+ All Categories
Home > Documents > Energia Eólica

Energia Eólica

Date post: 28-Sep-2015
Category:
Upload: fernando-gorni
View: 8 times
Download: 0 times
Share this document with a friend
Description:
Energia eólica
29
CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006. IMPACTOS DECORRENTES DA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA 1 DECURRENT IMPACTS OF THE AGRICULTURE MODERNIZATION IN BRAZIL Rosane Balsan Dra. em Geografia Professora Substituta na FURG, Rio Grande-RS E-mail: [email protected] Com a tal modernização, [...] estão nos forçando a dedicar à monocultura. [...] Junto [...], estão vindo [...] técnicas agrícolas que não se casam com a Natureza. As nossas terras estão [...] mais pobres. [...]. Não é justo que continuemos com uma agricultura desse jeito. Nós precisamos ter responsabilidade sobre o futuro e [...] os bens naturais que teremos que deixar pra nossos filhos. (ICKERT, 1980 apud GRAZIANO NETO, 1982). Resumo: A modernização da agricultura brasileira trouxe diferentes impactos que a literatura sobre o assunto registra. Desses, nos referiremos aos impactos socioeconômicos e ambientais. Não se pretende aqui, trazer uma revisão histórica da modernização e sim enfocar impactos que marcaram a transformação capitalista da agricultura. Apresenta-se uma breve discussão de como a agricultura influencia nos impactos socioeconômicos (diferenças estruturais, processo de espacialização, concentração fundiária versus aumento de pobreza, êxodo rural, expansão da fronteira, substituição de produtos, dependências de sistemas econômicos não-rurais, incentivos governamentais diferenciados, instabilidade do trabalho, influencia dos complexos agroindustriais, diferenças tecnológicas) e ambientais. Palavras-chave: agricultura, modernização, impactos, Brasil, geografia rural. Abstract: The agriculture modernization in Brazil brought different impacts that literature on the subject registers. Of these in we will relate them to the socioeconomic and ambient impacts. It is not intended here, to bring a historical revision of the modernization and yes to focus impacts that had marked the capitalist transformation of agriculture. One brief quarrel is presented of as agriculture influences in the socioeconomic impacts (structural differences, process of espacialização, agrarian concentration versus poverty increase, agricultural exodus, expansion of the border, substitution of products, differentiated dependences of not-agricultural economic systems, governmental incentives, instability of the work, influence of the agro- industrial complexes, technological differences) and ambient.
Transcript
  • CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    IMPACTOS DECORRENTES DA MODERNIZAO DA

    AGRICULTURA BRASILEIRA1

    DECURRENT IMPACTS OF THE AGRICULTURE

    MODERNIZATION IN BRAZIL

    Rosane Balsan Dra. em Geografia

    Professora Substituta na FURG, Rio Grande-RS E-mail: [email protected]

    Com a tal modernizao, [...] esto nos forando a dedicar monocultura. [...] Junto [...], esto vindo [...] tcnicas agrcolas que no se casam com a Natureza. As nossas terras esto [...] mais pobres. [...]. No justo que continuemos com uma agricultura desse jeito. Ns precisamos ter responsabilidade sobre o futuro e [...] os bens naturais que teremos que deixar pra nossos filhos. (ICKERT, 1980 apud GRAZIANO NETO, 1982).

    Resumo: A modernizao da agricultura brasileira trouxe diferentes impactos que a literatura sobre o assunto registra. Desses, nos referiremos aos impactos socioeconmicos e ambientais. No se pretende aqui, trazer uma reviso histrica da modernizao e sim enfocar impactos que marcaram a transformao capitalista da agricultura. Apresenta-se uma breve discusso de como a agricultura influencia nos impactos socioeconmicos (diferenas estruturais, processo de espacializao, concentrao fundiria versus aumento de pobreza, xodo rural, expanso da fronteira, substituio de produtos, dependncias de sistemas econmicos no-rurais, incentivos governamentais diferenciados, instabilidade do trabalho, influencia dos complexos agroindustriais, diferenas tecnolgicas) e ambientais.

    Palavras-chave: agricultura, modernizao, impactos, Brasil, geografia rural.

    Abstract: The agriculture modernization in Brazil brought different impacts that literature on the subject registers. Of these in we will relate them to the socioeconomic and ambient impacts. It is not intended here, to bring a historical revision of the modernization and yes to focus impacts that had marked the capitalist transformation of agriculture. One brief quarrel is presented of as agriculture influences in the socioeconomic impacts (structural differences, process of espacializao, agrarian concentration versus poverty increase, agricultural exodus, expansion of the border, substitution of products, differentiated dependences of not-agricultural economic systems, governmental incentives, instability of the work, influence of the agro-industrial complexes, technological differences) and ambient.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    124

    Key words: agriculture, modernization, impacts, Brazil, agricultural geography.

    Introduo

    Assistimos, a partir da dcada de 1960, um processo de modernizao da

    agricultura brasileira. Assim, procura-se demonstrar a significncia do artifcio de

    modernizao, e suas conseqncias bem como a atual dinmica produtiva do pas,

    destacando-se o desenvolvimento sustentvel. A anlise do processo de modernizao

    enseja um debate terico e pode ser sintetizado em duas conseqncias: uma os

    impactos ambientais, com os problemas mais freqentes, provocados pelo padro de

    produo de monocultora foram: a destruio das florestas e da biodiversidade gentica,

    a eroso dos solos e a contaminao dos recursos naturais e dos alimentos; a outra, os

    impactos socioeconomicos, causadas pelas transformaes rpidas e complexas da

    produo agrcola, implantadas no campo, e os interesses dominantes do estilo de

    desenvolvimento adotado provocaram resultados sociais e econmicos.

    Desta forma, buscou-se oferecer um estudo de base, ainda que centrado apenas

    nos impactos do processo de modernizao da agricultura brasileira, para que possa

    servir de subsdio a futuros trabalhos em geografia agrria sobre o tema em questo.

    A modernizao da agricultura brasileira

    Somente a partir de meados da dcada de 1960, a agricultura brasileira inicia o

    processo de modernizao2, com a chamada Revoluo Verde3. Emergem, nessa

    dcada, com o processo de modernizao da agricultura, novos objetivos e formas de

    explorao agrcola originando transformaes tanto na pecuria, quanto na agricultura.

    Como conseqncias do processo so apontados, alm da acirrada concorrncia no que

    diz respeito produo, os efeitos sociais e econmicos sofridos pela populao

    envolvida com atividades rurais.

    O contedo ideolgico da modernizao da agricultura, segundo Almeida (1997b,

    p. 39), incorpora quatro elementos ou noes:

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    125

    [...] (a) a noo de crescimento (ou de fim da estagnao e do atraso), ou seja, a idia de desenvolvimento econmico e poltico; (b) a noo de abertura (ou do fim da autonomia) tcnica, econmica e cultural, com o conseqente aumento da heteronomia; (c) a noo de especializao (ou do fim da polivalncia), associada ao triplo movimento de especializao da produo, da dependncia montante e jusante da produo agrcola e a inter-relao com a sociedade global; e (d) o aparecimento de um tipo de agricultor, individualista, competitivo e questionando a concepo orgnica de vida social da mentalidade tradicional.

    A expanso da agricultura moderna ocorre concomitante a constituio do

    complexo agroindustrial, modernizando a base tcnica dos meios de produo, alterando

    as formas de produo agrcola e gerando efeitos sobre o meio ambiente. As

    transformaes no campo ocorrem, porm, heterogeneamente, pois as polticas de

    desenvolvimento rural, inspiradas na modernizao da agricultura, so eivadas de

    desigualdades e privilgios.

    Neste artigo, abordam-se tambm, as reaes ocorridas no meioambiente, uma vez

    que o uso inadequado do solo para cultivos, sem respeito sua aptido agrcola e

    limitaes, tem acelerado os processos de degradao da capacidade produtiva do solo,

    alterando, conseqentemente, o meio ambiente. O manejo, a conservao e a

    recuperao dos recursos naturais so uma preocupao que atualmente mobiliza o

    mundo inteiro. Os danos causados natureza e a crescente destruio do meio ambiente

    colocam a necessidade da sua preservao e recuperao, buscando formas racionais de

    produo.

    A explorao ambiental est diretamente ligada ao avano do complexo

    desenvolvimento tecnolgico, cientfico e econmico que, muitas vezes, tem alterado de

    modo irreversvel o cenrio do planeta e levado a processos degenerativos profundos da

    natureza (RAMPASSO, 1997). Dentre os processos degenerativos profundos da

    natureza Ehlers (1999) destaca a eroso e a perda da fertilidade dos solos; a destruio

    florestal; a dilapidao do patrimnio gentico e da biodiversidade; a contaminao dos

    solos, da gua, dos animais silvestres, do homem do campo e dos alimentos.

    Pensar sobre as tendncias do novo mundo rural requer que se volte o olhar para

    esta realidade que, ao mesmo tempo em que tem colocado uma classe da sociedade com

    o que h de mais moderno na agricultura e pecuria, contraditoriamente, deixa outra,

    como os agricultores familiares, ou seja, a maioria dos produtores rurais, cada vez mais

    distantes de tais inovaes. esta categoria que se apresenta cada vez mais prxima do

    limite de sobrevivncia que, atualmente, tem merecido maior preocupao por parte das

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    126

    polticas governamentais, tendo em vista o desenvolvimento local sustentvel no

    contexto de um novo mundo rural. Entretanto, uma utopia buscar o

    desenvolvimento local sustentvel quando refletimos sobre a idia de que muitos

    agricultores familiares so privados at mesmo das condies dignas de sobrevivncia.

    Nas ltimas dcadas, percebe-se um reordenamento do espao, podendo-se dizer

    que, do ponto de vista da organizao das atividades econmicas, as cidades no podem

    mais ser identificadas apenas com a atividade industrial e, nem os campos, com as

    atividades de agricultura e da pecuria, pois no campo, como aponta Santos (2000, p.

    88) [...] se instala uma agricultura propriamente cientfica, responsvel por mudanas

    profundas quanto produo agrcola e quanto vida de relaes.

    No Brasil, a histria agrcola est ligada histria do processo de colonizao no

    qual a dominao social, a poltica e a econmica da grande propriedade foram

    privilegiadas. Assim, a grande propriedade imps-se como modelo socialmente

    reconhecido e recebeu estmulos expressos na poltica agrcola que procurou modernizar

    e assegurar sua reproduo, podendo-se concluir que a agricultura familiar sempre

    ocupou um lugar secundrio e subalterno na sociedade brasileira (WANDERLEY,

    1995).

    Ao tratar da modernizao da agricultura brasileira, diferentes autores abordaram

    as atividades econmicas, ou seja, as grandes marcas dessas fases, evidenciando que a

    produo serve como instrumento de transformao do espao que trouxe ora

    prosperidade, ora decadncia.

    Nesse contexto, Paiva, Schattan e Freitas (1976, p. 01) afirmam que: O

    desenvolvimento econmico do Brasil foi marcado por perodos algumas vezes ntidos

    de prosperidade advindo da exportao de determinados produtos e de depresso

    obseqente ao desaparecimento ou perda de mercado do mesmo.

    A agricultura precisou reestruturar-se para elevar sua produtividade, no

    importando os recursos naturais. O que se tinha como meta era produzir de forma que o

    retorno fosse o maior e o mais rpido possvel. O modelo agrcola adotado na dcada

    de 1960-70 era voltado ao consumo de capital e tecnologia externa: grupos

    especializados passavam a fornecer insumos, desde mquinas, sementes, adubos,

    agrotxicos e fertilizantes. A opo de aquisio era facilitada pelo acesso ao crdito

    rural, determinando o endividamento e a dependncia dos agricultores.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    127

    Com relao modernizao, ocorreu de maneira parcial, no sentido de atingir

    alguns produtos, em algumas regies, beneficiando alguns produtores e algumas fases

    do ciclo produtivo (GRAZIANO DA SILVA, 1999). Dessa forma, no s aumentou a

    dependncia da agricultura com relao a outros setores da economia, principalmente o

    industrial e o financeiro, como o grau de desequilbrio social e o impacto da atividade

    agrcola sobre condies ambientais4.

    Santos (2000, p. 89) complementa: [...] a agricultura cientfica, moderna e

    globalizada acaba por atribuir aos agricultores modernos a velha condio de servos da

    gleba. atender a tais imperativos ou sair. Para entender o significado da

    modernizao importante conhecer o papel atribudo agricultura na dcada de 1970,

    quando este processo foi dominante (Quadro 1).

    Quadro 1 - Principais caractersticas dos modelos de desenvolvimento da Amrica Latina

    Critrios Dcada de 70 Dcada de 80 e incio de 90 Modelo econmico dominante

    Substituio das importaes Vantagens comparativas

    Caractersticas globais Protecionismo, supervalorizao das taxas de cambio. Objetivo de desenvolver a indstria domstica aumentando a auto-suficincia.

    Liberalizao das polticas comerciais. Equilbrio nas taxas de cmbio. Setores-chave em nvel econmico: indstrias de mo-de-obra intensiva, agricultura orientada para a exportao.

    Setor pblico Aumento. Mecanismo econmico. Fornecimento de subsdios extensivos.

    Racionalizao. Venda de empresas pblicas. Eliminao de subsdios.

    Contexto internacional Interesse pequeno ou nulo. Disponibilidade de capital. Fluxo de capital lquido para a Amrica Latina. Endividamento rpido.

    Grande e real interesse. Escassez de capital. Rpida escalada da dvida externa, gerando crise econmica. Transferncias de capital lquido para os pases industrializados. Assinatura de acordos regionais de livre-comrcio.

    Contexto poltico Ditaduras. Movimentos de revolta.

    Processo de democratizao. Multiplicao das ONGs.

    Questes sociais Aumento das diferenas sociais. Aumento dos salrios reais.

    Aumento das diferenas sociais. Diminuio dos salrios reais. Cortes extensivos em programas sociais.

    Agricultura* Fonte de receita para o desenvolvimento urbano-industrial

    Setor muito dinmico. Importante fonte de moeda estrangeira.

    Projetos de rpido desenvolvimento industrial (PRDR)

    Objetivo de aumentar a produo de bens-salrios (wagegoods). Visto tambm como programa beneficente.

    Drasticamente reduzidos. Objetiva PRDR negocivel.

    Ambiente Em deteriorao. Grande impacto negativo dos projetos de desenvolvimento.

    Rpida deteriorao em reas rurais e urbanas.

    Fonte: ALTIERI; MASERA, 1997, p.73. * Grifo nosso.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    128

    Nesse contexto, a modernizao agrcola apresenta objetivos que no levam,

    necessariamente, ao desenvolvimento rural5. Ou seja, a modernizao indica a

    capacidade que tem um sistema social de produzir a modernidade e o desenvolvimento

    se refere vontade dos diferentes atores sociais (ou polticos) de transformar a sua

    sociedade (ALMEIDA, 1997a).

    Nesse sentido, vamos analisar alguns impactos causados pela modernizao da

    agricultura como: xodo rural, diferenas estruturais, processo de especializao,

    concentrao fundiria, concentrao de renda, explorao da mo-de-obra, problemas

    ambientais, entre outros.

    Impactos socioeconmicos

    A modernizao da agricultura no Brasil, por ter sido progressiva e pontual,

    possibilitou diferenas estruturais no espao rural, principalmente de produo. Ou seja,

    os produtos mais valorizados, de exportao, permitiram um processo de modernizao

    do pas e seu crescimento econmico mais rpido ocorreu em alguns locais,

    considerados, poca, os principais centros econmicos.

    Assim, podemos concordar com Gerardi (1980), quando diz que o conceito de

    modernizao relativo e adquire expresso espacial e temporal: espacial, porque

    distingue agricultores em graus variados de modernizao, num mesmo lapso de tempo

    e, temporal, porque a mesma agricultura pode evoluir de tradicional moderna no

    decorrer do tempo.

    Entretanto, o novo padro de desenvolvimento econmico tem demonstrado

    excluso do homem do campo da gerao de emprego, diminuio da renda, entre

    outros, ocasionando conseqentemente, desordem no espao rural, decorrente da

    competitividade do capitalismo. Dentro de uma tica global, a modernizao agrcola

    nos revela que, por meio dos processos histricos, a propriedade da terra foi sendo

    subordinada ao capital. O progresso tcnico no est uniformemente difundido, mas,

    sim, ocorre uma concentrao espacial e setorial que leva Graziano da Silva (2000, p.

    94) a afirmar que: [...] no h um futuro promissor para aquelas unidades de produo

    que at agora no conseguiram se modernizar e que se concentram (por isso mesmo) nas

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    129

    regies perifricas do Pas, mostrando que o processo de modernizao afeta

    diferentes reas, em um espao natural e social e em pocas histricas diversas.

    Gonalvez e Souza (2000, p. 35) esclarecem que a heterogeneidade estrutural

    ocorre:

    [...] na estrutura produtiva pela multiplicidade de padres tecnolgicos entre indivduos, empresas, ramos de produo e regies formando um conjunto de situaes que reproduzem-se como um mosaico de disparidades. Na estrutura social apresenta-se nas relaes de trabalho e de propriedade que conformam movimentos alargadores das diferenas de oportunidades, resultando numa realidade em que a excluso consiste na marca mais visvel da situao de desigualdades. Na estrutura poltica h a manuteno de hegemonia histrica de foras conservadoras que moldam uma ordem institucional que sanciona e garante a preservao de um sistema de privilgios.

    Graziano Neto (1982) resume que a desigualdade da modernizao se d em trs

    nveis distintos: entre as regies do pas, entre as atividades agropecurias e entre os

    produtores rurais. E acrescenta: fcil mostrar que, em termos regionais, o Sudeste e

    o Sul do pas que mais se tm modernizado, particularmente os Estados de So Paulo,

    Paran e Rio Grande do Sul (GRAZIANO NETO 1982, p. 45).

    Gerardi (1980) explica que a diversidade da modernizao pode ser explicada por

    meio do processo de adoo e expanso de inovaes, ou seja, o agricultor ter que

    enfrentar barreiras que se antepem tcnica a ser adotada no processo (Quadro 2).

    Quadro 2 - Principais barreiras que explicam a diferenciao regional da modernizao Barreiras Principais caractersticas

    Barreiras psicolgicas Avaliao que o agricultor faz do grau de riscos e incertezas que ocorrero por conta da adoo da tcnica moderna;

    Barreiras econmicas A adoo de tcnicas modernas depende do capital que o agricultor tem para investir;

    Barreiras culturais ou de informao

    A falta de conhecimento ou a falta de cultura impedem ou dificultam a expanso da modernizao.

    Fonte: GERARDI, 1980. Org. BALSAN, 2001.

    As transformaes rpidas e complexas da produo agrcola, implantadas no

    campo, e os interesses dominantes do estilo de desenvolvimento adotado provocaram

    resultados sociais que ameaam a capacidade de sobrevivncia das cidades e, portanto,

    o futuro da prpria sociedade. Martine (1987, p. 10) salienta:

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    130

    [...] o custo social das mudanas ocorridas agudiza o questionamento das suas vantagens econmicas. Sem dvida a produo e a produtividade aumentaram, mas no no ritmo esperado. A agroindstria se expandiu rapidamente, mas a produo per capita de alimentos bsicos menor do que no incio da modernizao. O nmero de postos de trabalho no campo aparentemente aumentou, mas grande parte deles so de natureza instvel e mal remunerados. O campo se industrializou, se eletrificou e se urbanizou parcialmente, entretanto o xodo rural tambm se multiplicou, levando ao inchamento das cidades.

    As alteraes no modo de produzir e organizar a produo agrcola provocaram

    uma reorganizao do espao geogrfico, adequando-o s novas condies de produo

    determinadas, em geral, pelos interesses do Estado e dos grupos econmicos

    capitalistas.

    Com a difuso da modernizao, ocorre um processo de especializao da

    agricultura em escala nacional. Em algumas regies desenvolveu-se e modernizou-se a

    produo de culturas que, embora presentes em economias familiares, so consideradas

    tpicas de uma agricultura comercial. Foi o que aconteceu com a cana-de-acar, o

    algodo, o fumo e o cacau no Nordeste, o caf, o algodo e a cana-de-acar no Sudeste

    e o arroz, o trigo, a soja e a uva no Sul (SOARES, 2000).

    Com a especializao de alguns produtos e de algumas reas, as monoculturas

    crescem, principalmente devido s economias externas. Sobre as monoculturas

    Gliessman (2000, p. 35) enfatiza:

    A monocultura uma excrescncia natural de uma abordagem industrial da agricultura, em que os insumos de mo-de-obra so minimizados e os insumos baseados em tecnologia so maximizados com vistas a aumentar a eficincia produtiva. As tcnicas de monocultivo casam-se bem com outras prticas da agricultura moderna: a monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do solo, a aplicao de fertilizantes inorgnicos, a irrigao, o controle qumico de pragas e as variedades especializadas de plantas. A relao com os agrotxicos particularmente forte; vastos cultivos da mesma planta so mais suscetveis a ataques devastadores de pragas especficas e requerem proteo qumica.

    Esse processo ocasiona uma fragilidade ambiental, econmica e social. A

    fragilidade ambiental marcada pela perda da biodiversidade6 e, sucessivamente, pela

    eroso gentica. Ou seja, sementes tradicionais so substitudas por variedades

    modernas e cientificamente criadas, em busca de produtividade e lucratividade. Nesse

    aspecto Altieri e Masera, (1997, p. 83) comentam: Como os agricultores esto

    diretamente ligados economia de mercado, as foras econmicas influem cada vez

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    131

    mais no modo de produo caracterizado por safras geneticamente uniformes e pacotes

    mecanizados e/ou agroqumicos.

    A maior causa da perda da biodiversidade a abertura de novas terras para a

    agricultura, pecuria extensiva at mesmo para especulao imobiliria. O

    praguejamento nas lavouras monocultoras sugere o uso indiscriminado de pesticidas.

    Esses [...] aumentaram os custos econmicos para a agricultura devido tanto

    necessidade de doses mais intensivas, quanto reduo dos lucros causada pela

    resistncia dos insetos nas monoculturas (ALTIERI; MASERA, 1997, p. 78).

    O praguejamento e uso intensivo do solo, mais a fragilidade econmica,

    conduzem dependncia de mercados globalizados e fragilidade social e trazem como

    caracterstica a sazonalidade do emprego agrcola no Brasil, especialmente em algumas

    culturas como, por exemplo, a da laranja e da cana-de-acar.

    A estrutura fundiria evolui em um sentido concentrador e excludente,

    dificultando, qualquer tipo de acesso terra, aos trabalhadores rurais brasileiros

    (GRAZIANO DA SILVA, 2000).

    Assim, nota-se que, alm da propriedade privada da terra estar concentrada nas

    mos de poucos proprietrios, o acesso a ela tambm restrito, ou seja, praticamente

    fechado, pois, alm da minoria deter a maior poro de terras rurais, detm tambm a

    explorao das mesmas.

    Ehlers (1999, p. 40) analisa que

    O rpido processo de motomecanizao e o aumento da concentrao fundiria da agricultura brasileira contriburam para o intenso processo do xodo rural e, conseqentemente, para a concentrao populacional nos centros urbanos mais industrializados, principalmente, Rio de Janeiro e So Paulo.

    Evidentemente, o forte xodo rural se iniciou nas regies de maior

    desenvolvimento, onde o processo de capitalizao e mecanizao ocorreu primeiro e de

    forma mais intensa.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    132

    importante observar que a concentrao fundiria contribui para a excluso social e econmica. Atualmente, os movimentos sociais vm crescendo paulatinamente. Dentre eles o crescimento das invases apenas uma parte das contradies que esto determinando os rumos do desenvolvimento rural. (VEIGA, 2000).

    As condies econmicas, sociais e polticas brasileiras indicam disparidade entre

    diferentes classes sociais que marginaliza diretamente as classes menos favorecidas,

    como os agricultores com baixo poder aquisitivo, pequenos proprietrios e agricultores

    familiares com rea restrita. A modernizao da agricultura brasileira tendeu a favorecer

    o aumento da participao relativa das camadas mais ricas na apropriao da renda total.

    (GRAZIANO DA SILVA, 2000). Assim, o aumento generalizado da pobreza no campo

    pode ser visto como resultado do processo de modernizao, pois a expanso da grande

    propriedade com a mecanizao e utilizao de agroqumicos diminui a necessidade de

    mo-de-obra permanente, ao mesmo tempo em que os trabalhadores volantes (bias-

    frias) vem sua oferta de trabalho diminuir cada vez mais e acabam se sujeitando a

    duros turnos no campo por dirias cada vez mais irrisrias (AMSTALDEN, 1991).

    A pobreza se intensificou pela distribuio desigual da terra e de outros bens, com

    a manuteno e reforo da estrutura agrria concentrada, ou seja, foi justamente isso e o

    favorecimento s propriedades patronais que deram origem expresso modernizao

    conservadora para referir-se a este processo (EHLERS, 1999).

    Guimares (1979, p. 331) enfatiza a acentuao da dualidade do processo

    evolutivo que se verifica na agricultura brasileira: [...] enormes e cada vez mais

    profundas desigualdades existentes entre a grande e a pequena explorao agrria, e

    entre a agricultura de abastecimento interno e a agricultura de exportao.

    O aumento da concentrao de terra, em muitos casos se d pela sua utilizao

    como reserva de valor ou especulao imobiliria, no necessariamente associado sua

    utilizao como meio de produo. Assim, a propriedade privada da terra constitui-se

    uma condio necessria, mas no suficiente, para a existncia da renda, seja ela

    diferencial ou absoluta7, ou seja, a renda diferencial da terra depende da intensificao

    da agricultura pelo capital. Ou, ainda, nas palavras de Graziando da Silva (1981, p. 22):

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    133

    A renda da terra especfica do modo de produo capitalista um sobrelucro, um lucro extraordinrio do prprio capital [...] o que dificulta o progresso tcnico da agricultura o prprio capital, ou melhor, a contradio entre a necessidade de desenvolver as foras produtivas e a impossibilidade de garantir a apropriao privada dos seus benefcios.

    Enfim, o sistema capitalista no campo comanda essas relaes acentuando as

    diferenas no processo de modernizao.

    Martine (1987, p. 59) enfatiza: O descompasso entre o ritmo de reproduo da

    fora de trabalho e a expanso da oferta de emprego no campo produziram, durante a

    dcada de 70, o maior xodo rural visto no Brasil.

    Com a capitalizao do campo, o bia-fria torna-se um agente comum no cenrio

    rural, porque, na anlise de Gonalves Neto (1997) sua utilizao mais vivel

    economicamente ao proprietrio que a manuteno de parceiros ou arrendatrios, em

    razo de dispensar os investimentos em instalaes e legislao trabalhista.

    Sobre a relao entre a legislao e os fluxos migratrios Accarini (1987, p. 195)

    menciona que

    No Brasil, o principal mecanismo institucional parece ter sido o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei 4.214, de 02-06-63) que, na tentativa de melhorar o regime de trabalho no campo, no levou em conta seu carter sazonal e outras peculiaridades, desestimulando o vnculo empregatcio e criando incentivos adicionais para que a mecanizao, j apoiada por outras medidas de poltica agrcola, se tornasse ainda mais intensa.

    Como pode ser visto, a decadncia da economia rural, o endividamento de muitos

    agricultores, a deteriorao dos preos agrcolas, a reduo do espao fsico, a

    inadequao da legislao trabalhista, entre outros, dispersaram milhares de agricultores

    em busca de novos espaos, contribuindo com o inchamento das cidades.

    Assim, o processo de modernizao levou um grande nmero de agricultores

    decadncia: forou grande parte da fora de trabalho rural a se favelizar nas periferias

    urbanas; fez aumentar o nmero de pobres rurais, elevando a nveis insuportveis a

    violncia, a destruio ambiental e a criminalidade (VEIGA, 2000).

    O rpido crescimento populacional e a necessidade cada vez maior de explorar

    comercialmente terras boas levaram muitos agricultores de subsistncia a se

    transferirem para terras de cultivo de baixa qualidade e praticarem tcnicas

    ecologicamente imprprias (RAMPAZZO, 1997).

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    134

    Outro impacto decorrente da modernizao a ocupao das fronteiras agrcolas8,

    a qual se deu de forma rpida e revela que no importa tanto sua funo produtiva e sim

    a garantia da propriedade privada da terra.

    Graziano da Silva (1981, p. 118) fala sobre a fronteira em trs planos:

    No plano social, [...] a fronteira representa uma orientao dos fluxos migratrios, especialmente das populaes rurais. ... Quando a fronteira se fecha, passa a haver uma multiplicao de pequenos fluxos migratrios, muitos sem direo definida [...] No plano econmico, a fronteira era uma espcie de armazm regulador dos preos de gneros alimentcios de primeira necessidade consumidos pela populao urbana [...] havia um suprimento do mercado nacional atravs escoamento dos excedentes da pequena produo, funcionando como estabilizador dos preos. Quando, entretanto, a fronteira se fecha, esse efeito de amortecimento tem de ser buscado na importao desses gneros alimentcios e no tabelamento dos seus preos. No plano poltico, a fronteira tem sido a vlvula de escape das tenses sociais no campo. [...] Quando a fronteira se fecha, acaba se tornando, ela mesma, uma regio de conflitos pela posse da terra [...].

    Nota-se que a explorao das reas de fronteiras se deu, principalmente, pelas

    culturas de exportao, que trazem em si um processo de concentrao fundiria.

    importante ter presente a idia de fronteira agrcola como uma estratgia de valorizao

    capitalista. Por sua vez, Delgado (1985, p. 207) enfatiza que: [...] grandes

    incorporaes territoriais so feitas principalmente na fronteira agrcola, com vistas a

    uma estratgia de longo prazo de valorizao patrimonial e/ou de utilizao produtiva.

    A ocupao das novas fronteiras agrcolas deu-se sem planejamento, como

    mostra Guimares (1979, p. 242):

    O que se viu foi o monoplio da terra, o sistema latifundirio, ditar suas prprias regras, passando a vigorar, desde logo, o mais desenfreado banditismo, sob o comando de grileiros a servio dos grandes aambarcadores de terras nacionais e estrangeiros para quem foram canalizados os benefcios vultuosos investimentos da infra-estrutura feitos com os dinheiros pblicos.

    Impulsionada por uma poltica de crditos facilitados e pelo desenvolvimento

    urbano-industrial, a agricultura brasileira no apenas respondeu s demandas da

    economia como foi profundamente alterada em sua base produtiva (GONALVES

    NETO, 1997).

    Nesse perodo, as monoculturas representam um papel crescente e algumas

    culturas foram sendo substitudas por outras, por apresentarem incentivos de preos

    como foi o caso do binmio trigo-soja no Rio Grande do Sul. Alm do fator preo,

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    135

    outros fatores como as mudanas de padro alimentcio levaram substituio de

    culturas. Nesse sentido, Graziano da Silva (2000) cita o exemplo da queda da produo

    da mandioca, uma questo tpica de mudana de hbitos alimentares, decorrentes da

    urbanizao crescente.

    As mudanas na estrutura de produo agrcola propiciaram o favorecimento de

    culturas para exportao, pondo, em segundo plano, produtos considerados de primeira

    necessidade. Assim, Martine e Garcia (1987, p. 81) destacam: [...] o posicionamento

    inferiorizado de alimentos bsicos se refletiu no acesso terra e ao crdito, na forma de

    produo e no desenvolvimento tecnolgico.

    A dependncia de sistemas econmicos no-rurais citada por Gerardi (1980),

    quando afirma que o agricultor que moderniza sua produo se v pressionado a

    comprar os insumos necessrios de um mercado oligopolizado (multinacional) e,

    quando vende seus produtos em um mercado de poucos compradores ou de baixa

    demanda, este dita os preos de compra.

    A capacidade de sobrevivncia dos pequenos produtores passa a ser determinada

    pela competio intercapitalista dos mercados de produtos e insumos, na qual grande

    parte se v obrigada a abandonar a corrida, confirmando, assim, o carter excludente da

    modernizao capitalista no campo.

    Podemos observar o crescimento da dependncia de sistemas econmicos no-

    rurais, por meio de alguns produtos industriais, como os insumos agrcolas (Tabela 1).

    Tabela 1 - Brasil: ndices simples da utilizao de insumos bsicos pela agricultura, 1967-75 (Base: 1966=100)

    Ano Tratores (no.) Fertilizantes (ton.) Defensivos (ton.) 1967 110 159 126 1968 121 214 178 1969 132 225 201 1970 146 356 195 1971 158 415 217 1972 181 622 314 1973 211 598 417 1974 246 704 500 1975 287 648 374

    Fonte: MESQUITA, 1976 apud GRAZIANO DA SILVA, 1981, p.28

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    136

    Os dados mostram que o crescimento de insumos mecnicos e qumicos, em dez

    anos, os mais dinmicos do processo de modernizao da agricultura brasileira, se

    deram num ritmo forte, multiplicando por at sete vezes a base do perodo, como o

    caso dos fertilizantes.

    Considerando a produo destes insumos pelo setor extra agrcola, a necessidade e

    monetarizao da produo agrcola para sua aquisio fica patente.

    Ao lado do avano da mecanizao e quimificao, a especializao monocultora

    leva dependncia de setores no agrcolas para a simples manuteno da vida no

    campo.

    Dentre os benefcios governamentais, o crdito agrcola teve papel fundamental na

    dependncia do setor produtivo agrcola em relao ao setor produtivo de insumos

    (EHLERS, 1999). O autor ainda argumenta que: A agricultura passaria a exercer uma

    nova funo, qual seja: a criao do mercado para a indstria de insumos agrcolas

    (EHLERS, 1999, p. 38).

    Algumas culturas, como a da soja, conseguiram se beneficiar de insumos mais

    baratos (oriundos do mercado externo), entretanto, o impacto da abertura comercial para

    outras culturas, como a do trigo, foi prejudicial, uma vez que evidenciou a dependncia

    das mesmas com relao poltica protecionista e aos incentivos governamentais.

    As polticas de estmulo modernizao no atingiram as pequenas unidades

    agrcolas, especialmente as que se dedicavam produo de gneros alimentcios de

    primeira necessidade (GRAZIANO DA SILVA, 1981). Para compensar a

    discriminao, as polticas alimentares procuraram diminuir os preos dos alimentos

    bsicos, produzidos em grande parte pelos camponeses, desincentivando o investimento

    na agricultura e, automaticamente, prejudicando o nvel de vida dos agricultores.

    Kaimowitz (1997, p. 60) enfatiza:

    As polticas de subsdios tampouco favoreceram a eqidade, j que foram as empresas de agrobusiness e os mdios e grandes produtores os que tiveram maior acesso aos subsdios. Os programas de crdito subsidiado e tecnologia para os pequenos produtores sempre recebiam menos recursos que os programas para os grupos mais fortes. Em grande medida, os camponeses sofreram o impacto das polticas que discriminavam a agricultura, mas no gozaram dos benefcios das polticas que deveriam compensar por tal discriminao.

    Cabe destacar que, grande parte dos produtos que apresentaram maiores ganhos

    de produtividade fsica e com destino exportao, contaram com grandes incentivos

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    137

    governamentais, como polticas de crdito e de preos mnimos, entre outras, que

    contriburam para o bom desempenho das culturas.

    A estratgia da modernizao conservadora diante da inovao tecnolgica

    salientou as caractersticas do modelo agrcola brasileiro, capitalista, dependente,

    concentrador, dominador, exportador e excludente. Com a modernizao capitalista e

    com o processo de globalizao da economia, cresceu a instabilidade do emprego no

    campo, onde pequenos produtores, face insuficincia dos seus meios de produo,

    necessitaram vender sazonalmente sua fora de trabalho em outros estabelecimentos

    agrcolas. A extensa jornada de trabalho na produo familiar obriga os seus elementos

    auto-explorao para permanecerem no campo.

    Uma das conseqncias mais significativas da introduo de formas capitalistas

    de produo no campo tem sido a multiplicao do trabalho temporrio e a dependncia

    maior de formas espordicas de trabalho entre categorias sociais como bias-frias e

    familiares no-remunerados. Segundo, Martine e Arias (1987, p. 55):

    [...] na dcada de 70, as ocupaes estveis e permanentes foram em grande parte desestruturadas devido: adoo de escalas de produo maior que expulsaram pequenos produtores, sejam eles proprietrios ou no; maior utilizao de mquinas que expulsou a mo-de-obra tradicional; s mudanas nas relaes de trabalho que expulsaram parceiros e arrendatrios; finalmente, especulao fundiria que tambm expulsou todo o tipo de trabalhador rural, mesmo em circunstncias em que no houve mudanas efetivas no processo de produo.

    O uso de mecanizao levou trabalhadores permanentes a serem dispensados

    porque no eram mais necessrios o ano todo e tambm sua dispensa liberava o

    proprietrio de pagamentos de encargos sociais.

    Como pode ser visto, o processo de modernizao trouxe mudanas sobre o

    emprego agrcola de forma diferenciada, afetando algumas regies mais do que outras.

    Em reas mais organizadas e capitalizadas a instabilidade e explorao no trabalho se

    distinguem das reas menos capitalizadas. Tambm percebe-se que o emprego de mo-

    de-obra difere de uma cultura para outra, devido aos diferentes ciclos do ano agrcola,

    alm do processo de modernizao no atingir todas as fases do ciclo produtivo.

    A consolidao dos complexos agroindustriais9 trouxe uma diversificao na

    produo agropecuria e nas atividades no-agrcolas. Observa-se que a poro de

    agricultores incorporados aos mercados globalizados inclui desde agricultores

    familiares, organizados em cooperativas ou integrados a grandes empresas industriais

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    138

    ou comerciais, at empresas de grandssimas dimenses (FAVERO, 1999). Esse

    conjunto reduz os agricultores s cadeias especializadas, mascarando uma herana

    cultural. Isso se reflete no modo de vida dos agricultores, definindo comportamentos e

    racionalidades diferentes que, automaticamente, influenciam no modo de produo e

    organizao da unidade de produo.

    A agricultura, em conseqncia do complexo agroindustrial, aumenta a sua

    dependncia. Nesse aspecto Guimares (1979, p. 114) sustenta: medida que se

    industrializava, a agricultura passava de um nvel inferior a um nvel superior de

    desempenho, mas isso tambm significava uma perda progressiva de sua autonomia e

    de sua capacidade de deciso. O autor argumenta, tambm, que o principal efeito do

    complexo agroindustrial foi a eliminao da livre concorrncia, dado o domnio

    monopolista que as indstrias exercem no mercado.

    Ainda Guimares (1979, p. 118) considera:

    A perda de sua capacidade de decidir, de sua autonomia ou de sua independncia atinge e prejudica muito mais o agricultor tradicional, especialmente o pequeno ou o mdio campons, para quem a atividade econmica rural se mistura com os afazeres da famlia, assim como os riscos do proprietrio individual se transferem a todo o ncleo familiar.

    Um exemplo muito estudado e discutido sobre a subordinao agroindustrial o

    da indstria fumicultora, na qual os agricultores so orientados a produzir

    exclusivamente para a firma compradora, os tipos e quantidades preestabelecidos em

    prazos, condies e preos determinados pela mesma firma compradora

    (GUIMARES, 1979). Relaes semelhantes e/ou iguais so mantidas entre os

    produtores agrcolas e as indstrias processadoras de vrios tipos, nas quais o produtor

    rural deve seguir um determinado padro de tecnologia comandado pela agroindstria.

    Os pequenos produtores foram os mais atingidos pelo Complexo Agroindustrial

    (CAI). Delgado (1985, p. 181), constata:

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    139

    Os exemplos mais notrios so os dos pequenos produtores, fornecedores da grande agroindstria nos ramos da pecuria, avicultura, fumicultura, viticultura, suinocultura, fruticultura, etc., vinculados por distintas formas de relao comercial a grandes industrias, com ou sem contratos especficos de assistncia tcnica e fornecimento de matrias primas e bens intermedirios para essas industrias.

    Ainda nesse aspecto, Delgado (1985), chama a ateno para os agricultores no

    associados, submetidos completa excluso na estratgia de crescimento do grande

    capital, levando crescente marginalizao desse grupo social.

    As prprias relaes sociais sofrem com as mudanas no meio rural, necessitando

    adaptar-se realidade. Novos hbitos culturais surgem, trazendo mudanas, inclusive no

    padro alimentar, como o consumo crescente de alimentos instantneos, refrigerantes,

    leo de soja, maionese, margarina, produtos derivados do acar, alimentos semi-

    prontos, entre outros. (ELIAS, 1996). Melo (1985)10 apud Graziano da Silva, (1999, p.

    98) cita o estudo sobre a produo interna, onde a mesma

    [...] somou os produtos tradicionalmente considerados como de alimentao (arroz, feijo, milho, mandioca e batata) a disponibilidade interna do acar e dos novos produtos hoje includos na dieta bsica da populao graas prpria modernizao da agricultura: leos vegetais (soja, algodo e amendoim), alguns produtos de origem animal (carnes bovina, suna e de aves, leite e ovos) tomate, cebola e laranja. [...] os dados no autorizam a falar em queda na disponibilidade per capita na dcada de 70, mas apenas uma pequena reduo na primeira metade da dcada, recuperando-se imediatamente a seguir.

    Outro aspecto influenciado pelo desenvolvimento das agroindstrias refere-se aos

    tradicionais produtos de exportao, como o caf, o cacau, o algodo, o fumo, que se

    apresentam em desvantagem perante as novas culturas voltadas indstria e a

    exportao (ELIAS, 1996).

    Percebe-se ento que a agroindstria causa nitidamente impacto em termos de

    organizao, dando prioridade para quem produz matria-prima, principalmente aquelas

    voltadas para a exportao. Sobre o mercado externo Gonalves Neto (1997, p. 93)

    comenta:

    As exportaes aparecem como estmulo capaz de promover a agricultura a nveis mais elevados de modernizao, uma vez que a extenso do mercado e os preos acabam por diminuir os riscos da atividade rural e induzindo utilizao de fatores modernos na produo.

    Assim, configura-se a formao de dois setores estanques, separados por um

    crescente hiato tecnolgico: de um lado, o setor de produtos domsticos (de mercado

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    140

    interno) e de outro, o setor de produtos exportveis (posteriormente acrescido de

    responsabilidade na substituio de importaes de petrleo, com produo de lcool)

    (GONALVES NETO, 1997).

    As transformaes nas relaes econmicas e sociais, dos mercados e das

    empresas cada vez mais integradas tambm provocaram mudanas no paradigma

    tecnolgico, pois elas exigem o que produzir e como produzir. A integrao

    agroindustrial uma integrao capitalista, que leva concentrao agrria e

    centralizao (GUIMARES, 1979). Assim, [...] sobressaem a participao do grande

    capital industrial, do Estado11 e dos grandes e mdios proprietrios rurais (DELGADO,

    1985, p. 41).

    Constata-se que a agroindstria revela ser um apoio concentrao fundiria.

    Ainda Delgado (1985, p. 42) constata: A valorizao do capital no setor agrcola no se

    d, a de forma necessria, por intermdio do CAI, mas pelo controle da propriedade

    fundiria.

    Vrios estudos sobre o processo de modernizao vem sendo realizados,

    comprovando uma ntida diferenciao espacial. Como um estudo de caso no Rio de

    Janeiro, realizado por Ribeiro, Neil e Galvo (2000, p. 288) identificando que:

    [...] nas reas nas quais so detectados ndices mais elevados de modernizao na agricultura encontram-se organizadas importantes atividades agropecurias, aquelas voltadas para produtos valorizados em escala de mercado, enquanto nas reas de agricultura tradicional, os ndices de modernizao so baixos.

    Outro estudo de caso que mostra que a modernizao est ocorrendo com a

    substituio da agricultura tradicional citado por Calaa (2000, p. 373) no Sul do

    Estado de Gois:

    [...] verificou-se que houve a reduo da rea cultivada com produtos de consumo interno como o arroz e feijo e expanso daqueles destinados ao comrcio, ao processamento industrial e exportao como soja, milho, algodo, cana-de-acar, e mais recentemente girassol, desarticulando a produo tradicional da regio.

    Assim, uma conseqncia tardia da modernizao a emergncia de um novo

    rural12.

    O uso de tecnologia, durante o processo de modernizao, revelou-se um dos

    principais centros de ateno, com reflexos inclusive na estrutura produtiva. Assim, a

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    141

    estrutura produtiva foi, marcada pela multiplicidade de padres tecnolgicos entre

    indivduos, empresas, ramos de produo e regies, formando um conjunto de situaes

    que se reproduzem como um mosaico de disparidades (GONCALVES; SOUZA, 2000)

    [...]. Desse modo, a implementao da agricultura modernizada, tecnificada, se realiza

    por meio de agricultores e empresrios que introduzem atividades com agregao de

    capital ao espao, gerando diferentes configuraes locais.

    Assim, se se pensa em sustentabilidade, imprescindvel, analisar o tipo de

    mecanizao utilizada, pois uma mudana inconseqente nessa rea pode provocar

    efeitos indesejados.

    Kaimowitz (1997, p. 63) argumenta: Muitas ONGs falam sobre a importncia de

    aprender com os agricultores e resgatar tecnologia autctone, mas poucas conseguem

    faz-lo de forma sistemtica. Por isto, precisamos iniciar a correo desta falha, pois

    no existir agricultura sustentvel se pretendermos constru-la com tecnologias

    inadequadas.

    Precisamos esquecer da ideologia modernizadora13, e construir uma realidade

    na qual a agricultura deve ser enfocada sob um olhar que no se volte apenas para a

    reproduo do capital.

    Mesmo com todas as experincias do processo de modernizao, ainda hoje

    parece que temos dois Brasis na agricultura, ou seja, aquele que utiliza tecnologia de

    ponta e aquele que utiliza tecnologia inadequada. As experincias para utilizar

    tecnologias adequadas para cada cultura e lugar apenas permanecem no discurso.

    Impactos ambientais

    O processo de modernizao agrcola, se por um lado aumentou a produtividade

    das lavouras, por outro, levou a impactos ambientais indesejveis. Os problemas

    ambientais mais freqentes, provocados pelo padro produtivo monocultor foram: a

    destruio das florestas e da biodiversidade gentica, a eroso dos solos e a

    contaminao dos recursos naturais e dos alimentos.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    142

    Nesse contexto, Veiga (2000, p. 31) afirma: [...] a eroso da diversidade

    biolgica s poder ser controlada se houver simultnea retrao de atividades que

    degradam os habitats e crescimento das que os conservam ou recuperam.

    O ser humano como agente modificador da paisagem responsvel por impactos

    na superfcie da terra, atuando nos meios fsico, econmico e social. Se ele atua em um

    espao, em um ambiente, deve ter como base o equilbrio entre ele e seu meio.

    Azevedo (1986, p. 28) refere-se ao desequilbrio entre o homem e os sistemas,

    dizendo que decorrem

    [...] da falta de conhecimento das leis e processos que controlam os sistemas que se desenvolvem nos ambientes fsico, social e econmico, da falta de racionalidade no modelo econmico adotado e/ou da falta de viso sobre a problemtica social e at do seu nvel cultural.

    Um dos recursos naturais mais afetados pela agricultura sua base fsica, isto , o

    solo. A falta de conhecimento das caractersticas e propriedades do solo, aliada ao

    modelo monocultor intensivo e ao descaso quanto sorte das futuras geraes tm

    levado acelerao da eroso fsica e biolgica dos solos bem como a processos mais

    agressivos, como o caso da desertificao, presente em algumas reas do Rio Grande

    do Sul14.

    Assim, se constata que a questo ambiental, alm de complexa, exige

    conhecimentos multidisciplinares. O manejo em solos frgeis extremamente

    complexo, com vrias limitaes de uso, tudo isso somado a uma baixa produtividade.

    Alm da questo ambiental e poltica, os cuidados com o solo referem-se,

    tambm, prpria presso demogrfica. Sabe-se que a eroso e a degradao dos solos

    podem ocorrer pela interveno humana, entretanto, o crescimento populacional, a

    ocupao humana de encostas, as prticas inadequadas de agricultura e pecuria, com o

    uso abusivo de inseticidas, adubos qumicos, mquinas inadequadas, construo de

    estradas, etc. tm contribudo para alteraes profundas do meio ambiente, incluindo o

    solo.

    A gua tambm um fator que sofreu influncia da modernizao da agricultura,

    contaminada pelo uso de fertilizantes, adubos inorgnicos e agrotxicos.

    Amstalden (1991), argumenta no ter encontrado leitura estatstica representativa

    sobre o ndice de agrotxicos em nossas guas. Isso comprova o descaso com esse

    problema, talvez por uma questo poltica ou por falta de normas e instituies que

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    143

    permitam que a agricultura cresa dentro de uma outra tica e que as pessoas tenham

    uma melhor qualidade de vida.

    Ao se falar da inviabilizao do sistema produtivo pela deteriorao das condies

    naturais, esquecemos de outra face: a dos prejuzos da agricultura moderna que

    culminam na contaminao direta das pessoas (AMSTALDEN, 1991).

    Geralmente essa face menos comentada, devido aos dados escassos no nosso

    pas e tambm ao fato de muitos envenenamentos ocorrerem por alimentos (carnes ou

    vegetais), gua, ou pelo manuseio de agrotxicos, no caso de quem lida diretamente

    com os produtos. Muitas dessas ocorrncias no so registradas, s vezes, pela falta de

    atendimento mdico ou por serem consideradas incuas, uma vez que apresentam doses

    mnimas de contaminao. No entanto, se o nvel de qualidade de vida, selecionado

    como um dos indicadores do desenvolvimento mundial, est sendo considerando cada

    vez de maior importncia, preciso atentar para essa contaminao invisvel.

    Com relao qualidade de vida, pode-se considerar, tambm, a introduo de

    espcies vegetais melhoradas, cujo sentido apenas aumentar a produtividade.

    Entretanto, essas sementes so mais do que simplesmente uma forma de aprimorar a

    produtividade; expressam o poder das estruturas funcionais de grupos de empresrios do

    Brasil e do estrangeiro, evidenciado no impacto da modernizao e da globalizao da

    atividade agrcola.

    Atualmente tem-se, ainda, as plantas transgnicas, criadas sob o mito de que

    trazem benefcios aos produtores rurais e consumidores. Esse chamado em favor da

    Revoluo Verde II15 deveria ser visto como frvolo. Como sabemos, nos pases como

    o Brasil, um papel de destaque nas atividades de pesquisa biolgica desempenhado

    por fundaes internacionais (Rockfeller, Ford, etc.). Essas pesquisas se fazem sempre

    no sentido de intensificar o efeito das inovaes qumicas e/ou mecnicas, geralmente

    de monoplio de grandes empresas multinacionais, da qual a Revoluo Verde seja,

    talvez, o maior exemplo (GRAZIANO DA SILVA, 1981).

    Tambm pesquisam-se novas variedades que facilitem a colheita mecnica ou

    respondam melhor adubao qumica, com a finalidade de que empresas

    multinacionais, como a Massey-Ferguson, a Ford, A ICI, a Shell, a Basf, venham a se

    expandir.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    144

    A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria), criada e vinculada ao

    Ministrio da Agricultura para dinamizar as atividades de pesquisa relativas ao setor

    rural do pas, em um texto (EMBRAPA, 2000, p. 01) sobre as plantas transgnicas,

    coloca o seguinte:

    O que o produtor ganha com issso? O que se espera com a tecnologia de plantas transgnicas so benefcios para o produtor como a reduo de custo de produo, facilidade no manejo (controle de ervas daninhas e insetos, etc.) e aumento de produtividade. Quais as vantagens para o consumidor? A primeira gerao de plantas transgnicas afeta o custo de produo e, portanto, beneficia mais os produtores. Apesar disto, os consumidores podem se beneficiar de produtos produzidos com menos agrotxicos. A segunda gerao de plantas transgnicas dever trazer produtos com qualidade diferenciada, como, por exemplo, soja com leo de melhor qualidade, soja com maior teor de acar, soja com melhor composio de protenas etc.

    Observa-se, neste trecho, o direcionamento do discurso, de modo a fortalecer as

    vantagens e benefcios do cultivo de plantas transgnicas.

    Considerando os fatores sociais, econmicos e ambientais impactantes que atuam

    sobre a questo rural, Amstalden (1991, p. 50-51) conclui que os principais problemas

    devem-se aos seguintes fatos:

    10) a tecnologia utilizada reducionista e desconsidera as intrincadas relaes do meioambiente, sendo por isso agressiva acarretando graves perdas, alm de no controlar eficientemente problemas, mantendo a lavoura sob dependncia do sistema industrial que lhe exgeno; 20) no caso brasileiro a situao agrava-se na medida em que a tecnologia foi desenvolvida para realidades ecolgicas e sociais do primeiro mundo e foi introduzida aqui sem considerar-se essa diversidade. O resultado , portanto maior dependncia e menor eficincia; 30) o custo dessa agricultura muito alto, beneficiando os grupos j capitalizados e excluindo os demais. O custo ainda muito grande do ponto de vista energtico, j que h grande utilizao de recursos no-renovveis; 40) a agricultura industrial monopolista. De um lado se monopoliza a produo por parte de grandes proprietrios rurais beneficiados pela disponibilidade de capital; e do outro se monopoliza a tecnologia por parte de grandes grupos empresariais. Nota-se que o monoplio produtivo agrava os desequilbrios sociais e o monoplio tcnico mantm a dependncia do pas s importaes elevadas e confere aos detentores da tecnologia um poder econmico e poltico sobre o Brasil; 50) h um grande domnio da pesquisa e o seu direcionamento para a manuteno do modelo agrcola vigente. Isso inviabiliza solues e tcnicas mais adaptadas e menos agressivas.

    Mesmo que a modernizao da agricultura tenha atingido, direta ou indiretamente,

    todo o pas, processou-se de forma extremamente seletiva, privilegiando os territrios,

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    145

    as culturas e os segmentos socioeconmicos mais rapidamente suscetveis organizao

    de uma atividade cientfico-tcnica (ELIAS, 1996).

    Consideraes Finais

    A dinmica territorial observada pelo processo de modernizao mostra o

    agravamento das questes ambientais, inchamento das cidades, concentrao da terra e

    da renda, intensificao das lutas sociais, incluso e/ou excluso de segmentos sociais e

    de lugares no processo agrcola. Desta forma, pe-se em marcha um modelo de

    explorao capitalizada, dotada de meios e tcnicas que asseguram a eficcia e

    rentabilidade de produo. Os agrotxicos surgem neste perodo da chamada moderna

    agricultura, trazendo inmeros problemas que afetam o meio ambiente, a qualidade de

    vida e o processo de produo, colocando em risco a continuidade do mesmo.

    Na estratgia de acumulao e expanso do capitalismo, a agricultura familiar

    coloca-se na dependncia da busca da produo e da produtividade, atrelando-se, muitas

    vezes, ao complexo agroindustrial com profundas mudanas econmicas, sociais e

    culturais.

    Procuramos demonstrar a significncia do processo de modernizao na

    agricultura brasileira, e suas conseqncias. Assim, podemos entender os impactos

    causados pelas vias sinuosas e mltiplas do processo de modernizao na agricultura

    brasileira e/ou da chamada modernizao dolorosa, modernizao parcial,

    modernizao conservadora e modernizao excludente, nas quais as

    transformaes socioespaciais manifestaram-se em todas as regies, e, respeitando as

    especificidades regionais, seus impactos esto presentes at hoje.

    Notas

    1 - Este texto est baseado na dissertao de mestrado intitulada: A agricultura familiar como locus de desenvolvimento para um novo mundo rural: O caso das Unidades de Produo Familiar do 20 Distrito, Vila Toroqu municpio de So Francisco de Assis-RS, defendida em 2001, no Programa de Ps-Graduao em Geografia, na rea de Organizao do Espao, sob orientao da professora Dra. Lucia Helena de Oliveira Gerardi.

    2 - Insere-se, nessa discusso, a observao dos reflexos sobre a modernizao da agricultura realizada por Gerardi (1980, p. 26): [...] a modernizao freqentemente confundida com a mecanizao dos

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    146

    servios agrrios, que embora esteja embutida no conceito da modernizao, no o seu todo [...] no s as tecnologias que envolvem dispndio de capital seriam consideradas modernas.

    Nesse contexto, Graziano Neto (1982, p. 26) complementa: Normalmente quando se fala em modernizao da agricultura pensa-se apenas nas modificaes ocorridas na base tcnica de produo, na substituio das tcnicas agrcolas substitudas por tcnicas modernas [...] Modernizao, porm, significa mais que isso. Ao mesmo tempo que vai ocorrendo aquele processo tcnico da agricultura, vai-se modificando tambm a organizao da produo, que diz respeito s relaes sociais (e no tcnicas) de produo.

    3 - A partir de meados da dcada de 1960, vrios pases latino-americanos engajaram-se na chamada Revoluo Verde, fundada basicamente em princpios de aumento da produtividade atravs do uso intensivo de insumos qumicos, de variedades de alto rendimento melhoradas geneticamente, da irrigao e da mecanizao, criando a idia que passou a ser conhecida.

    4 - Almstadem (1991); Furtado (1984); Mendona (1997); Brum (1987), Graziano da Silva (1992, 1999); Margarido (1996); Martine (1987), Martine e Arias (1987); Martine e Garcia (1987); entre outros, tratam do processo de modernizao e suas conseqncias.

    5 - Sobre o conceito de desenvolvimento Gerardi (1980, p.23) explica que [...] desenvolvimento tem conotaes muito mais amplas que crescimento, que implica, pura e simplesmente, no aumento fsico da produo ou do rendimento em uma economia. A autora deixa claro que para que se promova o desenvolvimento rural certos aspectos so indispensveis, entre eles: tecnologia moderna, apoio infra-estrutural e melhoria do bem estar.

    Ainda sobre esse assunto Almeida (1997b, p. 40-41) reala que a viso de desenvolvimento idealizado segundo os cnones da modernizao [...] um processo considerado nico, que leva do atrasado ao moderno, tendo, portanto uma concepo linear.

    6 - Sobre biodiversidade, Altieri e Masera (1997, p. 80) relatam: Os pases latino-americanos ordenam-se primeiro em angiospermas (Brasil), rpteis (Mxico), anfbios (Brasil) e pssaros (Colmbia). [...] Atualmente, a Amaznia fornece 73 espcies de valor comercial, mais de 1000 espcies tm potencial econmico e, no mnimo, 300 tem potencial florestal.

    7 - Graziano da Silva (1981, p. 9) explica: A renda diferencial da terra gerada pelo monoplio da sua utilizao, da sua explorao. [...] importante ressaltar que no a terra em si mesma, pela suas diferenas de qualidade, a causa da renda diferencial, mas sim o fato de que o trabalho aplicado s terras melhores tende a ser mais produtivo, permitindo com isso a gerao de um lucro adicional. [...] Para a existncia da renda absoluta necessrio alm da propriedade privada da terra que a torna de fato o monoplio de uma classe, que a composio orgnica do capital, na agricultura propriamente dita, seja inferior do capital social mdio. (MARX, 1974 apud GRAZIANO DA SILVA, 1981, p.10) 8 - Sobre o conceito de Fronteira, entende-se que: A Fronteira no necessariamente uma regio distante, vazia do ponto de vista demogrfico. Ela fronteira do ponto de vista do capital, entendido como uma relao social de produo (GRAZIANO DA SILVA, 1981, p. 151).

    9 - Para uma anlise mais detalhada sobre a constituio do Complexo Agroindustrial (CAI), ver Geraldo Muller. Estrutura e dinmica do complexo agroindustrial brasileiro.

    10 - Melo (1985).

    11 - Sobre a insero do Estado como regulador principal das relaes sociais e da reproduo do capital na agricultura ver Delgado, 1985.

    12 - Sobre esse assunto ver Graziano da Silva (2001).

    13 - Graziano Neto (1982, p. 43) explica: Esta ideologia tende a desprezar e ignorar aquilo que no rotulado como moderno, provocando, assim, uma substituio das tcnicas que so consideradas obsoletas ou tradicionais.

    14 - Sobre o assunto desertificao e arenizao ver AbSaber (1995); Azevedo (1986); Cassol (1994); Lopes (1994); Azevedo e Kaminski (1995); Klamt e Schneider (1995), Mello (1994); Moreira (2000); Suertegaray (1995, 1996).

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    147

    15 - Expresso utilizada por Peter Rosset-co-iretor do Food First/The Institute for Food and Development policy e co-autor do livro World Hunger: Twelve Myths (1998).

    Referncias

    ABSABER, N.A. A revanche dos ventos: Destruio de solos arenticos e formao de areais na Campanha Gacha. Cincia & Ambiente, Santa Maria, v. 11, jul./dez., p. 07-31, 1995.

    ACCARINI, J. H. Economia rural e desenvolvimento: reflexes sobre o caso brasileiro. Petrpolis: Vozes, 1987. 224 p.

    ALMEIDA, J. A problemtica do desenvolvimento sustentvel. In: BECKER, D. F. (Org.). Desenvolvimento sustentvel: necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1997a. p. 17-26.

    _______. Da ideologia do progresso idia de desenvolvimento rural sustentvel. In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. Reconstruindo a agricultura: idias e ideais na perspectiva do desenvolvimento rural sustentvel. Porto Alegre: UFRGS, 1997b. p. 33-55.

    ______. Significados sociais, desafios e potencialidades da agroecologia. In: FERREIRA, A.D.; BRANDENBURG, A. (Org.). Para pensar outra agricultura. Curitiba: UFPR, 1998. p. 239-247.

    ALTIERI, M. Agroecologia: a dinmica produtiva da agricultura sustentvel, Porto Alegre: UFRGS, 2000, 110p.

    ALTIERI, M.; MASERA, O desenvolvimento rural sustentvel na Amrica Latina: construindo de baixo para cima. In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z.(Org.). Reconstruindo a agricultura: idias e ideais na perspectiva desenvolvimento sustentvel. Porto Alegre: UFRGS, 1997. p. 72 - 105.

    AMSTALDEN, L. F. F. Os custos da modernizao. Campinas: UNICAMP/IFCH, ano 1, n.1, 1991. 56 p. (Monografia).

    AZEVEDO, A. C. ; KAMINSKI, J. Consideraes sobre os solos dos campos de areia no Rio Grande do Sul. Cincia & Ambiente, Santa Maria, v.11, n.1, p.33-52, jul./dez,. 1995.

    AZEVEDO, L.G. Viso holistica e sistmica na analise ambiental. In: RIZZO, H.G. et.al (Org.). Seminrio sobre desertificao no Nordeste. Braslia.1986. 215 p.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    148

    BRUM, A. J. Modernizao da agricultura: trigo e soja. Iju:FIDENE, 1987. 200 p.

    CALAA, M. Modernizao da agricultura e dinmica territorial no sul do estado de Gois. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRRIA, 15., 2000, Goinia. Anais... Goinia: Vieira, 2000. v. 1, p.372-375.

    CMARA, I. O problema ecolgico no Brasil. In:______. Estudos de problemas brasileiros. Braslia: UNB, 1981, 7 p. (unidade 6).

    CASSOL, E. A. Manejo e conservao dos solos do Rio Grande do Sul para o controle da eroso. In: EMBRAPA. Macrozoneamento agroecolgico e econmico. 1994. p. 208-215.

    DELGADO, G. da. C. Capital financeiro e agricultura no Brasil. Campinas: Unicamp, 1985. 240 p.

    EHLERS, E. Agricultura sustentvel: origens e perspectivas de um novo paradigma. 2.ed., Guaba: Agropecuria, 1999. 157 p.

    ELIAS, D. Globalizao e modernizao agrcola. Revista Paranaense de Geografia, Curitiba, n. 1, p. 5-16, 1996.

    EMBRAPA. O que so plantas transgnicas? Disponvel em: < http://www.cnpso.embrapa.br >. Acesso em: 09 abr. 2000.

    FAVERO, C. A. A transnacionalizao das prticas sociais dos agricultores. Revista de Economia e Sociologia Rural, Braslia: SOBER, v.37, n.1, p.39-59.jan./mar., 1999.

    FURTADO, C. Formao econmica do Brasil. 19. ed., So Paulo: Nacional, 1984. 248 p.

    GERARDI, L. H. de O. Algumas reflexes sobre modernizao da agricultura. In: Geografia, Rio Claro, v. 5, n. 9/10, p. 19-34, 1980.

    GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecolgicos em agricultura sustentvel. Porto Alegre: UFRGS, 2000. 653 p.

    GONALVES NETO, W. Estado e agricultura no Brasil: poltica agrcola e modernizao econmica brasileira 1960-1980. So Paulo: HUCITEC, 1997. 245 p.

    GONALVEZ, J. S.; SOUZA, S. A M. Heterogeneidade e competitividade: o significado dos conceitos frente ao mosaico de disparidades da agricultura brasileira. Informaes Econmicas, So Paulo, v. 30, n. 11, p.34-48, nov. 2000.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    149

    GRAZIANO DA SILVA .J. Progresso tcnico e relaes de trabalho na agricultura. So Paulo: HUCITEC, 1981. 210 p. (Economia & Planejamento. Srie Teses e Pesquisas).

    ______.A modernizao dolorosa: estrutura agrria, fronteira agrcola e trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. 192 p.

    ______.Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre: UFRGS, 1999. 239 p.

    ______. O novo mundo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 2000. 151 p. Srie Pesquisas.

    ______. Velhos e novos mitos do rural brasileiro. In: BRASIL RURAL - ENCONTRO DE PESQUISADORES E JORNALISTAS, 2001, So Paulo. Anais... So Paulo: USP, 2001.

    GRAZIANO NETO, F. A questo agrria e ecologia: crtica da moderna agricultura. So Paulo: Brasiliense,1982. 154 p.

    GUIMARES, A. P. A crise agrria. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.362 p.

    GUZMM, E. S. Origem, evoluo e perspectivas do desenvolvimento sustentvel. In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. (Org.). Reconstruindo a agricultura: idias e ideais na perspectiva do desenvolvimento rural sustentvel. Porto Alegre: UFRGS, 1997. p.19-32

    ICKERT, I. Depoimento. In: GRAZIANO NETO, F. A questo agrria e ecologia: crtica da moderna agricultura. So Paulo: Brasiliense,1982. 154 p.

    KAIMOWITZ, D. O avano da agricultura sustentvel na Amrica Latina. In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. (Org.) Reconstruindo a agricultura: idias e ideais na perspectiva de um desenvolvimento sustentvel. Porto Alegre: UFRGS, 1997. p.56 -71.

    KLAMT, E.; SCHNEIDER, P. Solos suscetveis a eroso elica e hdrica na regio da Campanha do Rio Grande do Sul. Cincia & Ambiente, Santa Maria, p.07-31, jul./dez. 1995.

    LOPES, A S. Manejo: aspectos qumicos. In: PEREIRA, V. P.; FERREIRA, M. E.; CRUZ, M.C. P. Solos suscetveis Eroso. So Paulo: Jaboticabal, 1994. p. 100-111.

    MARGARIDO, M. A. A agroindstria citrcola: aspectos estruturais e mercadolgicos. Revista Cientfica do Instituto de Economia Agrcola, So Paulo, v. 1, n. 48, p.45-65, 1996.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    150

    MARTINE, G. xodo rural, concentrao urbana e fronteira agrcola. In: MARTINE, G.; GARCIA, R. C. (Org.). Os impactos sociais da modernizao agrcola. So Paulo: Caetes, 1987. p. 59-79.

    MARTINE; Arias. Modernizao e emprego no campo. In: MARTINE, G.; GARCIA, R. C. (Org.). Os impactos sociais da modernizao agrcola. So Paulo: Caetes, 1987. p. 41-57.

    MARTINE, G.; GARCIA, R. C. A modernizao agrcola e a panela do povo. In: ______. (Org.). Os impactos sociais da modernizao agrcola. So Paulo: Caetes, 1987. p.81-95.

    MELO, F. H. de. Prioridades agrcolas: sucesso ou fracasso? So Paulo: Pioneira, 1985.

    MELLO, W. J. de. Manejo: aspectos biolgicos. In: PEREIRA, V. P. de; FERREIRA, M. E.; CRUZ, M. C. P. Solos altamente suscetveis a eroso. Jaboticabal: Faculdade e Cincias Agrrias e Veterinrias e Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, 1994. 253 p.

    MENDONA, S. R. de. O ruralismo brasileiro (1888-1931). So Paulo: HUCITEC, 1997. 219 p. (Coleo Estudos Rurais).

    MOREIRA, M. Desertificao: o grito da terra. Ecologia e Desenvolvimento, So Paulo: Terceiro Milnio, p.16-21, dez./jan. 2000.

    PAIVA, R. M.; SCHATTAN, S. ; FREITAS, C. F. T. de. Setor agrcola do Brasil: comportamento econmico, problemas e possibilidade. Forense: USP, 1976. 442 p.

    RAMPAZZO, S. E. A questo ambiental no contexto do desenvolvimento econmico. In: BECKER, D. F. (Org.). Desenvolvimento sustentvel: necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1997. p. 157-188.

    RIBEIRO, M. A; NEILLI, M. M. V. C.; GALVO, P. M. C. do. Tipologia de modernizao agrcola: O exemplo do Estado do Rio de Janeiro. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRRIA, 15., 2000, Goinia. Anais... Goinia, 2000. v. 1, p. 287-288.

    SANTOS, M. Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia universal. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000, 174 p.

    SOARES, P. R. R. A modernizao agropecuria na regio Sul do Rio Grande do Sul. In: COLOQUIO DE GEOGRAFA RURAL DE ESPAA, 2000, Lleida. Anais... Lleida: Universidade de Lleida, 2000. 1 CD-ROM.

  • Impactos decorrentes da modernizao da agricultura brasileira

    CAMPO-TERRITRIO: revista de geografia agrria, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

    151

    SUETERGARAY, D.M.A. O Rio Grande do Sul descobre seus desertos Cincia & Ambiente, Santa Maria, v.11, n.1, p.65-70, jul./dez. 1995.

    ______. Desertificao: recuperao e desenvolvimento sustentvel. In: GUERRA, T; CUNHA, S. B. da. Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996, p. 249-289.

    SUERTEGARAY, D. M. A.; BERTE, A. M.de A. Poltica de florestamento em reas degradadas. In: ENCUENTRO DE GEGRAFOS DE AMERICA LATINA, 6., 1997, Buenos Aires. Anais... Buenos Aires, [s.n.], 1997. v.1,.p.1-9. il.

    VEIGA, J. E. da. Diretrizes para uma nova poltica agrria. In: BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento Agrrio. Reforma Agrria e Desenvolvimento Sustentvel. Braslia, 2000. p.19-35.

    ______. A face rural do desenvolvimento: natureza, territrio e agricultura. Porto Alegre: UFRGS, 2000. 197 p.

    WANDERLEY, M. de N. B. O campons: um trabalhador para o capital. Cadernos de Difuso de Tecnologia, Braslia: Embrapa, v.2, n.1. p.13 -78, jan./abr.1985.

    Paulo RobertoTypewritten Text*Recebido em 02/05/2006 Aceito para publicao em 19/07/2006

Recommended