool.
Critérios para o diagnóstico de dependência de álcool. Presença de três ou mais critérios, ocorrendo num período de doze meses.
1. Tolerância caracterizada por uma das seguintes situaçõesa necessidade de aumentar a quantidade da substância usada para obter o mesmo
efeito.b. diminuição do efeito com o uso contínuo da mesma quantidade da substância.
2. Abstinência:a síndrome de abstinência.b. substância é utilizada para aliviar ou evitar sintomas de abstinência.
3. A substância é usada freqüentemente em quantidades maiores ou por períodos maiores do que o indivíduo deseja.
4. Desejo persistente ou tentativas mal sucedidas para diminuir ou controlar o uso.5. Indivíduo despende grande parte do tempo em atividades para obter a substância,
usá-la ou recuperar-se de seus efeitos.6. Atividades profissionais, sociais ou recreativas anteriormente importantes são
abandonadas ou reduzidas devido ao uso de drogas.7. Uso da substância é mantido apesar de problemas físicos e psicológicos
recorrentes, sabidamente causados ou exacerbados pela droga.Oga, S. Fundamentos de Toxicologia, 1996
A síndrome de abstinência pode variar de moderada a muito severa. Depois de
uma intoxicação prolongada durante dias ou semanas, os sintomas de abstinência
geralmente incluem insônia, tremor, reflexos exacerbados e perda de apetite. Nos
casos de intoxicações mais sérias pode haver alucinações e convulsões. A ocorrência
mais grave inclui ainda, febre, delírio, hiperatividade intensa e taquicardia, a qual pode
terminar em colapso cardiovascular e morte.
Síndromes agudas de abstinência
DELIRIUM TREMENS
Constitui o tipo mais grave de abstinência aguda do álcool.
Os pacientes afetados mostram-se desorientados, agitados, com alucinações,
trêmulos e transpirando. O pulso e a respiração apresentam-se rápidos, a pressão
arterial pode estar alta ou baixa e a temperatura corpórea geralmente está elevada.
Pode haver fortes cãibras devido a uma miopatia aguda associada ou
parestesias generalizadas devido a uma polineuropatia difusa.
Ocorre cerca de três a cinco dias após a retirada ou declínio da ingestão de
álcool. Com um tratamento adequado os sintomas mais graves desaparecem dentro de
dez dias; os de menor gravidade podem durar até seis meses.
Os benzodiazepínicos são os agentes de escolha para induzir a sedação. O
suprimento de eletrólitos e vitaminas, principalmente a tiamina é de vital importância.
CONVULSÕES DA ABSTINÊNCIA
As convulsões geralmente ocorrem em um período de 12 a 48 horas após a
cessação da ingestão alcoólica. Vários mecanismos causais foram sugeridos, incluindo
a hipocapnia ou hipomagnesemia crônicas, mas nenhum deles foi comprovado.
Curiosidade:Em 1935, dois alcoolistas desesperançosos – Bob Smith e Bill Wilson –
descobriram que podiam permanecer sóbrios ajudando-se mutuamente e fundaram os Alcoólatras Anônimos. Hoje é uma irmandade de homens e mulheres, composta por cerca de 2 milhões de alcoolistas, em aproximadamente 150 países, que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. Esses homens e mulheres se reúnem em Grupos de A.A. locais, que podem contar com um número pequeno de membros em lugares menores e com centenas de membros em lugares maiores. Atualmente, as mulheres representam 35% do total de membros (EUA / Canadá). No Brasil ainda não existem estatísticas a esse respeito.
http://www.alcoolicosanonimos.org.br/Escritório de Serviços no Brasil Gerais
de A.A. no Brasil Caixa Postal 3180CEP 01060-970 - São Paulo - SP
Fone /fax: (011) 229 3611
Inalantes
Inalante é toda a substância capaz de ser inalada, isto é, introduzida no
organismo através da aspiração pelo nariz ou pela boca. Comumente, todo solvente é
uma substância altamente volátil, isto é, se evapora muito facilmente e, sendo assim,
pode ser facilmente inalada.
Um número grande de produtos comerciais como esmaltes, colas, tintas, tiners
propelentes, removedores, etc. contêm esses solventes. Eles podem ser aspirados
tanto involuntariamente (por exemplo, trabalhadores de indústrias ou de oficinas de
pintura expostos ao ar contaminado por essas substâncias) ou voluntariamente (por
exemplo a criança de rua que cheira cola de sapateiro, o menino que cheira o corretivo
líquido carbex, etc). O nosso estudo irá focar somente o consumo voluntário, ou seja, o
inalante como droga de abuso.
CATEGORIAS DE INALANTES
Tipo de Inalante Produtos Ingredientes Mais Comuns
ADESIVOS Colas, borrachas Tolueno, hexano, meti butilcetona, tricloroetileno, tetracloroetileno
AEROSSÓIS Tinta spray, spray para cabelo, desodorantes
Butano, propano, tolueno, hidrocarbonetos, fluorcarbonetos
AGENTES DE LIMPEZA Limpeza a seco, desengordurantes, removedores de manchas
Tricloroetileno, tetracloroetileno, xileno, tetracloroetano
SOLVENTES DE USO COMUM
Tiners, removedores, corretivos líquidos, marcadores de texto, combustível de isqueiros
Tolueno, acetona, butano, isopropano, metanol, cloreto de metileno
GASOLINA Querosene, combustível de aviação, petróleo
Hidrocarbonetos, cádmio, benzeno, tolueno, chumbo
NITRITOS Salas Odorizadas Amil (“poppers”, “snappers”), butil (“rush”, “locker room”, “bolt”, “Climax”, também vendido com limpadores de cabeçote de vídeo.
GASES E SOLVENTES Anestésicos,lança-perfume, loló
Oxido nitroso, éter, clorofórmio, cloreto de etila
Além de serem facilmente encontradas, seu baixo custo permite a aquisição
pelos principais usuários como drogas de abuso: os meninos de rua e uma
considerável parcela dos estudantes de 1o e 2o graus. O uso maciço dos solventes
iniciou-se no início da década de 60 nos Estados Unidos, sendo que as primeiras
referências sobre seu uso como drogas de abuso no Brasil datam do período de
1965/1970.
Possíveis Efeitos: Euforia, sonolência, diminuição da fome, alucinações. Tosse,
coriza, náuseas, e vômitos, dores musculares. Visão dupla, fala enrolada, movimentos
desordenados e confusão mental. Em altas doses, pode haver queda da pressão
arterial, diminuição da respiração e dos batimentos cardíacos, podendo levar à morte.
O uso continuado pode causar problemas renais e destruição dos neurônios (células do
sistema nervoso), podendo levar à atrofia cerebral. O uso prolongado está
freqüentemente associado a tentativas de suicídio.
“Os solventes são em geral usados de modo intermitente, freqüentemente como
parte de uma ‘moda’ entre adolescentes ou grupos com acesso limitado às drogas. Os
adolescentes tendem a abandonar o uso dos solventes após um ano ou dois, à medida
que crescem e mudam para outras substâncias (...).”
Já o livreto Normas e Procedimentos na Abordagem do Abuso de Drogas,
elaborados pela Secretaria Nacional de Assistência à Saúde (SNAS), diz o seguinte:
“(...) Dados levantados por diferentes autores em diferentes cidades e em duas
pesquisas mais amplas abrangendo cerca de 47.000 estudantes de 17 cidades do
Brasil, em escolas públicas e particulares, apontaram que as drogas mais utilizadas
(exceto álcool e tabaco) são, pela ordem, os solventes ou inalantes (17% de nossos
escolares já os experimentaram, de acordo com inquérito realizado em 1989), os
ansiolíticos e benzodiazepínicos (7%), as anfetaminas e anorexígenos (4%), a
maconha (3,5%), os barbitúricos (2%), os xaropes antitussígenos (1,5%), os
anticolinérgicos (1%) e a cocaína (0,7%). Estes números referem-se ao ‘uso na vida’,
ou seja, aqueles casos em que o estudante utilizou qualquer droga pelo menos uma
vez na vida.” Deduz-se então que os inalantes podem ser a porta de entrada para o
consumo de outras drogas entre nossos jovens.
As drogas e a vida: uma abordagem biopsicossocial, livro organizado por
Richard Bucher, traz ainda estas valiosas informações sobre os inalantes:
“... Os efeitos geralmente começam com o início da inalação
e perduram por 15-45 minutos depois que a inalação cessa.”
“Até o momento não foi comprovado que essas drogas provoquem dependência
física ou psíquica. A tolerância pode-se desenvolver, em caso de inalação regular, num
espaço de 2 a 3 meses.”
A síndrome de abstinência provocada pelos inalantes entre seus usuários pode
trazer hiperatividade, alucinações, delírios, ansiedade, calafrios e irritabilidade.
Efeitos dos Inalantes no Cérebro
De acordo com o aparecimento dos efeitos após inalação de solventes, eles
foram divididos em quatro fases:
Primeira fase: é a chamada fase de excitação e é a desejada, pois a pessoa
fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e
visuais. Mas pode também aparecer náuseas, espirros, tosse, muita salivação e as
faces podem ficar avermelhadas.
Segunda fase: a depressão do cérebro começa a predominar, com a pessoa
ficando em confusão, desorientada, voz meio pastosa, visão embaçada, perda do
autocontrole, dor de cabeça, palidez; a pessoa começa a ver ou ouvir coisas.
Terceira fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do alerta,
descoordenação ocular (a pessoa não consegue mais fixar os olhos nos objetos), falta
de coordenação motora com marcha vacilante, a fala "engrolada", reflexos deprimidos;
já podem ocorrer evidentes processos alucinatórios.
Quarta fase: depressão tardia, que pode chegar à inconsciência, queda da
pressão, sonhos estranhos, podendo ainda a pessoa apresentar surtos de convulsões
("ataques"). Esta fase ocorre com freqüência entre aqueles cheiradores que usam
saco plástico e após um certo tempo já não conseguem afastá-lo do nariz e assim a
intoxicação torna-se muito perigosa, podendo mesmo levar ao coma e morte.
Finalmente, sabe-se que a aspiração repetida, crônica, dos solventes pode levar
a destruição de neurônios (as células cerebrais) causando lesões irreversíveis do
cérebro. Além disso, pessoas que usam solventes cronicamente apresentam-se
apáticas, têm dificuldade de concentração e déficit de memória.
Entrevista
Fonte: A Ponte
25 de janeiro de 2002 "Eu cheiro lança" Por Ivan Moraes Filho
Quem já passou um Carnaval em Pernambuco e nunca sentiu o cheirinho doce
da lança-perfume, provavelmente ficou o tempo todo em casa assistindo ao desfile das
escolas de samba do Rio de Janeiro. Sensação nos bailes dos anos 50 e proibida no
governo de Jânio Quadros, em 1961, a substância à base de éter, clorofórmio e cloreto
de etila é tão comum na Folia de Momo quanto confete e serpentina.
Diferente do que acontece com outras drogas ilícitas e ao contrário do que pode
pensar o Jornal Nacional, o uso da lança raramente é um segredo. Como era permitido
há menos de 50 anos, nem os mais caretas associam o adepto da substância à
marginalidade. Falar sobre um porre em casa é tão tabu quanto discutir um pilequinho.
Encontrar um tubo na mochila do herdeiro adolescente está longe de ser o passaporte
para o hospício e pode gerar, no máximo, um esporro ou um sermão sobre os
malefícios do uso inadvertido.
Até a polícia é orientada para pegar leve. Quando abordam alguém de posse da
droga, provavelmente apreendem o vidrinho e mandam o usuário embora. A não ser
que você esteja com um carregamento de caixas, é improvável que vá parar no xadrez
por causa de um tubinho da substância.
O barato consiste numa sensação de euforia, normalmente acompanhada
por um sininho que insiste em tocar na cabeça de quem toma um porre. O
coração dispara, podendo chegar até a 180 batimentos por minuto (o normal é
em torno de 70 bpm). Em alguns casos, a pessoa pode ter alucinações ou perder
a consciência temporariamente. Assim como age imediatamente após o uso, a
droga para de fazer efeito rapidamente.
Mal, faz. A substância, considerada um solvente, às vezes faz com que o
usuário apague, caindo no chão e machucando-se. Também pode causar
depressão do sistema respiratório ou mesmo uma parada cardíaca seguida de
morte, especialmente em usuários que já têm problemas no coração.
A lança não causa dependência física ou química, mas tem gente que se
empolga e passa a associar a droga a qualquer evento social. Esses casos,
porém, são raros. A avassaladora maioria dos adeptos do spray limita o uso a
ocasiões especiais, como o Réveillon, formaturas e, claro, o Carnaval.
Depois de um bom período de quase tolerância, a fiscalização começou a pegar
mais pesado. Principalmente depois de a Globo exibir incansavelmente a imagem da
garotada cheirando loucamente no Recifolia de 2000. Em dois anos, o preço do tubinho
chegou a dobrar. Hoje, o consumidor final pena para encontrar frascos a menos que R$
20,00. Durante a farra momesca, piora. Há casos de quem chegue a comprar até por
R$ 50,00 nas ladeiras de Olinda. Isso por um produto que dificilmente é vendido a mais
de R$ 3,00 na Argentina ou no Paraguai, onde é fabricado.
Ao contrário do que se pode imaginar, a juventude não fica de cara. Quem tem
dinheiro, continua investindo no prazer-relâmpago da lança. Quem não tem, apela para
outras substâncias de efeito parecido. A loló, primo pobre feito em casa e vendido em
tubos de ensaio por cerca de R$ 2,00 ou mesmo para o benzeno.
Enquanto a Época se lascou para arranjar uma galera que admita o uso da maconha, a A Ponte
nem trabalhou tanto para convencer quatro foliões pernambucanos a contar sem frescura que
curtem (ou curtiram) uma cheiradinha nos lencinhos em homenagem a Momo.
Morte Cardíaca Súbita e Substâncias de
Abuso
Substâncias voláteis de abuso sensibilizam o coração
às catecolaminas circulantes, podendo causar morte
súbita.
Os mecanismos falência cardíaca podem ser: (1)
Arritmia cardíaca. (2) Anóxia, depressão respiratória.
O maior risco de morte é de arritmia cardíaca, mais a
morte súbita está associada a depressão respiratória.
Durante a inalação de refis de acendedores (butano),
estes são cerrados entre os dentes e pressionados
para liberar o conteúdo, um jato fluido resfriado a
temperaturas menores que -20oC causando
queimaduras na garganta e pulmões. Como
conseqüência ocorre hipóxia e o rápido resfriamento da
laringe podendo causar estimulação vagal (nervo
vago), levando à bradicardia (diminuição dos
batimentos cardíacos) severa e falência cardíaca.
(Ressuscitation 1995 Jun, 29, 3: 219-21)